A Convergência da Espiritualidade e Práticas Psicoenergéticas no Campo da Psicologia
Vincent Claessens (*)

A psicologia é uma ciência humana relativamente recente. Surgiu no final do Século XIX na Europa e nos EUA. Durante o Século XX, cinco correntes principais se desenvolveram. Para explicar essas diferentes abordagens da psicologia, Roberto Assagioli comparou a personalidade a uma casa: Os behavioristas estudaram o “exterior”, aquilo que é diretamente visível e mensurável no comportamento humano. Os psicanalistas sondaram os alicerces da casa, penetrando nas profundezas do inconsciente para explicar o que há nos traumas do passado que podem ter criado uma ferida narcisista, cujos sintomas aparecem de forma indireta no presente. A visão um tanto pessimista e reducionista do ser humano concebida pela psicanálise ortodoxa foi contrabalançada por um novo movimento na década de 1950, a psicologia humanista.

Os psicólogos humanistas não negam a existência do trauma infantil, mas, ao mesmo tempo, reconhecem a possibilidade de superá-lo com o auxílio de qualidades inerentes à consciência, como a empatia, a resiliência, a busca de sentido etc. da necessidade humana. Eles veem a “casa psicológica” como tendo vários andares.

A psicologia transpessoal emergiu desse conceito na década de 1960, explorando as dimensões espirituais da psique. A psicossíntese faz parte disso. É uma abordagem integrada do ser humano e uma visão espiritual que abre o estudo da psique a novas perspectivas. No topo da casa da psique podemos conceber um terraço que permite a observação e uma ligação consciente com o macrocosmo.

A psicoenergética é a quinta corrente que ganha popularidade atualmente. Estuda as interações e transformações de todos os tipos de energias, tanto microcósmicas quanto macrocósmicas. O estudo dos sete raios de energia e sua expressão psicológica faz parte desta nova psicologia. Essa compreensão pode nos levar a uma compreensão mais profunda de nós mesmos. Compreender melhor a nós mesmos nos permite não apenas transformar a nós mesmos, mas também ajustar nossas atitudes e comportamentos em nossas interações com os outros.

Ter uma percepção de como as energias universais se manifestam em nossas vidas pode levar a relacionamentos mais saudáveis. Por exemplo, podemos achar difícil entender o comportamento particular de alguém. Mas muitas vezes avaliamos essa pessoa a partir da perspectiva limitada de nossas próprias experiências e preferências pessoais, que formam um filtro através do qual observamos; isso cria nossa subjetividade, que por sua vez leva à nossa incapacidade de compreender os outros. Além disso, tendemos a interpretar o comportamento alheio pelo prisma de nossos valores e de nossa idiossincrasia psicológica, por isso é tão importante conhecer as forças e energias que nos condicionam para olhar o mundo com mais objetividade. O estudo dos sete raios contribui para uma melhor compreensão da complexidade de toda uma gama de atitudes e comportamentos psicológicos.

A psicossíntese transpessoal propõe exercícios que visam criar harmonia dentro e ao redor de nós, através de várias etapas de uma jornada que nos leva a realizar conscientemente nosso potencial espiritual, a fim de expressar os raios de energia em qualidades positivas. Certas técnicas de transmutação de energia usadas em psicoterapia têm um lugar importante na psicoenergética. Aqui o objetivo não é apenas o nosso bem-estar individual, mas também o nosso compromisso em melhorar o mundo (os dois estão ligados).

Qualidades espirituais como compaixão, benevolência e altruísmo estão começando a atrair a atenção acadêmica. A Universidade de Stanford criou o Center for Compassion and Altruism Research and Education (CCARE). Ele propõe uma abordagem para desenvolver a compaixão. Vejamos como isso se aplica à crise ecológica:

1. Responsabilidade: O que na minha vida está contribuindo para o sofrimento da Terra?
2. Sensibilidade: Visualize o fim do sofrimento humano, animal e vegetal e seus efeitos no futuro.
3. Motivação: Em que tipo de mundo quero viver (levando em conta o que o mundo precisa)?
4. Ação: Que ação posso tomar?

A compaixão nos permite evitar os becos sem saída da eco-ansiedade, do fatalismo ou da indiferença. Podemos então compreender a utilidade prática da psicologia transpessoal e sua extensão, a psicoenergética.

A psicoenergética não deve ser vista como uma disciplina desenvolvida exclusivamente a partir da psicologia. Para obter uma imagem mais completa, deve ser vista como baseada em várias disciplinas, como filosofia esotérica, astrologia, neurociência, ecologia e, até certo ponto, certas ideias da física quântica. A psicoenergética não considera o ser humano isoladamente.

Estuda-o em suas relações com seu meio social, com a natureza e com o universo. É aqui que ela se aproxima da ecologia, pois compartilha uma noção comum: a interdependência, que não é apenas um conceito intelectual, mas um fato real e observável do qual estamos nos tornando cada vez mais conscientes quando olhamos para a natureza e as mudanças climáticas.

A interdependência nos permite perceber a unidade orgânica entre vários elementos de um todo maior. Isso nos aproxima da visão holística das grandes tradições espirituais. Quer sejam ameríndios, budistas ou xamânicos, todos têm insistido na unidade essencial. O fato de que a interdependência de cada elemento que compõe nosso mundo está agora sendo revelada diante de nossos olhos deve nos ajudar a nos afastarmos da visão materialista e separatista que prevaleceu desde o século XVII em direção a uma visão mais inclusiva da realidade.

O materialismo científico ainda nos condiciona a pensar que a consciência emerge do cérebro, como se fosse o resultado da evolução da matéria cerebral. Mas este paradigma está mudando. Muitos pesquisadores agora admitem que essa concepção não pode explicar certos fenômenos psíquicos.

Neste momento de transição e múltiplas mudanças, nosso questionamento atual, nossas reflexões, nossas observações e nossas intuições tendem a questionar a abordagem puramente materialista. Uma revolução interior está em curso e grandes mudanças decorrerão desta abertura da consciência para valores mais humanos e espirituais.

‘A futura ordem mundial será a expressão efetiva da fusão do modo de vida espiritual interior e do modo de agir civilizado e cultural exteriormente.' (**)
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(*) Vincent Claessens é um praticante e treinador de psicossíntese, bem como autor do livro Les sept Rayons d'énergies en Psychosynthèse.
(**) Alice Bailey, A Exteriorização da Hierarquia

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