O Poder Criador da Desilusão

Paul Béquart (Fórum "O Poder Criativo da Desilusão")

Com o fim de examinar todos os aspectos do conceito de desilusão, começaremos por definir a aceitação comum, assim como certas referências filosóficas, antes de falar da desilusão em seu significado esotérico.

Este último sentido encerra o de uma perda, ao mesmo tempo, paradoxalmente, também o de um poder criador, cujo eixo principal tentaremos definir, bem como os diversos efeitos positivos.

A desilusão na linguagem comum e os meios de enfrentá-la

Na linguagem comum uma desilusão significa uma decepção, uma perda de imagem, cuja consequência é negativa, pois a volta ao real que se buscava com otimismo, produz uma privação penosa. Correntemente se diz “cair das nuvens”, ou que é preciso “esfregar os olhos” para ver melhor a realidade que enfrentamos. Sabemos, por experiência, que a gravidade de uma decepção é semelhante ao sonho contrariado. Quanto mais a imaginação nos fez ultrapassar a realidade, mais dura será a queda. Mas, o sentido comum não ignora que um fracasso é, às vezes, mais útil na vida que um êxito demasiado fácil. A adversidade aguça a necessidade de compreender. Neste sentido, admite-se bem facilmente a vertente positiva de toda desilusão.

Criança ou adulto, todos nós temos a capacidade de manter nossas ilusões. Esta resistência ao trabalho necessário para enfrentar a vida de frente tem sua origem no que a linguagem freudiana chama a dinâmica psíquica. Exercer o nosso discernimento e estimular a nossa autocrítica com o fim de esgotar a fonte de nossos sonhos não acontece sem perturbar nosso equilíbrio psíquico. Pois não arriscamos a perder os benefícios das nossas “preciosas” ilusões.

Quando o prestidigitador desvia nossa atenção para nos enganar, há, em certo sentido, necessidade de nossa cumplicidade. Geralmente ele a encontra porque necessitamos do feitiço que seus truques de magia nos proporciona, e quando o jogador de roleta sonha com ganhos improváveis, busca, geralmente, evitar por meio do jogo as rudes chamadas à ordem de uma dolorosa realidade. Quando a criança se entrega aos contos fantásticos que a maravilham, ela se introduz nos seus sonhos e nada mais pede além de crer neles. Sua capacidade em tornar prosaica a menor magia não é somente debilidade ou nulidade, mas que pode se constatar que produz um mecanismo inverso: o da maravilha que reclama o máximo de inverossimilhança a fim de permanecer, a todo o custo, na ilusão tranquilizante, a qual alija os medos ou as decepções do cotidiano e que acalma as angústias.

Em todas estas resistências a permanecer desperto, atento e crítico frente às mistificações, manifesta-se um mecanismo psicológico de rechaço à desilusão que a criança procura, sob o encanto da fantasia, e o adulto enfeitiçado pelo jogo, dos “evidentes” benefícios, ou seja, uma espécie de bem estar suplementar que apresenta uma aparência de realidade. A psicanálise também contribuiu para melhor conhecer essa classe de “benefícios secundários” que mantém as ilusões e entorpecem o progresso da consciência da pessoa que analisa. Entretanto, não há que confundir com os “benefícios primários” que causam uma ilusão e estruturam uma neurose pela necessidade imperiosa de evitar a angústia.

Até este momento repassamos o sentido mais extenso da desilusão do que o sentido comum dá a este conceito. Agora é preciso penetrar mais no mundo ilusório para extrair os mecanismos mais essenciais, consagrando a continuação de nossa reflexão à desilusão considerada sob o ângulo filosófico, depois segundo uma metodologia esotérica com orientação espiritual e também em suas consequências na evolução individual e coletiva. Certamente, estas podem ser consideradas como negativas, mas podem ter, ao inverso, uma virtude criadora na continuidade de um caminho consciente e voluntariamente consagrado a uma busca escatológica da verdade.

