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A HIERARQUIA, OS ANJOS SOLARES E A HUMANIDADE


Capítulo X

RETORNO DA ALMA A UM NOVO NASCIMENTO APÓS O PROCESSO DEVACHÂNICO

A Encarnação da Alma Humana depois do Devachan

A quem tiver seguido atentamente o processo devachânico considerado amplamente suas características especiais de "repouso da Alma" após um processo ativo de vida ou ciclo de encarnação, ocorrerá imediatamente a pergunta sobre qual é o processo seguinte ao da vida devachânica. Logicamente, e constantemente empregando a analogia, devemos considerar que, do mesmo modo que a um processo de atividade, seja em que nível for, corresponde um período de repouso, a um processo de repouso também se segue um de atividade.

Veremos de que maneira inicia-se para a Alma humana o novo processo' de atividade, uma vez finalizado o ciclo devachânico. No começo, ela é vista imersa em um sonho muito profundo, no qual não é consciente de nada. A esfera devachânica reduziu-se até converter-se em uma espécie de aura envolvente, mas sem cor ou matizes, isto é, sem desejos nem sonhos e, portanto, sem força alguma para realizá-los. Nesse estado, vê-se como vai descendo, paulatinamente e "de cima", um sutilíssimo fio de luz proveniente do Anjo Solar, até penetrar na Alma humana e ir despertando em seu coração místico o Propósito Superior ou anseio de vida. Nesse momento, a Alma começa a ser consciente de si mesma novamente, deixou de "sonhar" pela consumação dos desejos gerados em uma existência anterior, começando a considerar-se de novo "assim como era antes do processo devachânico". Em Almas muito puras, essa recordação ou consciência de si mesma aparece com tanta nitidez que adquire, automaticamente e com conhecimento de causa, a ordenação e direção do novo estado. Sua visão volta-se em seguida para o Anjo Solar e, dos lábios imortais Dele, surgem novamente as palavras mágicas que são a essência de todo Sacrifício Solar ou Cósmico: "Seja feita a tua vontade." O Anjo Solar, cuja memória infinita guarda a lembrança de todas as existências anteriores da Alma a que "agasalha, protege e vivifica", sabe desde sempre qual será o novo destino. As condições ambientais, a qualidade do mecanismo que deverá ser empregado, o país onde deverá nascer, a posição social, tudo está claramente traçado no novo destino que o Anjo Solar projetou para a Alma do homem. Como pode-se ler nos livros secretos da Loja Branca, "o Anjo Solar vê o fim desde o princípio" e essa verdade aplica-se não só a um novo nascimento ou etapa de encarnação, mas abrange a enorme série de encarnações e períodos devachânicos da Alma, desde o próprio momento da individualização até a consumação total da Alma humana no grande Mistério da Quinta Iniciação, em que o Anjo Solar, liberado do peso de sua dívida de Amor e de Sacrifício, retorna ao Grande Coração do Sol.

O projeto de uma nova vida, ou de uma nova encarnação, pressupõe que a Alma humana saia de um sonho e enfrente uma realidade, a realidade de si mesma frente a uma nova ordem de coisas e de situações. Isso envolve um fato muito importante: recuperar a consciência de veículos, o que é realizado mediante a atividade dos "átomos permanentes" implicados na história da vida do homem. São átomos especializadíssimos e de qualidade misteriosa, cuja função é a de preservar a lembrança de todos os fatos e experiências da Alma através dos tempos. No ser humano, existem, quer em potência ou em latência, seis átomos permanentes plenamente desenvolvidos, um para cada veículo de expressão, seja utilizado ou não, que vão desde o átomo permanente físico, ao redor do qual cria-se o corpo correspondente, até o átomo permanente átmico, que está ligado com a Essência Monádica e guarda o segredo da própria Vida de Deus. No entanto, de acordo com este estudo, a nós interessam apenas os três átomos permanentes que estruturam os veículos físico, emocional e mental. Compreenderão que os veículos expressivos do homem, ou o Tabernáculo do Espírito Santo a que se referia o grande Iniciado Paulo de Tarso, dependerão da qualidade das recordações fornecidas pelos átomos permanentes, que registram em escala individual a Grande Memória Akáshica eternamente viva da Natureza, pois, do mesmo modo que uma Alma humana projeta-se para o futuro pela "lembrança viva de seu passado", um Logos Solar utiliza Seus átomos permanentes ou Registros Akáshicos com todo seu conteúdo universal para a criação de um novo Universo no final do Grande Pralaya, que é o sonho devachânico do próprio Deus. A analogia sempre deve ser empregada.

