Estrutura da Obra do Tibetano
Meu Trabalho - Mestre Tibetano
Em 1919, durante o mês de novembro, fiz contato com A.A.B. (Alice A.
Bailey), e pedi-lhe para escrever para mim e também se encarregar da
publicação de certos livros que - de acordo com a divulgação seqüencial da
verdade - estavam prestes a aparecer. Ela recusou-se, de imediato, por não
simpatizar com a enxurrada de livros distribuídos ao público pelos vários
grupos ocultistas, por não ter experiência de escrever para o público e,
também, por sentir uma profunda aversão por qualquer forma de escrita ou
trabalho mediúnicos. Mais tarde ela mudou de opinião quando lhe expliquei que
o relacionamento telepático era algo comprovado e matéria de interesse
científico; que ela não era clariaudiente ou clarividente, e nunca o seria; e
que, acima de tudo, o teste da verdade era a própria verdade. Disse-lhe que,
se ela escrevesse pelo período de um mês, o material transcrito lhe provaria
se continha alguma verdade; se evocava a compreensão e o reconhecimento
intuitivos; e se tinha em si aquilo que poderia ser de valor na iminente nova
era espiritual.
Assim, ela superou sua aversão a este tipo de trabalho e a muitas das
apresentações ocultistas da verdade que eram predominantes. Ela somente
estipulou que o trabalho seria publicado sem quaisquer reivindicações, e que
os ensinamentos se destacariam ou fracassariam por seus próprios méritos.
OS LIVROS
O primeiro livro publicado foi "Iniciação Humana e Solar". Este foi
o resultado de seu primeiro esforço em realizar este tipo de trabalho, e o
ponto de partida para todos os livros que se sucederam. Desde então A.A.B.
escreveu para mim por quase 25 anos. Os livros foram publicados seguindo um
profundo propósito subjacente, o qual talvez seja interessante conhecer, e
receberam reconhecimento em todas as partes do mundo. "Iniciação Humana e
Solar" destinava-se a trazer à atenção pública o fato da Hierarquia. Isto
fora feito por H.P.B. por inferência e enunciado, mas não em forma
seqüencial.
A Sociedade Teosófica tinha ensinado o fato dos Mestres, embora H.P.B. (em
seus comunicados à Seção Esotérica) afirmasse que lamentava profundamente
tê-lo feito. Este ensinamento foi mal interpretado pelos líderes teosóficos
mais recentes, os quais cometeram certos erros básicos. Os Mestres descritos
por eles caracterizavam-se por uma infalibilidade impossível, porque os
Mestres estão, Eles próprios, em evolução. O ensinamento dado endossava um
absorvente interesse no autodesenvolvimento e uma intensa focalização no
desdobramento e liberação pessoais. Aqueles que eram indicados como iniciados
e discípulos graduados eram pessoas inteiramente medíocres, sem influência
alguma fora da própria Sociedade Teosófica. Enfatizavam também total
devoção aos Mestres - devoção às Suas personalidades, e estes Mestres eram
mostrados interferindo na vida organizacional dos vários grupos ocultistas que
proclamavam estar trabalhando sob Sua direção. Eles eram responsabilizados
pelos erros dos líderes dos grupos que se refugiavam em frases como: "o Mestre
mandou que eu dissesse..." ou "o Mestre quer que o seguinte trabalho seja
feit..." ou "o Mestre quer que os membros façam isto ou aquilo". Aqueles que
obedeciam eram considerados bons membros; aqueles que se recusavam a mostrar-se
interessados e obedientes eram olhados como renegados. A liberdade individual
era constantemente infringida, e as fraquezas e ambições dos líderes eram
desculpadas. Sabendo bem de tudo isto, A.A.B. negava-se a participar de
qualquer de tais atividades que constantemente se repetiam, pois assim é a
estória de praticamente todos os grupos ocultistas que atraem a atenção do
público. Tivesse eu querido trabalhar dessa maneira (coisa que ninguém
afiliado à Hierarquia jamais faz), e não teria encontrado colaboração de
sua parte.