Filosofia da desilusão

Segundo o ponto de vista filosófico adotado, combater a ilusão tem ao menos este caráter comum a todas as situações de uma busca da verdade contra o erro, à luz de uma orientação filosófica à qual alguém adere mais ou menos explicitamente. Compreende-se que as diversas filosofias construídas ao longo dos anos por eminentes pensadores jamais puderam pôr-se de acordo sobre o que cada um definia, à sua maneira, como a única realidade verdadeira a opor aos que a contradiziam. Como estamos no Século XXI, tributário de um aporte filosófico marcado pela psicanálise e pela política econômica, devemos sublinhar que Freud e Max orientaram seus trabalhos para uma denúncia daquilo que cada um deles, em seus respectivos âmbitos, considerava como ilusório; uma representação falseada por um psiquismo dominado pelo consciente por um lado, e uma ilusória teoria dos benefícios por outro. O conceito de alienação lhes é comum, embora com acepções diferentes, no sentido de um processo pelo qual o ser humano vai se tornando estranho a si mesmo.

Para completar, poderíamos retomar o trabalho dos filósofos de todas as épocas, e também dos cientistas. Pois também Platão no Século IV AC, e seus posteriores discípulos, como os neoplatônicos mais abertos aos aspectos místicos, puderam nos informar sobre nossos falsos conhecimentos. Do mesmo modo Diderot e d’Alembert, graças à obra monumental que empreenderam publicando a Enciclopédia no Século XVIII, que serviu de modelo a todos os dicionários de nossa época, deram um passo decisivo, ao serem os pioneiros de um progresso da informação. Isto não cessou de permitir o invento, ao longo dos séculos, de novas utilidades que, com os atuais computadores, nos dão acesso a todo tipo de disciplinas e nos convertem em buscadores da verdade.

Também deveríamos mencionar todos os trabalhos dos cientistas que, desde Galileu, ou seja desde que a ciência pôde afirmar seu “status” frente à ditadura de teólogos retrógrados, avançaram não só pelo caminho das ciências exatas, mas também na direção das ciências humanos, despojando-nos de muitos prejulgamentos e desconhecimento. Outros pensadores, mais contemporâneos, dirigiram seus trabalhos para uma busca relacionada com a fonte de outras ilusões, mas desta vez no âmbito da crença religiosa. A ideia que se desprende de tudo isto é que assistimos a modificações que concernem à fé religiosa, expressando-se às vezes não só por meio dos temas adotados, repetidos e por vezes tratados novamente pela “nova era”, mas também, em compensação, por reflexões de natureza esotérica, nascida a partir de círculos antroposóficos que Foster Bailey resumia descrevendo-as como que “aparecia uma nova possibilidade, no terreno religioso e filosófico”, ao redor de uma “atitude mais científica”. É esta introdução às ciências ocultas e ao ensinamento do Tibetano, pela dedicação de Alice Bailey, que vai nos permitir extrair as novas perspectivas que inaugurou, ao levantar o véu das ilusões transmitidas por opções religiosas pertinazes a se desprenderem de seus arcaísmos.

Metodologia esotérica aplicada ao conceito de desilusão

A primeira das desilusões a dissolver, desde o começo do ensinamento esotérico – eliminada por uma bofetada – é que a telepatia é uma mistificação. Pois, com assombro do homem do Século XX, o essencial da obra de Alice Bailey que começou a ser escrita a partir de um contato direto com o Tibetano na Califórnia em novembro de 1939 é, que, nos trinta anos que se seguiram, foi transmitida seguindo um processo telepático. Alice Bailey pôde transformar progressivamente seu “mecanismo etérico” até o ponto de harmonizá-lo e adaptá-lo sem esforço à fonte de sua inspiração, o pensamento do Tibetano, presente à medida que se desenvolvia sua obra, do que ela mesma ficou surpresa. Até o final comentava a sua estupefação ante as ideias que obtinha graças ao contato mental com o Tibetano. Podemos apostar que bom número de nossos contemporâneos estaria surpreso, alguns até consternados, de verem pessoas com reputação de seriedade crerem neste tipo de possibilidade de transmissão de pensamento, tão alijado das normas científicas aceitas habitualmente. Entretanto, cientistas e filósofos entre os mais sérios e famosos, tais como David Bohm, René Tom, Fritjof Kapra, J. E. Lovelock e, muito próximo de nós, Hubert Reeves, para não citar mais alguns, souberam se abrir para novas realidades que um cientismo estreito houvera relegado ao terreno depreciável de um obscurantismo de “iluminados”.