Em esquema e a grosso modo, daremos o processo de encarnação da Alma humana:

a) a atenção concentrada do Anjo Solar;

b) a consciência mais ou menos desperta da Alma humana, depois do processo devachânico;

c) a qualidade das lembranças fornecidas pelo átomo permanente;

d) as condições ambientais, os tipos de corpos a serem utilizados e as situações que deverão ser enfrentadas e desenvolvidas;

e) existência de um fator ou elemento primordial de caráter dévico do qual não se tem falado suficientemente nos estudos esotéricos e que, a nosso ver é de importância transcendental e ao qual vamos nos referir.

O processo pode ser considerado do seguinte modo: a atenção do Anjo Solar projeta um desenho, um arquétipo do destino humano, sobre a Alma que vai encarnar. Nessa atenção, vai implícita uma Nota, Mantra, Verbo ou Som a que a Alma humana responde com sua própria voz, a qual, atuando diretamente em cada um dos átomos permanentes, coloca-os em atividade vibratória. A esse clamor invocativo, atendem três tipos de Devas: um, do Plano Mental Concreto e do Plano Causal, começa a selecionar matéria afim com o chamado invocativo e cria em volta do átomo mental permanente o invólucro que progressivamente o converterá no veículo mental que o homem utilizará para pensar, recordar e discernir; quando a obra desse Deva estiver convenientemente cumprida, outro Deva começa a atuar no Plano Emocional, o qual, seguindo um processo semelhante ao primeiro, aglutina matéria astral afim com a qualidade vibratória do átomo emocional permanente até conseguir estruturar um revestimento capaz de reagir a qualquer atividade desse tipo. Essa estrutura abarca fases que vão dos desejos mais densos e materializados até o mais puro e elevado sentimento de integridade e beleza. Tudo dependerá da elevação da Alma humana e da qualidade das recordações ou experiências emocionais. A Nota típica da Alma, através dos átomos permanentes, encarrega-se de dar seu consentimento ou recusa a certos tipos de energia.

No Plano Físico, o processo, se bem que similar aos anteriores, sofre uma importante modificação que deve resultar na criação de um tipo de corpo específico, fato que implica um trabalho dos Senhores do Karma, através de Seus Devas Mensageiros, de seleção daqueles seres humanos que devem intervir karmicamente no processo físico de criação do corpo. Refiro-me aos pais. O processo físico, o mais denso, é, contudo, o mais importante sob o ponto de vista da "encarnação da Alma", pois implica a atividade direta dos Senhores do Karma "que retiram o desenho específico do Anjo Solar, onde estão contidas todas as lembranças da Alma, e criam as devidas condições físicas para as futuras atividades da Alma em encarnação".

O Deva Construtor do Corpo Físico é o "Anjo Guardião" que os clarividentes vêem ao redor das crianças e das mães que estão em processo de gestação do corpo físico da nova criatura. Esse Deva tem à sua frente um "desenho causal", mas as forças e energias com que trabalha são, se não mais sutis, ao menos mais complexas, pois atuam não apenas segundo um desenho espiritual da Alma Solar, mas também através de uma série de condições kármicas não ajustadas pelos Devas anteriores, que se limitaram a reproduzir a Nota vibratória dos átomos permanentes mental e emocional e a selecionar matéria de qualidade vibratória concordante em intensidade e harmonia.

Trata-se de um tipo de Devas muito especializados que participam do desenho do Anjo Solar e da influência direta dos Senhores do Karma, que suscitam, promovem, ordenam e ajustam o processo a condições muito exatas e inexoráveis. O fato de nascer em um determinado país, a cor da pele, ter ou não boa saúde, nascer pobre ou rico, dispor de faculdades ou ser privado delas, tem profundas repercussões na vida imortal da Alma e determina as futuras predisposições, qualidades e caráter dos veículos.

A partir desse desenho de vida plenamente organizada no âmbito social da Alma humana em encarnação, há certos processos que, para darmos uma ideia mais completa do que chamamos "ciclo de encarnação humana", trataremos de explicar esotericamente.

Resta analisar um momento culminante, o momento mágico em que se realiza, no interior da mãe, o mistério infinito da concepção. Esse momento, regido diretamente pelos Senhores do Karma através de Suas Hostes Angélicas, tem importância causal e é supervisionado diretamente pelo Anjo Solar em Suas meditações espirituais.

