Navegação

DIÁRIO SECRETO DE UM DISCÍPULO


Diário Secreto de um Discípulo - Vicente Beltrán Anglada

CAPÍTULO VII

MEU PRIMEIRO CONTATO DÉVICO

A primeira vez em que tive o privilégio de estabelecer contato com uma Entidade dévica era ainda muito jovem. Ocorreu durante um sonho e posso dizer que, embora ainda não houvesse adquirido autoconsciência nos níveis astrais, a imagem daquele sonho ficou presente na minha memória durante muitos anos, mas, segundo me disse o Mestre passado certo tempo, aquela experiência de contato havia sido como uma pequena Iniciação no decorrer do processo mágico que, imposto pelo SENHOR do MUNDO, deveria culminar na unificação dos homens com os Devas no interior do corpo místico da Terra e no engrandecimento da aura planetária. 

O sonho a que me refiro não foi complicado nem espetacular, mas bem mais simples e em um espaço onde tudo era Luz. Eu me vi frente a uma Entidade resplandecente, plena de paz e majestade. Estava como que flutuando diante de mim e, embora me esforçasse para vê-la, me era impossível distinguir Suas feições. A luz que emanava do Seu rosto era tão intensa que ofuscava. Notei, entretanto, que paulatinamente ia desaparecendo da Sua face aquele resplendor que me cegava e pude perceber uma Forma aparentemente humana que me estendia Seus braços como se quisesse me abraçar. Não vacilei em me aproximar e senti como Sua cálida e dinâmica influência penetrava dentro de mim, dando-me uma estranha sensação de vivência totalmente desconhecida. Pude contemplar Seu rosto, emoldurado dentro de uma flutuante cabeleira dourada como os raios do sol. Seus olhos eram grandes e luminosos e irradiavam amor e benevolência, mas segundo pude apreciar carecia de pupilas. Eram como umas aberturas por onde fluía um poder magnético extraordinário, realmente indescritível, mas que ao mirá-las me causavam a sensação de que refletiam meu próprio ser, deparando- me com uma noção completamente diferente de mim mesmo. Depois de abraçar- me durante uns momentos, fez um gesto como de benção e se afastou de mim, fundindo-se com o espaço. Ao despertar deste "sonho", era tanta a minha alegria e tanto o dinamismo que se irradiava do meu ser, que não consegui mais dormir durante o resto da noite. Compreendi que aquele sonho era uma realidade e que a visita deste Anjo irmão era talvez o prelúdio de experiências posteriores no decorrer do processo cármico, e que aquele silente Mensageiro dos mundos celestiais viera selar um pacto ou promessa com Seu místico abraço, um pacto mediante o qual eu me comprometia a unificar minha vida com a do Reino Angélico e a trabalhar com todas as minhas forças para que esta unificação fosse um ato de Serviço mediante o qual pudesse dar cumprimento a um destino marcado desde o Alto pelas leis inexoráveis de um Destino Cósmico...


CAPÍTULO VIII

A SERENA EXPECTATIVA

Tudo na Natureza segue um ritmo regular e cíclico, tudo se realiza sem esforço e sem dissonâncias. O único elo da grande corrente que falha é sempre o correspondente à Humanidade, o Quarto Reino da Natureza. A conquista da autoconsciência exigiu dos homens um tremendo e prolongado esforço, e a sensação deste esforço e seu prolongamento no tempo são uma das causas principais pelas quais os Anjos não puderam ainda se introduzir nos ambientes sociais da humanidade. Daí que umas das principais qualidades apontadas pelo Mestre como propiciadoras do contato dévico foram sempre a da simplicidade de mente, pureza de coração e moderação no uso das palavras. Nestas três simples regras circunscreveu sempre o Mestre o processo do reconhecimento dévico, o contato consciente com seu maravilhoso mundo e a ulterior fusão de auras, angélica e humana. Sintetizava as três regras em uma clara e inspiradora frase, SERENA EXPECTATIVA. A serena expectativa tem sido, desde o momento em que fui admitido no Ashram do Mestre, a nota-chave da minha vida, pois não há sentença que melhor reflita o propósito de um discípulo, cheio de nobres aspirações espirituais.