Citemos particularmente um biólogo contemporâneo, Rupert Sheldrake, quem, numa obra intitulada “O Sétimo Sentido”, revisa o conceito de “percepção extrassensorial” demasiado marcada pelo paranormal. Para ele o sensorial está longe de ter entregue todos os seus segredos. Recorrer ao paranormal lhe parece inadequado, fazendo derivar fenômenos não explicados para um “sobrenatural” que uma biologia moderna poderia facilmente integrar a um “natural” explorado com novas aberturas. Um capítulo consagrado à telepatia definindo-a como uma transmissão direta de impressões subjetivas à distância, negada por muito tempo pela ciência oficial, trata, por exemplo, dos seguintes temas:

1 – Captação de pensamentos e de intenções.
2 – Transmissão de pensamentos no laboratório.
3 – Chamadas telepáticas.
4 – Desejos distantes e chamadas de angústia.
5 – Sensações de ser observado.
6 – Telepatia por telefone e também por e-mail; por exemplo: “Penso em um amigo na Austrália e recebo um e-mail que provavelmente foi escrito no momento em que me veio este pensamento”.

Que um biólogo, por sua formação e reputação, possa defender tais comunicações à distância, não faz mais que levantar polêmicas entre cientistas de orientação bem mais acadêmica, persuadidos de serem os únicos em poder definir os critérios sérios do cientista, ou seja: os únicos em decidir como levantar o véu das ilusões, tal como eles as consideram como contrárias à sua definição do racional.

Seria muito longo para discuti-lo aqui, mas este tipo de repulsa, em nome da denúncia do que presumidamente está acima das capacidades de uma ciência da razão, coloca a questão dos critérios da verdade científica. A filosofia das ciências se interessa por isso, mas, definitivamente, cada um de nós deve decidir suas próprias opções. As que guiam os ensinamentos da Escola Arcana nos ajudam a imaginar o trabalho que deve ser empreendido para utilizar o poder criador da desilusão.

O poder criador da desilusão

Recordemos que o que a ilusão constrói, a desilusão destrói. Esta destruição consiste em operar sobre o plano mental desenvolvendo, à luz da alma, as qualidades da intuição e percepção espiritual. Intuição e percepção sutil são os meios de uma exploração que ultrapassa as aparências. Aos que colocam a questão do interesse que tenderia a abrir a investigação esotérica a outras realidades diferentes das de nossa vida cotidiana mais concreta, teria que recordar-lhes esta verdade “sistêmica”: que um sistema que vive num espaço fechado está, cedo ou tarde, condenado. Esta afirmação legitima seguramente não somente as aventuras do espaço, mas também, a nosso ver, muito especificamente, a investigação espiritual quando abre o leque religioso para além de todos os sistemas teológicos fechados sobre si mesmos.

O esoterismo não pretende o mesmo “status” científico que o das ciências exatas. Seu campo de investigação é o das ciências humanas, ou seja, um conhecimento orientado para o sentido a ser dado a toda coisa, a todo ser e a todo acontecimento a partir do que eles revelam. A exatidão que ressalta disto deveria ser verificada pelos fatos. “Conhecer”, esotericamente falando, é compreender e captar a essência, a causa e os acontecimentos como matéria de experiência que abrem passagem para a consciência. É uma exploração do conhecimento específico e global ao mesmo tempo: um trabalho mental de “conhece-te a ti mesmo” considerado como um ideal de serviço grupal, tanto para cada buscador individual, como que uma exploração em direção à Alma do Mundo (a “Anima Mundi”).

Em toda exploração, um método se impõe. O que o ensinamento do Tibetano tem contribuído a instaurar pode ser resumido em três pontos:

Primeiro ponto

Assim em cima como embaixo, segundo o princípio científico da homologia. Então conceberíamos o universo como um cenário nomológico: ou seja, como um processo que se desenvolve segundo um plano preestabelecido, no qual os diversos conjuntos ou planos são semelhantes uns aos outros por transformação.