Seguiu-se "Cartas sobre Meditação Ocultista", que indicava uma nova abordagem
à meditação, baseada não na devoção aos Mestres, mas no reconhecimento da
alma em cada pessoa. Depois veio "Um Tratado sobre o Fogo Cósmico", uma
expansão do ensinamento dado em "A Doutrina Secreta" sobre os três fogos - o
fogo elétrico, o fogo solar e o fogo por fricção - e que era uma seqüência
esperada. Ele apresentava, também, a chave psicológica para A Doutrina
Secreta e tem o propósito de oferecer material de estudo para os discípulos e
iniciados do final deste século (Séc. XX), e início do próximo, até
2.025.
Mais tarde, A.A.B. achou que seria de importância para mim e para o trabalho,
se ela escrevesse certos livros, úteis para os estudantes, independentemente
de transcrever meus escritos e notas, expressando-os no “inglês provocativo
do pensamento" que nós dois, juntos, desenvolvemos como um meio de
transmissão das idéias que é meu dharma tornar públicas. O sensitivo e
médium comuns não são, geralmente, dotados de grande inteligência, e A.A.B.
desejava provar (para ajudar o trabalho do futuro) que era possível alguém
fazer um trabalho definidamente psíquico e possuir real inteligência. Assim,
ela escreveu quatro livros que são inteiramente de sua autoria:
A Consciência do Átomo
A Alma e seus Mecanismos
Do Intelecto à Intuição
De Belém ao Calvário
Ela também escreveu um livro com a minha colaboração, intitulado "A Luz da
Alma", no qual eu dei a paráfrase em inglês dos Aforismos de Patanjali, em
sânscrito, e ela contribuiu com os comentários, consultando-me ocasionalmente
sobre o significado dos termos.
Seguiu-se, então, "Um Tratado sobre Magia Branca". Este foi escrito há alguns
anos e, à proporção que era escrito, era entregue, capítulo por capítulo,
aos estudantes adiantados da Escola Arcana apenas como material de leitura. Foi
o primeiro livro jamais divulgado para o treinamento e controle do corpo
astral, ou emocional. Muitos livros ocultistas têm sido escritos sobre o corpo
físico e sua purificação, e sobre o corpo etérico, ou corpo vital. A
maioria é de compilações de outros livros, tanto antigos quanto modernos.
Este meu livro, contudo, destina-se a treinar o aspirante moderno no controle
do seu corpo astral, com o auxílio da mente, à medida que a mente, por sua
vez, é iluminada pela alma.
0 livro seguinte foi "Um Tratado sobre os Sete Raios". É uma obra extensa,
ainda não completada. Está tomando forma em quatro volumes, dois dos quais
já publicados, um pronto para publicação, e um volume final que está sendo
escrito. Os volumes um e dois tratam dos sete raios e dos seus sete tipos
psicológicos, e assim estabelecem os alicerces da nova psicologia, para a qual
a psicologia moderna materialista como possa ser - forneceu uma sólida base. O
volume três é inteiramente devotado ao assunto da astrologia esotérica e é
uma unidade em si mesmo. Destina-se a apresentar a nova astrologia alicerçada
na alma e não na personalidade. A astrologia ortodoxa traça um mapa que
indica a sorte e o destino da personalidade e que, quando essa personalidade é
pouco evoluída, ou apenas medianamente evoluída, quase sempre é
surpreendentemente correto. Não é correto, todavia, no caso de pessoas
grandemente desenvolvidas, de aspirantes, discípulos e iniciados que estão
começando a controlar suas estrelas e, conseqüentemente, suas ações; os
fatos e acontecimentos em suas vidas tornam-se, então, imprevisíveis. A nova
e futura astrologia tenta dar a chave para o horóscopo da alma, porquanto ele
está condicionado pelo raio da alma e não pelo raio da personalidade. Ofereci
material suficiente para permitir aos astrólogos, interessados e com nova
inclinação, elaborar o futuro sob o ângulo desta nova abordagem. A
astrologia é uma ciência fundamental e extraordinariamente necessária.
A.A.B. nada sabe sobre astrologia; nem mesmo é capaz de armar um mapa, ou
dizer os nomes dos planetas e das casas que eles governam. Por conseguinte, eu
sou inteiramente responsável por tudo aquilo que está dito aqui e em todos os
meus livros, exceto, como expliquei antes, no livro "A Luz da Alma".
O quarto volume trata do assunto da cura e da construção do antahkarana - a
ponte que liga a Mônada à personalidade - e apresenta, também, as Quatorze
Regras que os que estão em treinamento para a iniciação têm que dominar.