Quando os elementos paternos masculino e feminino cumprem sua missão, acontece a ação universal: o átomo permanente é introduzido pelo Deva Construtor na célula portadora dos elementos masculinos que, ao penetrar no interior do santuário feminino "eternamente puro e imaculado como a Mãe Natureza", fecha-se o primeiro ciclo da encarnação física da Alma humana. O átomo permanente converte-se em fator místico que promove todo processo posterior. Encerrado no claustro materno e sutilmente conectado com a Alma que vai encarnar, começa a reviver um processo rememorativo de experiências realizadas e faculdades adquiridas. Esse processo vem condicionado pela Nota permanente da Alma que, ainda semientorpecida pelo processo devachânico, assiste-o unicamente em função de síntese, ou seja, de propósito ou intenção de vida. O Anjo Solar, eternamente desperto e vigilante, dirige a função do Deva Construtor através da Nota típica do arquétipo desenhado por Ele e seguindo um processo rigorosamente kármico de "seleção de materiais afins com a intenção do ego a encarnar". De um certo modo, esse Deva Construtor atua como a Fênix da mitologia, que sempre ressurge de suas próprias cinzas. As recordações da Alma, concentradas no átomo permanente, são as cinzas que permitem avivar o fogo do propósito da Alma.

A primeira atividade do Deva Construtor é a de introduzir o átomo permanente no óvulo feminino. Efetuada essa operação que traz em si o Mistério infinito da Concepção, esse átomo converte-se no mecanismo básico do processo que deve dar origem ao corpo físico do ser humano. Sua vibração natural converte-se no impulso de contração e de dilatação que dará vida ao movimento de sístole e diástole do coração do corpo e é através desse órgão que, dia após dia, o que será o tabernáculo físico da Alma irá se desenhando e se estruturando até a sua realização completa. Agora se poderá compreender melhor o sentido da frase védica, por muitas pessoas entendida apenas parcialmente, que diz: "Do Coração Místico do Sol, surge a Vida que condiciona o Universo." É a analogia, onde está o poder mágico da compreensão, que deve levar à intuição perfeita e à própria realização. Através dela, convertemo-nos em pequenos deuses conscientes do próprio destino, em seletos microcosmos do grande Macrocosmo de que dependemos e ao qual nos dirigimos. E fácil saber sobre a Atividade de Deus, analisando criticamente nossas melhores atividades, sobre a grandeza de Seu Amor, observando a reserva inesgotável dentro do nosso coração, e sobre Seu Propósito magnífico e indescritível, quando observamos desapaixonadamente a orientação espiritual de nosso destino como homens.

O Grande Coração Solar, fonte da Vida do Universo, bate em nosso coração desde o próprio momento em que o átomo permanente, através do Deva Construtor, inicia o fenômeno físico da vida.

Avivada essa chama de Vida pelo desejo de ser e de viver da Alma, o processo de encarnação avança revivendo constantemente lembranças que são sementes de faculdades e deixando que o tempo, condicionado por ciclos imortais, permita ao Deva que complete Sua obra. E uma obra que esse Anjo realiza com dedicação amorosa, atenção profunda e delicadeza infinita. É a Obra de Deus. E pensar que o homem pode matar essa obra sem pensar e sequer suspeitar que é a Obra do Amor e do Sacrifício Cósmico!

Os ciclos do tempo regulam e condicionam os períodos históricos da vida do homem durante seu processo evolutivo. Assim, cada período representa um aspecto definido das recordações acumuladas no interior do átomo físico permanente, que se estendem desde a primeira lembrança de vida (a primeira manifestação do Espírito ou Mônada no homem em seu processo de expressão), até os últimos acontecimentos históricos ou físicos de sua vida neste Plano. Existem, pulsam e se agitam no coração de todo ser vivo nove períodos; são os que permitem expressar a qualidade característica de uma recordação ou estado evolutivo. Trata-se de uma constante memorização de acontecimentos que que se estende, como dissemos antes, até o princípio dos tempos, através de cada um dos Reinos da Natureza, das diferentes Raças e de todos os continentes, criando, assim, as situações requeridas que, renovadas vida após vida, um dia convergem na divina profundidade do Arquétipo Causal.