Um exemplo de homologia entre o menor e o maior, por exemplo a terra e o céu, nos é dado pela astrologia. Há muito tempo na História da Humanidade, há cerca de cinco mil anos, compara-se o estado do céu para relacioná-lo com os acontecimentos na terra. Vemos aqui, então, a intuição se expressando numa espécie de arte divinatória, que realiza uma comparação entre signos celestes e realizações terrestres. Esta maneira de relacioná-los na unidade de uma compreensão astrológica, aparece como uma convicção de que um laço une o conjunto de componentes do sistema solar, e que o corpo etérico da humanidade é um aspecto do corpo etérico do planeta, ele mesmo integrado com o corpo etérico do sistema solar. É a mesma convicção de que os eventos cósmicos representam qualidades simbólicas que podem se reencontrar nos eventos humanos ou terrestres.

É deste modo como as múltiplas partes de um Todo (num processo de ajuste do tipo “bonecas russas”) (*) possuem cada uma as características do Todo. A totalidade se encontra, portanto, em todas as suas partes. Dito de outra maneira: o Todo está em tudo.

Segundo ponto

Esta constatação nos permite enunciar uma segunda consequência do método escolhido, ou seja, que é necessário distinguir, com toda consciência, o Real e o Irreal. Na perspectiva do ensinamento, o Real está “acima” e o Irreal “abaixo”. Esta topologia no espaço é evidentemente interessante de aceitar por seu valor descritivo. A ilusão consiste em preferir o menos real que é o polo manifestado do mais real que é o polo não manifestado.

Terceiro ponto

A relação entre Espírito e Matéria está em conceber a unidade energética, em cujo seio se expressa uma continuidade que o postulado seguinte resume: “A matéria é o espírito em seu ponto mais baixo de manifestação, e o espírito é a matéria no seu ponto mais alto”. Trata-se de uma continuidade vibratória ou escalonamento de estados sucessivos que vão da matéria ao espírito e vice-versa. São para serem concebidos dentro da unidade da “Vida Una” e numa continuidade que exclui toda barreira separatista. A ilusão do separatismo (separatividade) provém de uma visão dispersa da manifestação, contrariamente do que depreende da Lei de Síntese.

Poderíamos considerar estes três pontos como representações que podemos ter daquilo que relaciona a unidade divina e a multiplicidade da manifestação. Neste sentido Alice A. Bailey reserva um conceito específico para a matéria, tal como o materialismo a representa: a denomina “substância”, explicando que este conceito não inclui a sutileza do éter, que está implícito no conceito esotérico de matéria.

Em razão deste método ensinado pelo Tibetano, que duas grandes ilusões compartilham o risco de uma representação falsa da Natureza, tal como se revela e nos é revelado (esta expressão “nos é revelado” se refere aos grandes reveladores históricos que foram o Cristo e o Buda), que são a do separatismo e a que conduz ao desconhecimento do real.

1 – A ilusão do separatismo

Resulta da infinita diversidade que se apresenta à criança desde seu nascimento, depois ao adulto capaz de defini-la e estudá-la cientificamente. A criança, recém nascida, é confrontada com a necessidade de se separar de sua mãe, com a qual estava estreitamente unida. O homem, convertido em adolescente e depois em adulto, deve experimentar também a ausência e a separação no nível afetivo. Sua vida exige que desenvolva qualidades de observador do mundo que o rodeia e do que toma a perspectiva necessária para sua maturidade psicológica. Alijamento, perspectiva, separação, são experiências cotidianas, possivelmente sobre um fundo de nostalgia do período de fusão: talvez a reminiscência atávica de uma unidade primordial. A humanidade teve de fazer, passo a passo, a experiência da multiplicidade na qual a modernidade lhe proporciona a ocasião de captar todas as dimensões.

2 – A ilusão relativa ao Real

Ao tomar a vida encarnada no físico como mais real que o mundo sutil, em direção ao “Ponto de Luz na Mente de Deus”, ou mais ainda ao “Centro onde a Vontade de Deus é conhecida”, o homem em suas filosofias mais materialistas está se alijando do que a Grande Invocação chama o “Propósito” divino. Deixando de lado a verdadeira Realidade corre, então, o risco de comprometer gravemente “o Plano de Amor e de Luz” em sua compreensão e em seu prazo de realização.