Mais uma vez chamo a atenção para este último ponto, lembrando-lhes que
A.A.B. jamais declarou - em público ou em particular - ser iniciada, nem
jamais o fará. Ela sabe que isso é contrário à lei ocultista e está farta
de ver pessoas sem qualquer focalização espiritual ou capacidade intelectual
afirmarem tal coisa e o malefício decorrente, depreciando a idéia da
Hierarquia e a natureza do adepto aos olhos do público. Sou, pois,
inteiramente responsável pelas Quatorze Regras e sua elucidação e
aplicação. A.A.B. nunca pretendeu ser mais do que uma discípula laboriosa,
ocupada com o trabalho mundial (o que ninguém pode negar) e tem repetido
inúmeras vezes que a palavra "discípulo" é um termo legítimo e
incontrovertido (assim como verdadeiro) para ser usado por todos os graus de
trabalhadores na Hierarquia, desde o discípulo probacionário frouxamente
afiliado a certos discípulos nessa Hierarquia, até e inclusive o Próprio
Cristo, o Mestre de Todos os Mestres e o Instrutor de Anjos e Homens. Ela tem
sido sempre contrária, com minha total aprovação, à perniciosa curiosidade
quanto a status e títulos, o que é uma praga em muitos grupos ocultistas,
impelindo-os à competição, ao ciúme, à crítica e a exigências que
distinguem a maioria dos grupos ocultistas, que tornam fúteis tantas
publicações, e que impedem o público em geral de receber o ensinamento em
sua pureza e simplicidade. Status e título, lugar e posição não têm a
mínima importância. O que conta é o ensinamento - sua veracidade e seu apelo
intuitivo. Isto deve ser constantemente lembrado.
Os discípulos aceitos de um Mestre que chegam ao Seu reconhecimento a partir
do seu próprio interior - um reconhecimento corroborado pelos demais
discípulos, e usado pelo Mestre. Mesmo como uma condição factual - conhecem
seu Mestre, aceitam o Seu ensinamento, e entre eles próprios, falam acerca do
Mestre e o que Ele representa para eles, mas não no mundo exterior.
Os livros têm, pois, sido editados com regularidade há anos, e quando "Um
Tratado sobre os Sete Raios" estiver completo, um pequeno livro sobre miragem
estiver pronto para ser publicado e um livro sobre o discipulado na nova era
estiver nas mãos do público, o trabalho de A.A.B. para mim terá terminado.
Ela poderá, então, retomar seu trabalho no Ashram de seu próprio Mestre - o
trabalho de um discípulo.
A ESCOLA
A fase seguinte do trabalho que eu procurei ver realizado está agora
em funcionamento. Era meu desejo (como é o desejo de muitos que estão ligados
à Hierarquia) ver iniciada uma escola esotérica que deixasse a afiliação
livre na qual os membros não estivessem presos por promessas ou juramentos e
que - ao mesmo tempo em que orientando sobre a meditação e estudo e dava
ensinamento esotérico - permitisse que as pessoas fizessem seus próprios
ajustamentos; interpretassem a verdade da melhor maneira ao seu alcance; lhes
apresentasse os diversos pontos de vista; e ao mesmo tempo lhes comunicasse as
mais profundas verdades esotéricas que eles pudessem reconhecer, caso no seu
interior estivessem despertos para os mistérios, e que, quando lidos ou
ouvidos, não os prejudicassem, caso lhes faltasse a percepção para
reconhecer a verdade tal como ela é.
A.A.B. fundou uma escola assim, em 1923, com o auxílio de F.B. e outros
estudantes de visão e compreensão espirituais. Ela impôs como condição que
eu não interferisse na Escola Arcana e não exercesse controle sobre sua
política ou currículo. Nisto ela estava perfeitamente certa e eu dei total
apoio à sua decisão. Mesmo os meus livros não eram usados como livros-texto,
e somente nos últimos três anos é que um deles, "Um Tratado sobre Magia
Branca", foi adaptado para um curso de estudo, e isso devido aos insistentes
pedidos de muitos estudantes. Também, parte do ensinamento sobre o antahkarana
(que aparecerá num volume posterior do "Tratado sobre os Sete Raios") está em
uso há dois anos numa seção do quarto grau. O ensinamento sobre miragem
está sendo usado como material de leitura em uma outra seção.
