O Discipulado de Alice Bailey
Foster Bailey

Alice Bailey é hoje um discípulo mundial ativo e um membro avançado do Ashram de seu Mestre, K.H. Ela morreu há 22 anos em dezembro de 1949 (escrito em janeiro de 1971) e hoje encontra-se livre de seus veículos etérico e astral. Agora ela atua no plano mental com o corpo mental que tinha quando morreu, mas que tal corpo tem crescido desde então. A.A.B. em algumas ocasiões atua como secretária pessoal K.H. Isto nos dá uma ideia, embora inadequada, de sua relação com ele. Ela está se preparando ativamente para a sua próxima encarnação, o que será muito em breve e está sendo cuidadosamente planejada.

Os anos anteriores do surgimento de seu trabalho discipular foram descritos em sua autobiografia; mas muitos aspectos significativos e úteis de seu treinamento como discípulo nunca foram contados. Eu estava perto da maioria deles, mas são muito poucos daqueles dos quais lhes posso falar.

A informação que eu torno pública a faço apenas como uma ajuda para compreender certos aspectos do trabalho discipular em determinada etapa. A personalidade de A.A.B., como conhecemos, pouco importa agora. Ela sempre se opôs a qualquer tipo de pretensão espiritual, e ainda o faz, mas o registro de sua vida discipular pode ser útil para outros discípulos em muitos lugares. No próximo mês farei 83 anos de idade e certamente acredito que em breve passarei para os planos sutis. (F.B. morreu em 3 de junho de 1977 com a idade de 89 anos - MB)

O que eu escrevo agora pode ser publicado, se Mary considerar adequado. Nenhum discípulo deve tomar uma decisão unilateral sobre o seu trabalho se ele vai afetar a vida discipular de outro discípulo.

Por muitos séculos, a Hierarquia oculta tem ficado fora do plano físico vivendo como um grupo, mas alguns Mestres sempre têm vivido em corpo físico passando despercebido entre os filhos dos homens. Durante este tempo de ocultação, próximo a terminar, tais Mestres atuaram amplamente através de seus discípulos em treinamento, que em muitos casos foram iniciados em algum grau. A.A.B. é um desses casos.

A última encarnação de A.A.B. foi dominada por dois objetivos, um dos quais era particularmente seu, enquanto o outro foi a colaboração no trabalho de D.K. em sua pesada tarefa de fornecer os ensinamentos-ponte que ligariam a antiga Era de Peixes com a emergente Era de Aquário.

Ela veio à encarnação com o firme propósito de criar uma nova escola esotérica para o discipulado. Havia um crescente número de aspirantes ao discipulado com algum tipo de conhecimento esotérico, esse número aumentou significativamente com o trabalho do discípulo H.P. Blavatsky; mas ainda havia muito poucos treinados e efetivos, os discípulos aceitos. Se tivesse havido mais, a crise da Primeira Guerra Mundial poderia ter sido realizada nos planos mentais, sem necessidade de sua precipitação no plano físico. A Escola Arcana foi sua contribuição ao trabalho Hierárquico e foi aprovada por seu Mestre. No entanto, deve ser conhecido que a criação da Escola não foi a mando nem de K. H., nem de D. K. Este foi seu privilégio, ganhar ou perder na tentativa.

Sua cooperação com D. K. na produção dos Seus ensinamentos foi um assunto muito diferente. Nele, ela não era livre. Ela escreveu o que Ele escolheu para ensinar, não o que ela considerou útil. Na Escola Arcana ela escreveu e ensinou de acordo com sua própria sabedoria. Nos últimos anos, plena com os ensinamentos de DK, seu conteúdo mental inevitavelmente se alargou, e o que ela ensinou em sua Escola foi profundamente afetado por isto, já que se deu a mistura mais extraordinária e única do corpo mental da A.A.B. e do corpo mental agora utilizado por D. K. Como ela disse, os dois pilares que mantiveram todo o seu trabalho foram os livros e a Escola.

Em tudo isso, meu papel era, tão bem como pude, ajudá-la a realizar todo o seu trabalho com sucesso. Fui emprestado pelo Mestre M. a D.K. por trinta anos. Isso me deu um tremendo equilíbrio, neutralizou minhas características excessivas de primeiro raio e abriu o meu centro cardíaco, por pertencer a um ashram de segundo raio. Aprendi mais nesta encarnação do que em todas as precedentes. A maior parte disto veio até a mim através de A.A.B. Tão somente a convivência diária de muitas horas era um estimulante mental de grande valor. Ela tinha uma alma de segundo raio e uma personalidade de primeiro. Eu tenho uma alma de primeiro raio e uma personalidade de segundo. Isto assentou as bases para um trabalho equilibrado.