Quando abandonamos a luz dos seres e das coisas, vivemos da obscuridade do ilusório. Se nossa consciência, polarizada no mental, é capaz de emergir da desilusão que se produz, contribuirá para criar as condições de um retorno à verdadeira realidade. Este trabalho criador, gerado pela desilusão, situa-se no mesmo terreno mental que também gera o ilusório. Ao ignorar as condições de uma finalidade orientada para a maior consciência possível, ou seja, para um mundo sutil frequentemente considerado como irreal, a humanidade poderá permanecer encerrada por muito tempo nesta “grande ilusão” assentada fundamentalmente sobre uma realidade vivida contra a corrente. Ao contrário, se a humanidade promovesse, na sua história ordinária ou em seus momentos de crise – como vulgarmente expressa um refrão popular “ante má fortuna, grande coração” – a evolução de todas as vidas encarnadas, convergiria mais rapidamente para a finalidade redentora da matéria pelo espírito, na unidade fundamental que os reunifica. Tornaria possível o Reino de Deus sobre a terra, a ponto de efetivar a nova era, esta “new age” de que tanto falam sem estar nela os atores, no sentido iniciático. A má Fortuna a que nos referimos aqui se refere à antiga divindade do destino. É uma ocorrência que nos é familiar. E o “bom coração” como oposto, segundo este dito popular, não é outro que a energia do coração. Desta maneira uma compreensão justa do Amor concebido como energia de união, de coesão e de continuidade, permitiria combater as ilusões que dividem e desordenam até o ponto de produzir dramáticos processos de ruptura.

Novamente nos encontramos com a ilusão do separatismo que no princípio distinguíamos deste segundo erro de juízo que consiste em tomar o “Real pelo irreal”, e vice-versa. Em suma, duas ilusões que são a mesma coisa. O mesmo ocorre com aquele asceticismo que assinalávamos anteriormente relativo à telepatia em sua formulação mais esotérica, ou seja, a existência de uma continuidade de pensamento entre seres com individualidades separadas. Esta possibilidade telepática atribuída ao mental superior não é outra coisa, na verdadeira acepção do Real, que a afirmação de uma realidade desconhecida. A continuidade que relaciona, no nível mental, os pensadores do mudo, forma parte do Real mais autêntico, e sua negação demonstra uma má compreensão susceptível de produzir uma das mais graves ilusões de separatismo.

Uma primeira abordagem destinada a descartar as ilusões é a de deixar que desapareçam, que se dissolvam na luz da alma. É uma das vias possíveis, mas tem o inconveniente de evitar um trabalho necessário nas zonas de sombra que inevitavelmente acompanham as zonas de luz em nosso mundo dual. Chegar a ser criador a partir da desilusão é ancorar o trabalho esotérico nestas zonas de sombra para produzir melhor e fazer emergir a verdade. A mesma dinâmica está presente por sua vez no trabalho contra a ilusão do separatismo e na confusão que faz tomar o irreal pelo real. Não vem um processo único de desconhecimento revelar finalmente todas as ilusões esotericamente definidas? Este processo único, tal como Alice Bailey o definiu, é a “Grande Ilusão”. A que faz aquilo que está represado se desviar para a sombra produzindo todas as confusões, dirigindo todos que são vítimas para rotas divergentes, itinerários falsificados, caminhos desviados, com o grande prejuízo de uma justa compreensão do Caminho. A personalidade dos que ainda não estão polarizados mentalmente os conduz a atividades centradas no exterior, governadas pelas emoções: seja isto a esperança de alcançar objetos ilusórios ou, ao contrário, o medo de evitá-los.

Temos aqui o exemplo de uma complexidade inútil, a que resulta de uma ilusão na qual fundamentam todas as demais. Dissipá-la é voltar à simplicidade: aquela que vai revelando todos os véus da aparência, vivendo plenamente a percepção da Vontade única, do Amor e da Sabedoria que ela implica e da inteligência do coração quando por fim encontra o caminho da verdade. Esta verdade é a que resume a essência de nosso ser, a que nos converte nos testemunhos da Inteligência divina ou, como afirmava um filósofo grego do primeiro milênio (Plotino), quando fazia de cada um de nós “a pegada do Uno” nesta vida encarnada.
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(*) Bonecas russas, uma das expressões artísticas populares mais tradicionais da Rússia. As pequenas bonecas, "matriushkas", são ocas e pintadas a mão, contendo uma dentro da outra, cada uma com as mesmas características, embora diferentes. Normalmente são 7 bonequinhas aninhadas uma dentro da outra. (N.T.)

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