Na Escola Arcana não se exige obediência, não se enfatiza a "obediência ao
Mestre", porque não há Mestre algum dirigindo a Escola. Enfatiza-se, isto
sim, o Mestre no coração, a alma, o verdadeiro homem espiritual no interior
de cada ser humano. Não se ensina teologia alguma, e o estudante não sofre
qualquer tipo de pressão para aceitar esta ou aquela interpretação ou
apresentação da verdade. Um membro da Escola pode aceitar ou rejeitar o fato
dos Mestres, da Hierarquia, da reencarnação ou da alma, e ainda assim,
permanecer nas boas graças da Escola. Não se exige, nem se espera lealdade,
quer à Escola quer a A.A.B. Os estudantes podem trabalhar em quaisquer dos
grupos ou igrejas ocultistas, esotéricas, metafísicas ou ortodoxas, e ainda
permanecer como membros da Escola Arcana. Eles são convidados a considerar
tais atividades como campos de serviço onde podem expressar qualquer ajuda
espiritual que possam ter ganhado através do seu trabalho na Escola. Alguns
líderes e antigos trabalhadores em muitos grupos ocultistas estão também
trabalhando na Escola Arcana, mas sentem-se perfeitamente livres para dar seu
tempo, lealdade e serviço a seus próprios grupos.
A Escola Arcana existe há vinte anos (escrito em 1943), e está agora entrando
num novo ciclo de crescimento e utilidade - tal como toda a humanidade - e para
isto está sendo feita a devida preparação. A nota-chave da Escola é o
serviço, baseado no amor da humanidade. O trabalho de meditação é ajustado
paralelamente ao estudo e ao esforço para ensinar os estudantes a servir.
O NOVO GRUPO DOS SERVIDORES DO MUNDO
Uma outra fase do meu trabalho surgiu há cerca de dez anos, quando
comecei a escrever certos panfletos para o público em geral, chamando a
atenção para a situação mundial e para o Novo Grupo dos Servidores do
Mundo. Foi um esforço para ancorar na terra (se me permitem a expressão) uma
exteriorização ou um símbolo do trabalho da Hierarquia. Foi um esforço para
unir subjetivamente e, quando possível -objetivamente todas as pessoas donas
de propósito espiritual e de profundo amor pela humanidade que estavam
ativamente trabalhando, em muitos países, quer em organizações, quer
isoladamente. Seu nome é legião. Alguns são do conhecimento de trabalhadores
da Escola Arcana, de F.B. e de A.A.B. Milhares são de meu conhecimento, mas
não do conhecimento deles. Todos estão trabalhando sob a inspiração da
Hierarquia e estão consciente ou inconscientemente - cumprindo os deveres de
agentes dos Mestres. Juntos eles formam um cinturão estreitamente unido
internamente pela intenção espiritual e o amor. Alguns são ocultistas,
trabalhando em diversos grupos ocultistas; alguns são místicos, trabalhando
com visão e amor; outros pertencem a religiões ortodoxas, e outros tantos
não reconhecem nenhuma das chamadas afiliações espirituais. Todos eles,
porém, estão animados pelo senso de responsabilidade pelo bem-estar humano e
comprometidos, interiormente, a ajudar seus semelhantes. Este grande grupo
constitui o Salvador mundial desta época, e salvará o mundo e inaugurará a
nova era depois da guerra. Os panfletos que eu escrevi (o primeiro dos quais
chama-se agora Os Três Próximos Anos), indicaram seus planos e propósitos, e
apresentaram sugestões quanto aos modos de cooperação com este grupo de
Servidores do Mundo, já em existência e ativos em muitos campos.
Àqueles que o Novo Grupo de Servidores do Mundo influencia e com os quais eles
procuram trabalhar, e que atuam como seus agentes, nós chamamos de "homens e
mulheres de boa vontade". Eu fiz um esforço para alcançar essas pessoas em
1936, quando havia uma pequena possibilidade de que a guerra talvez pudesse,
mesmo àquela altura, ser evitada. Muitos lembrar-se-ão dessa campanha e de
seu relativo sucesso. Milhões foram alcançados por meio da palavra escrita e
falada e pelo rádio, mas não houve um número suficiente de pessoas
espiritualmente interessadas em dar os passos necessários para deter a maré
de ódio, malignidade e agressão que ameaçava engolfar o mundo. A guerra
irrompeu em 1939, apesar de todos os esforços da Hierarquia e Seus
trabalhadores, e o trabalho da boa-vontade ficou, naturalmente, em latência.