Em retrospecto, é claro que o maior serviço de A.A.B. foi subjetivo. Aqueles que melhor a conheceram e aqueles próximos de seu nível de desenvolvimento espiritual, sabiam muito bem disto. Outros, necessariamente, a reconheceram por suas muitas idas e vindas como conferencista e pela evidência de sua atividade física. Este poder subjetivo é uma capacidade natural de todo discípulo avançado, mas podemos aumentar o nosso impacto construtivo no mundo se utilizarmos nossas auras mais conscientemente e nossas vontades mais definidamente para conhecer as necessidades subjetivas daqueles que entram em nossas vidas. Eu vi Alice, uma vez ou outra, a conter forças antagônicas contra seu equilíbrio e integridade no trabalho da Escola Arcana, deixando, às vezes, calada e serenamente, que elas se esgotassem, e em outras as transmutando conscientemente. No entanto, também deixou em algumas ocasiões que o grupo sofresse, em certa medida, para o benefício de algum condiscípulo ou pelo potencial como desenvolvedores de qualidades discipulares. A construção de um grupo esotérico exige muito discernimento espiritual e um tipo de impessoalidade que é muitas vezes mal compreendido.

Uma das características marcantes de Alice foi a total ausência do desejo de controlar a forma de pensar de alguém. Persistentemente comunicava a verdade tal como ela a entendia, mas sempre se opôs à criação de um "culto ao Tibetano". Praticava a repetição, não porque era conveniente, mas porque era necessária para ativar as células cerebrais aletargadas. Esta ausência de desejo de controle permitiu-lhe se manter incólume quando os estudantes deixavam a Escola.

Eu sempre tive períodos de desânimo, contra os quais lutei tenazmente. Para ajudar-me, D. K. prometeu-me há muito tempo que meus últimos anos iam ser os melhores, o que provou ser verdade. Em outro momento, durante a Segunda Guerra Mundial, eu estava desanimado sobre o futuro do trabalho. D. K. então, me garantiu que a base já estabelecida seria forte o suficiente para o progresso do trabalho no pós-guerra. E isso também provou ser verdadeiro. Sou certamente o homem mais afortunado.

A integração subjetiva dos estudantes na Escola Arcana tem aumentado rapidamente nos últimos dez anos. Nossa utilidade como grupo agora é muito mais real, assim como nosso apoio à Hierarquia. O reconhecimento dos valores espirituais se aprofundou e está muito mais presente no grupo do que nunca. A aceitação consciente do grau de responsabilidade individual no desenvolvimento da humanidade tem emergido lindamente. A luz sobre o corpo grupal tem aumentado substancialmente. Muito mais estudantes na Escola conhecem dos assuntos mundiais do que nos últimos anos. Nossa utilidade no Novo Grupo de Servidores do Mundo está agora emergindo. Mais estudantes estão fazendo rápido progresso no discipulado consciente do que na época em que Alice faleceu. Isto é porque muitos de nós estamos sendo capazes de ir além de nossa separatividade no serviço. Nosso trabalho de meditação é estável e firme. Nossos estudos espirituais estão enriquecendo nossas mentes. Dos milhares de almas velhas encarnados hoje entre os mais jovens, muitas estão se filiando à Escola. Os esforços heroicos de A.A.B. estão dando frutos.

Apesar de todo o brilho do relato anterior, o grupo nem sempre tem navegado em águas calmas com ventos favoráveis. Este ainda é um mundo difícil em que trabalhar, mas há uma promessa real de um futuro melhor para todos nós.

Os trabalhadores podem se tornar pontos de bloqueio no fluxo das energias espirituais que podem ser invocadas por intermédio do grupo e, em muitos casos, como já aconteceu no passado, eles não tem consciência disso. A crítica pessoal é o veneno mais potente da vida grupal. Muitas vezes pensamos que a nossa atitude crítica é justificada. Persistentes esforços para impor seu ponto de vista individual no trabalho grupal têm estragado as relações de mais de um jovem discípulo com o grupo no qual deve trabalhar e com o qual deve fundir sua consciência discipular. É muito difícil ser tão impessoal como ser capaz de apoiar e trabalhar por aquilo com o qual não está de acordo, mas o sucesso do grupo e o aumento da utilidade do grupo é mais importante do que opiniões individuais. Isto eu tive que aprender da maneira mais difícil nesta vida.