"Tanto para o contato dévico como para o treinamento iniciático, a serena expectativa é o verdadeiro Caminho interno” - nos dizia o Mestre. "Também para compreender o significado das minhas palavras ou o ritmo do treinamento, precisareis sempre do estado psicológico de serena expectativa. Os Anjos são vidas muito distintas dos homens em certos aspectos, embora todas as correntes de vida dimanem do Coração silente da Divindade. Não podeis vos aproximar deles segundo os métodos de juízo analítico utilizados em vossos ambientes sociais, os quais às vezes são muito complicados, mas vos sujeitando à Lei que rege seu mundo, que é de paz mas também de um incrível dinamismo. Eles são as forças da Criação, são a eletricidade, o fogo vital que mora no espaço e o extraordinário dinamismo que rege a vida substancial de todos os seres e todas as coisas dentro do "círculo-não-se-passa" solar. Existem em todos os Planos e em todos os níveis. Daí o grande enunciado esotérico ‘há um Deva para cada homem e um homem para cada Deva’, que parece selar esse pacto de amizade suprema que, em etapas posteriores, unificará os Anjos e os homens em um só Reino".

Esta multiplicidade infinita de Entidades dévicas, que se estendem desde os grandes e exaltados Mahadevas do Sistema até os humildes elementais construtores da Natureza que constroem os agregados mais densos da matéria, constituem um campo de observação necessário e maravilhoso para os discípulos espirituais.

Na atualidade - e falo de um ângulo muito concreto e positivo de experiência ashrâmica - grandes contingentes de Anjos se introduziram em certos níveis da Aura planetária, de onde estão trabalhando para o processo de unificação, arraigando nas mentes e corações dos homens e mulheres de boa vontade do mundo os germes da paz e do equilíbrio social. Os planos ordenados pelo Senhor do Mundo vão se cumprindo assim, lenta mas incessantemente, nos ambientes sociais da humanidade, acendendo dentro dos seres humanos a chama perene de afeto e compreensão de que a humanidade tanto necessita nos nossos dias.

Ao perguntar um dia ao Mestre pelo significado íntimo da serena expectância, nos respondeu que... "A serena expectativa surge da intenção espiritual ou propósito monádico, mas para que esta intenção possa se introduzir na alma, precisa dos dotes de atenção natural previamente desenvolvidas - ao menos até certo grau - pelos discípulos espirituais do mundo. A linha de comunicação entre a intenção espiritual e a atenção mental se encontra no centro Ajna, tendo este centro sua dupla vertente: uma de caráter superior que ascende para o centro coronário e outra inferior que desce para o centro cardíaco, a sede principal do trabalho do discípulo.

A atenção mental deve reger os nobres impulsos do discípulo, o qual precisa estar atento a tudo que ocorre dentro e fora de si mesmo, para que nada passe desapercebido da sua observação consciente. Trata-se, como vereis - continuou o Mestre - de uma regra psicológica que pode ser aplicada por qualquer ser humano à extensa rede de problemas e dificuldades que regem sua existência cármica. Observai, porém, que esta regra de atenção não deve ser confundida com uma mera disciplina meditativa ou com um simples exercício de yoga, a que muitos seres humanos estão tão aficionados atualmente, mas que é uma regra social de convivência. Estar atentos é um dever humano, não uma mera disciplina visualizando alguma meta de desenvolvimento psíquico. Estabelecei claramente esta diferença e aproveitai esta compreensão. Na medida em que vossa atenção vai se estendendo para todas as áreas do ser, na medida em que a intenção monádica possa estar consciente dos três mundos do esforço humano através da profundidade da vossa atenção, ireis vos apercebendo de coisas, de reinos e de mundos que constituem misteriosas incógnitas ou lugares sagrados, velados à vossa investigação espiritual. Porém, na assiduidade e profundidade da vossa atenção ireis resolvendo com êxito vosso intento como discípulos. Resumindo... - disse o Mestre finalizando Sua resposta à questão formulada - a serena expectância é a intenção de Deus expressando através da atenção do homem Seu sagrado intento de ser consciente da vida da humanidade, para liberá-la dos acontecimentos cármicos e elevá-la depois ao mais glorioso e elevado destino".

Início