Aquela parte do trabalho na qual os membros da Escola Arcana haviam procurado
servir, e que resultara na formação de dezenove grupos de serviço em
dezenove países diferentes, teve que ser, temporariamente, interrompido - mas
apenas temporariamente, meus irmãos, porque a boa-vontade é a "força
salvadora" e uma expressão da vontade-para-o-bem que anima o Novo Grupo dos
Servidores do Mundo.
Desejo deixar claro que este trabalho de ancorar o N.G.S.M. e organizar o
trabalho da boa-vontade, nada tem a ver com a Escola Arcana, exceto pelo fato
de que, aos membros dessa escola foi dada a oportunidade de ajudar no
movimento. Eles tinham toda liberdade de escolha, e um grande número deles
ignorou totalmente o esforço, o que demonstra que eles se sentiam livres tal
como se lhes havia ensinado.
Quando a guerra irrompeu e o mundo inteiro foi atirado no conseqüente caos,
horror, desgraça, morte e agonia, muitas pessoas voltadas para a
espiritualidade ansiavam por manter-se à parte da luta. Elas não eram
maioria, mas uma minoria poderosa e barulhenta. Consideravam que qualquer
atitude de participação infringia a lei da fraternidade e estavam dispostas a
sacrificar o bem da humanidade toda pela ânsia sentimental de amar todos os
homens de um modo que exigia abster-se de qualquer ação ou decisão. Em vez
de "meu país, certo ou errado", era "a humanidade certa ou errada". Quando eu
escrevi o panfleto intitulado "A Crise do Mundo Atual" e as publicações que
se seguiram sobre a situação mundial, eu afirmei que a Hierarquia apoiava a
atitude e os objetivos das Nações Unidas, lutando pela liberdade de toda a
humanidade e pela libertação do povo sofredor. Isto, necessariamente,
colocava a Hierarquia em total oposição ao Eixo. Muitos que trabalhavam pela
boa vontade e uns poucos na escola deram a isto um significado político,
acreditando, possivelmente, que uma posição de total neutralidade, no que diz
respeito ao bem e ao mal, era o que se exigia das pessoas voltadas para a
espiritualidade. Tais pessoas não conseguiram pensar com clareza e confundiram
a relutância em tomar partido com o amor fraternal, esquecendo-se das palavras
de Cristo, "Aquele que não é por mim, é contra mim".
Permitam-me repetir o que já disse antes. A Hierarquia e todos os seus
membros, eu inclusive, ama a humanidade, mas não endossa o mal, a agressão, a
crueldade e o aprisionamento da alma humana. A Hierarquia apóia a liberdade, a
oportunidade para todos avançarem pelo caminho da luz, e o direito de cada
homem de pensar por si mesmo, de falar e trabalhar. Forçosamente, portanto, a
Hierarquia não pode apoiar nações, ou as pessoas em qualquer nação, que
sejam contrárias à liberdade e felicidade dos homens. Em Seu amor e
entendimento das circunstâncias, sabe que numa vida posterior, ou vidas, a
maioria daqueles que agora são inimigos da liberdade humana, serão - eles
mesmos livres e palmilharão o Caminho iluminado. Enquanto isso, todo o peso da
Hierarquia é posto ao lado das nações que lutam para libertar a humanidade,
e ao lado daqueles que, em qualquer nação, assim trabalham. Se estar ao lado
do bem e da liberdade é julgado prejudicial para os assuntos espirituais,
então a Hierarquia trabalhará para modificar a atitude das pessoas a respeito
do que é espiritual.
Sendo responsável pela transcrição dos panfletos, e com F.B. encarregado de
sua publicação e distribuição, A.A.B. foi colocada numa posição difícil,
e tornou-se o alvo de crítica e ataque. Todavia, ela sabe que o tempo ajusta
todas as coisas e que o trabalho que é feito segundo a motivação correta,
revela-se por si mesmo eventualmente.
Tenho, portanto, estado interessado em três fases do trabalho: os Livros, a
Escola Arcana e o Novo Grupo dos Servidores do Mundo. O impacto que estes três
aspetos do trabalho causaram no mundo tem sido nitidamente efetivo e útil. A
soma total do útil trabalho realizado é que importa, e não as críticas e
mal-entendidos daqueles que, basicamente, pertencem à velha ordem, à era
pisceana, e que são, portanto, incapazes de ver a emergência dos novos modos
de vida e novas aproximações à verdade.