Mesmo quando Alice estava desesperada para alimentar suas filhas, ela passava muitas horas da noite cuidadosamente lendo e meditando sobre o que havia lido. Ela estudou os Puranas e Upanishads da Índia e os ensinamentos do Bhagavad Gita e de Patanjali. Chegou a ter uma coleção de vinte e seis traduções do Gita. D. K. concordou com ela em produzir um livro sobre o Gita, semelhante àquele sobre os Yoga Sutras de Patanjali. (Este livro é A Luz da Alma.) Mas o seu abundante trabalho editorial a impediu de fazê-lo.

Realizou também um estudo profundo dos escritos de Blavatsky e dominou os ensinamentos essenciais da Doutrina Secreta. Suas palestras sobre a Doutrina Secreta e Ísis Sem Véu são verdadeiras joias, pois seu entendimento desses dois livros foi fenomenal. Ela aprofundou no fluxo dos escritos teosóficos, incluindo não só Annie Besant, mas também Steiner, Tingly, Heindel, Bhagavan Das, e muitos outros. Assim, construiu fortes princípios mentais e treinou-se no pensamento claro e no discernimento que lhe permitiram brindar uma mente de excepcional qualidade ao trabalho de D.K. Suas relações com a Seção Esotérica da Sociedade Teosófica lhe ensinaram muito do trabalho esotérico, particularmente alguns fatores inadequados de repetir. Os esforços A.A.B. para estender o movimento teosófico em direção a um campo mais útil e aumentar os elementos esotéricos nessa organização foram inspirados Hierarquicamente, assim como uma apurada preparação para seu trabalho posterior com D.K. Deste modo, o trabalho de D.K. com Alice foi muito mais fácil do que Seu trabalho com H.P. Blavatsky.

No entanto, ela estava determinada a ser uma mãe verdadeira com suas três filhas, e mostrou extraordinária paciência comigo. Eu sempre aprendi muito com ela. A.A.B. não tinha uma mente de quinto raio, mas estava interessada na exploração científica e no campo da física teórica. Foi então natural que ela fizesse sete palestras em Nova York sobre o átomo. Como sempre, ela tinha fundamentos para dizer o que disse nas palestras. Ela conheceu um pouco dos trabalhos de cientistas como Niels Bohr e Rutherford. O livro de suas palestras, A Consciência do Átomo, tem sido um best-seller por muitos anos.

O verdadeiro trabalho prático de fundar e organizar sua Escola Arcana não foi realmente possível até que ela se mudou para Nova York em 1920. Ela tinha começado a trabalhar com D.K. a quem contatou pela primeira vez em novembro 1919. Naqueles dias, A.A.B. tinha alcançado um relacionamento discipular com o seu Mestre K.H., relacionamento conhecido como "O Discípulo que está no Fio ou Sutratma". Ou seja, ela tinha o privilégio de pedir audiência com Ele. Para conseguir e obter assim uma entrevista que seu cérebro físico pudesse recordar, normalmente levava vários dias. Assim, conseguiu uma entrevista com K. H. para perguntar se devia ou não trabalhar com D. K. Isto lhe permitiu transcender suas dúvidas e temores. Mais tarde, estas entrevistas foram substituídas por uma relação ainda mais estreita.

Alice definiu o medo como a principal falta de sua personalidade. Ela disse temer o fracasso, as falhas, a que as pessoas pudessem pensar sobre ela, de ser julgada, e até mesmo da obscuridade. Este foi um impedimento real, que ela deixou para trás completamente. Seu corpo astral foi completamente destruído e reconstruído em sua última vida, e todos os centros na coluna vertebral foram abertos e se mantiveram funcionais. A atividade do centro cardíaco foi tremendamente aumentada. Mas ela literalmente deixou de se preocupar com o seu veículo físico, que em última análise só permaneceu vivo, para finalizar seu período de trinta anos de trabalho com D.K., com transfusões de sangue mensais, das quais eu me encarreguei, sob a supervisão de um médico, é claro. Foi um alívio quando ela terminou seu trabalho e pôde partir em dezembro de 1949.

Nova Iorque
Fevereiro de 1971

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