Isso permite que vejamos com maior clareza por que são nove os meses de gestação do corpo físico do ser humano no interior da morada mística materna. Com efeito, são nove os ciclos de tempo ou idades que correspondem à Impressão Cósmica, ou seja, a resolução das Três Trindades Essenciais, uma correspondente à vida da Mônada ou Espírito, outra à do Anjo Solar, resumida na Tríade Espiritual, e a terceira, que corresponde à Alma humana e manifesta-se através do veículo triplo de expressão: mental, emocional e físico. Quando falamos esotericamente de Sanat Kumara, O Senhor do Mundo, chamamo-Lo "O Senhor das Nove Perfeições". Por isso que, na linguagem mística, quando nos referimos ao homem segundo seu código numérico, atribuímos-lhe o número nove, sendo esse número o que misticamente promove a Iniciação já que, no que a Ela se refere, o nascimento de Cristo no coração é o aspecto superior do nascimento de qualquer criatura no mundo físico depois de finalizadas as nove etapas de recapitulação ou lembrança que dão lugar ao mesmo. Mediante a imaginação e tomando como base todas as particularidades implícitas no número nove, ou seja, empregando a analogia numérica, pode-se ampliar essa ideia consideravelmente.

Terminada a ordenação de um ciclo de vida que traz em si a essência viva de nove recordações, nove períodos, nove qualidades específicas e nove perfeições em latência, vem à existência uma nova unidade de vida humana.

O Deva Construtor realizou sua missão quase que inteiramente. O pranto da criatura recém-nascida emite um som especial que une mais fortemente seu coração com o Alento das Divindades Planetárias e com o da Alma que deve encarnar. A atenção do Anjo Solar então se aprofunda um pouco mais no desenho ou arquétipo da nova existência, ou do novo destino, e marca na consciência os aspectos principais ou dramáticos desse destino. Em seguida, imerge em profunda meditação e aparentemente deixa de intervir na evolução física do processo. Sua atividade, salvo quando a súplica for muito intensa, em etapas muito avançadas da vida ou quando as circunstâncias assim o exigirem, será a de mero observador do dramático processo da vida.

Em um nível intermediário, conforme a estrutura do corpo progride até permitir que a consciência emocional e a mental assumam certa importância na vida da criatura, a Alma em encarnação irá reduzindo gradualmente a distância, pairando cada vez mais próxima de seu veículo físico, porém sem introduzir-se nele. Quando o corpo físico tem a idade de sete anos, realiza-se um acontecimento espiritual com duas vertentes amplas e definidas: primeiro, o Anjo Construtor desliga sua aura da aura da criatura e volta às suas fontes dévicas de procedência, o coração místico da Mãe Natureza, reproduzindo, assim, um processo análogo ao que o Anjo Solar realiza retornando ao Coração do Sol, após cumprir Sua Missão de Perfeição em relação à Alma humana; em seguida, a Alma humana reencarna definitivamente no corpo e apodera-se do coração, da vida e da consciência do veículo triplo já convenientemente estruturado para a obra a realizar.

Do momento do nascimento até a idade de sete anos, cumpre-se um processo semelhante ao que rege a expansão da vida da Alma, ou seja, ao ciclo de nove períodos que configura o processo de perfeição da vida. O ciclo de tempo correspondente ao número sete contém a chave das energias e das forças que condicionam o Sistema Solar; daí o Mistério dos Sete Raios, dos sete planetas sagrados, das sete notas musicais e das sete cores que intervêm no processo de recapitulação da Alma em cada um dos períodos ou recordações que constituem as etapas místicas do caminho de retorno à vida, isto é, cada uma das moradas da Alma desde que encarna pela primeira vez até que enfrenta conscientemente o Caminho Iniciático e vê brilhar diante de si a Estrela de Sanat Kumara, cujas Nove Perfeições são para a Alma a única meta possível de todos os seus afãs, propósitos e intenções.

O que interessa é compreender a relação dos números sete e nove. O primeiro refere-se às energias, forças e veículos; o segundo relaciona-se aos estados de consciência. Da relação inteligente de ambos os fatores numéricos, deve-se retirar a chave mística ou simbólica que conduz à Iniciação. Iniciação é consciência, consciência renovada através de qualidades cada vez mais sutis e de recordações cada vez menos insistentes ou prementes. Com o exercício da lei de analogia, chega-se a um ponto de total equilíbrio que, passando pelo próprio centro da consciência, acrescenta paz, alegria e segurança.

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