Durante todo este tempo, eu permaneci atrás dos bastidores. Os livros e
panfletos têm sido de minha responsabilidade e trazem a autoridade da verdade
- se há neles verdade - e não a autoridade do meu nome ou de qualquer status
que eu possa alegar ou que me possa ser atribuído pelos curiosos, inquisitivos
e devotos. A.A.B. é a responsável pela Escola Arcana e eu não orientei sua
política. nem interferi no seu currículo. Meus livros e panfletos estão à
disposição dos estudantes da escola tal como o estão para o público em
geral.
Procurei ajudar no trabalho da boa-vontade, pelo qual F.B. é responsável,
dando sugestões e indicações sobre qual trabalho o Novo Grupo dos Servidores
do Mundo está procurando realizar, porém nenhuma diretriz autoritária foi
feita em meu nome, ou jamais o será. A soma total de todas estas atividades é
boa; os mal-entendidos têm sido poucos e resultam do equipamento pessoal e da
atitude de critica. A crítica é saudável, desde que ela não se torne
destrutiva.
TREINAMENTO PESSOAL
Paralelamente a estas atividades maiores, tenho treinado, desde 1931,
um grupo de homens e mulheres, espalhados por todo mundo, nas técnicas do
discipulado aceito, entendido academicamente. Entre os muitos neófitos
possíveis, indiquei a A.A.B. (em 1931 e mais tarde) um grupo de
aproximadamente 45 pessoas - algumas de seu conhecimento pessoal e outras
totalmente desconhecidas - que demonstravam disposição para serem treinadas,
e que podiam ser experimentadas quanto à sua adequação para o trabalho
grupal do novo discipulado. Estas pessoas receberam de mim instruções diretas
e certas instruções de ordem geral que incorporavam uma nova aproximação à
Hierarquia e à vida espiritual, embora, é claro, baseada nas antigas regras.
Essas instruções serão apresentadas, muito em breve, ao público em geral,
porém, sem indicação alguma sobre as pessoas que foram treinadas ou qualquer
outra informação; nomes, datas e locais serão mudados, embora as
instruções permaneçam tal como foram dadas.
Forçosamente, devido ao seu contato comigo, avaliaram a minha identidade e,
há anos, sabem quem eu sou. Porém, tanto eles quanto A.A.B. preservaram o meu
anonimato com grande cuidado e sob grande dificuldade, porque centenas de
pessoas em quase todos os países do mundo especulavam sobre minha identidade e
alguns acertaram. Portanto, hoje, apesar de tudo que A.A.B. e meus discípulos
fizeram, sou reconhecido como um Mestre e deram-me um nome. Ao meu próprio
grupo de aspirantes especialmente escolhido, confirmei o meu nome quando eles
próprios, interiormente, haviam percebido. Seria tolo e falso agir de outra
maneira, e ao comunicar-me com eles ou ao escrever as instruções sobre o novo
discipulado, eu, necessariamente, assumi minha legítima posição. A.A.B. e eu
achamos que algumas dessas instruções seriam úteis e apropriadas para uso
mais generalizado e foram reunidas numa série, Etapas do Discipulado,
publicadas no Beacon com o meu nome. Antes da publicação, a série tinha sido
cuidadosamente editada por A.A.B., à exceção de um artigo quando alguns
meses antes, sob a pressão de excessivo trabalho, A.A.B. deixou de suprimir um
parágrafo no qual eu falo como Mestre. Este parágrafo apareceu no Beacon de
julho de 1943, para seu grande aborrecimento. Após tantos anos a proteger
minha identidade, ela cometeu este deslize e foi, portanto, declarado
publicamente que eu sou um Mestre. A este respeito há três pontos para os
quais quero chamar-lhes a atenção.
Antes, muitos anos antes, eu declarara em Um Tratado de Magia Branca que eu era
um iniciado de um certo grau, mas que o meu anonimato seria preservado. Anos
depois, devido a este lapso de A.A.B., encontro-me, aparentemente, na posição
de me contradizer e assim mudar meu plano de ação. Na realidade, não é esse
o caso. A difusão do ensinamento altera as circunstâncias, e a necessidade da
humanidade, às vezes, exige uma mudança de abordagem. Nada há de estático
na evolução da humanidade. Há muito tempo era minha intenção fazer tudo
que fosse necessário para apresentar o fato da Hierarquia e seus membros de
maneira mais definida e mais impressionante aos olhos do público.
Há alguns anos eu claramente disse a A.A.B. (tal como fez seu próprio Mestre)
que seu maior dever como discípula era familiarizar o público com a
verdadeira natureza dos Mestres de Sabedoria, para compensar a errônea
impressão que o público tinha recebido. Ela tentou fazer isso até um certo
ponto, mas não tanto quanto pretendido. Ela relutava devido ao descrédito em
que caíra esse assunto por causa das falsas informações veiculadas pelos
vários instrutores e grupos ocultistas, além das ridículas reivindicações
feitas por pessoas ignorantes a nosso respeito. H.P.B., sua predecessora,
afirmou em certas instruções enviadas para a seção Esotérica da Sociedade
Teosófica que ela se arrependia amargamente por jamais ter mencionado os
Mestres, Seus nomes e funções. A.A.B. foi da mesma opinião. Os Mestres, tal
como retratados na Sociedade Teosófica, pouco se parecem com a realidade, e um
grande bem foi feito por este testemunho quanto à Sua existência, e grande
mal, pelos tolos detalhes dados, às vezes. Mas Eles não são como foram
descritos; Eles não dão ordens aos Seus seguidores (ou melhor dizendo,
devotos) para fazer isto ou aquilo, para formar esta ou aquela organização,
nem indicam Eles pessoas, supostamente de importância suprema, em
encarnação, pois sabem muito bem que os discípulos, iniciados e Mestres são
reconhecidos pelo seu trabalho e atos, não por suas palavras, e tem que provar
seu status pelo trabalho realizado.
Os Mestres trabalham por intermédio de Seus discípulos em muitas
organizações, porém Eles não exigem, através desses discípulos, a
implícita obediência dos membros da associação, nem excluem do ensino
aqueles que discordam da política da organização ou das interpretações de
seus líderes. Eles não são separatistas, nem antagonizam os grupos que
trabalham sob diversos discípulos ou outros Mestres, e qualquer organização
em que os Mestres estejam interessados seria inclusiva e não exclusiva. Eles
não brigam por causa desta ou daquela personalidade, apoiando uma e rejeitando
outra simplesmente porque as diretrizes de um líder são ou não preservadas.
Eles não são essas pessoas espalhafatosas e mal-educadas que têm sido
retratadas pelos medíocres líderes de muitos grupos, nem escolhem para seus
discípulos aceitos e proeminentes trabalhadores homens e mulheres que, mesmo
do ponto de vista mundano, são de pronunciada inferioridade ou que se
comprazem na arte de chamar a atenção sobre si mesmos. Para ser um discípulo
probacionário, o candidato pode ser um devoto e, então, é dada ênfase à
purificação e à aquisição de uma compreensão inteligente da fraternidade
e das necessidades humanas. Para ser um discípulo aceito, trabalhando
diretamente sob os Mestres, e ativo no trabalho mundial com uma crescente
influencia, isso requer uma polarização mental, um desenvolvimento do
coração e um senso de valores reais.
Os Mestres trazidos à atenção do público por movimentos como o movimento "I
Am" são uma paródia da realidade. Os Mestres descritos em muitos movimentos
teosóficos (desde o tempo de H.P.B.) não se distinguem pela inteligência e
mostram pouco critério na escolha daqueles que as organizações apresentam
como iniciados ou importantes membros da Hierarquia.
Sabendo de tudo isto, e tendo observado os maus efeitos do ensinamento que é
usualmente dado a respeito dos Mestres, A.A.B. chegou a extremos no sentido de
apresentar a real natureza da Hierarquia, seus objetivos e participantes, e
procurou pôr a ênfase - como faz a própria Hierarquia - na humanidade e no
serviço mundial, e não num grupo de instrutores que, mesmo tendo transcendido
os costumeiros problemas da personalidade e a experiência nos três mundos,
estão ainda num processo de treinamento e preparando-se (sob a instrução de
Cristo) para palmilhar o chamado caminho da evolução superior. O nome que nos
deram certos discípulos no Tibet oferece uma pista quanto ao nosso ponto de
realização. Eles chamam a Hierarquia de "sociedade de mentes organizadas e
iluminadas" - iluminadas pelo amor e compreensão, pela profunda compaixão e
inclusividade, iluminadas pelo conhecimento do plano e tendo como meta
apreender o propósito, sacrificando seu próprio, progresso imediato com o fim
de ajudar a humanidade. Isto é um Mestre. O segundo ponto que quero destacar
vem em forma de pergunta. Que mal faz se alguém aponta para um Mestre e o
reconhece como tal, desde que sua obra comprove a afirmação e sua influencia
esteja espalhada pelo mundo? Se por seu inadvertido lapso, A.A.B. me apontou
como Mestre, causou isso algum mal? Meus livros, os portadores de minha
influencia, já alcançaram os distantes cantos da Terra, trazendo socorro e
alívio; o trabalho de serviço que eu sugeri, e que F.B. executou
voluntariamente, alcançou milhões literalmente, seja por meio de panfletos e
rádio, pelo uso da Invocação e pelo trabalho dos Triângulos, seja pelas
palavras e exemplos dos homens e mulheres de boa vontade.
Nos seus 25 anos a meu serviço no campo do ocultismo, A.A.B. nunca tirou
vantagem do fato de eu ser um dos muitos Mestres, reconhecido hoje por milhares
de pessoas. Ela nunca buscou refúgio atrás de mim ou de seu próprio Mestre
responsabilizando-nos pelo que possa ter feito e tão pouco começou ou levou
avante algum trabalho na base de "são ordens do Mestre". Ela sabe que o
trabalho do Mestre é pôr o discípulo em contato com o plano e que o
discípulo então sai em campo e - por iniciativa própria e com o tanto de
sabedoria e amor que possui - esforça-se inteligentemente para arcar com a
responsabilidade de materializar o Plano. Ele comete erros, mas não corre para
o Mestre: ele paga o preço e aprende a lição. Ele obtém sucesso, mas não
corre para o Mestre em busca de elogios, porque sabe que não os terá. Ele
luta contra a saúde precária, contra a inveja e o antagonismo daqueles cujo
trabalho não alcança tanto sucesso ou que temem a competição, mas ele não
vai ao Mestre em busca de forças para resistir. Ele tenta caminhar na luz de
sua própria alma e apoiar-se na força de seu próprio Ser espiritual, e
assim, aprende a ser um Mestre - mostrando mestria.
O terceiro ponto para o qual desejo chamar a atenção é que, no novo ciclo
que se seguirá ao final da guerra, o fato da Hierarquia e o trabalho dos
Mestres - através de Seus discípulos - precisa ser, e será, cada vez mais do
domínio público. Por toda parte, os discípulos apresentarão
progressivamente ao mundo o plano hierárquico de fraternidade, do viver
espiritual e da inclusividade. Isto será feito não em termos (tão comuns
entre os tolos) de "o Mestre escolheu-me", ou "o Mestre apóia o meu esforço",
ou "eu sou o representante da Hierarquia", mas por uma vida de serviço, pela
indicação de que os Mestres existem e que são conhecidos por muitos homens
em toda parte; que o Plano é de desenvolvimento evolutivo e de progresso
educacional em direção a um objetivo espiritual inteligente; que a humanidade
não está sozinha, pois que a Hierarquia permanece, que o Cristo está com Seu
povo, que o mundo está repleto de discípulos não reconhecidos, porque
trabalhando em silencio; que o Novo Grupo de Servidores do Mundo existe e que
homens e mulheres de boa vontade são encontrados em toda parte; que os Mestres
não tem interesse algum nas personalidades, mas usarão homens e mulheres de
todas as posturas, credos e nacionalidades, desde que sejam motivados pelo
amor, que sejam inteligentes e tenham mentes treinadas, e que tenham também
uma influencia magnética e radiante que atraia as pessoas para a verdade e a
virtude, mas não para o indivíduo - seja ele um Mestre ou um discípulo. Eles
não dão a menor importância à lealdade pessoal, uma vez que estão
dedicados somente a aliviar o sofrimento, a promover a evolução da
humanidade, e a indicar os objetivos espirituais. Eles não estão à procura
de reconhecimento para o Seu trabalho, ou dos elogios de Seus contemporâneos -
procuram somente o crescimento da luz no mundo e o desdobramento da
consciência humana.
Agosto de 1943.