Escapando dos Anéis do Tempo
(Discipulado, Tempo e Carma)

Christine Morgan

Nota chave: Que o grupo se esforce para alcançar uma síntese subjetiva e um intercâmbio telepático que finalmente anulará o tempo.

Esta é sem dúvida uma das notas-chave mais desafiadoras que já escolhemos para uma conferência da Escola Arcana. Dizem-nos que é uma definição do Plano Divino como os Adeptos o sentem. Temos que ter cuidado para não interpretá-la literalmente, considerando que o iluminado considera o tempo do ponto de vista da consciência, os seres humanos pensam sobre o tempo mais praticamente - em termos de matéria e movimento. Para enfatizar essa distinção, procurei por uma definição simples da unidade básica do tempo - o segundo - e descobri que ele é "a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à transição entre os dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de Césio 133." Uma descrição simples eu sei, mas suficiente.

O ponto, porém, é que o tempo como entendido pelos seres humanos tem tudo a ver com a medição da matéria em movimento e, a partir dessa perspectiva, é esperançoso que ele não seja anulado - caso contrário, tudo ficaria paralisado. Em vez disso, talvez devêssemos falar mais em termos de “senso do tempo”; e com isso evitaríamos entrar no reino emaranhado de pseudofilosofia.

Assim, com referência ao sentido do tempo, isso é algo que parece aumentar e diminuir de acordo com o nosso estado de consciência. É esse estado de consciência em qualquer momento que dita a nossa experiência de tempo. Se eu estou me divertindo, o tempo voa, se estou entediado, ele arrasta. Isto torna mais fácil entender a abstração metafísica "o eterno agora"; a continuidade de consciência que ocorre quando a mente, corpo e emoções são liberados dos estados flutuantes da personalidade. Do ponto de vista da consciência, o tempo é então entendido em termos de ciclos de energia dado que eles operam no reino das causas por trás do mundo mundano. É aqui que o iniciado opera, a controlar o tempo em vez de ser controlado por ele, uma condição a que o Cristo se referiu como "no mundo, mas não do mundo."

Claramente, há um longo caminho a percorrer antes que a meta seja alcançada e até que se torne uma realidade, o tempo continua a ser o grande mestre, ou para citar na íntegra: "O tempo é um grande professor, mas infelizmente, mata todos seus alunos." Ao compositor Berlioz é creditada esta observação que contém muito de verdade. O tempo está intrinsecamente ligado ao carma - e é esta combinação que prende o homem mortal à roda do renascimento até que ele equilibre o par de opostos, elevando-se acima deles para a vida mais abundante. Quando o carma for cumprido, e nenhuma nova "causa a produzir efeitos" for iniciada nas vestiduras inferiores da consciência, a libertação é obtida da prisão da matéria e o sentido do tempo que a governa.

Portanto, até a nossa libertação, somos o produto de nossas experiências do passado na roda do renascimento. Em resposta a elas, temos estabelecido padrões de vibração na consciência através dos quais nos adequamos ao mundo exterior e formamos a nossa noção de tempo. Como o tempo é medido no mundo tridimensional pelo padrão de vibração do átomo de césio, no mundo da consciência o tempo é medido pelo padrão dos nossos processos de pensamento. Como as frequências inerentes ao padrão flutuam de acordo com a qualidade do pensamento e da emoção que nos condicionam, assim também o sentido do tempo flutua. Como nossas experiências são determinadas pelo carma, tempo e carma são inextricavelmente vinculados.

É por isso que Saturno é o Senhor do tempo e do carma, facultando essas condições cármicas que permitem a cada recém-nascido renovar os vínculos com os fios de força de encarnações anteriores. Ele permite que a pessoa continue o trabalho evolutivo. Os anéis de Saturno, portanto, simbolizam o círculo-não-se-passa que se estabelece em cada encarnação - o reservatório de forças que cada um de nós deve se envolver para continuar o processo evolutivo de aperfeiçoar o "corpo de Cristo". Como sabemos, uma parte fundamental deste processo é conscientemente construir uma ponte no plano mental entre os aspectos superior e inferior, e é Saturno quem provê a substância de força para construir esta ponte na consciência. O Velho Comentário, frequentemente citado nos escritos de Alice Bailey, descreve essa função de Saturno como se segue:

"Estes Filhos da mente agarraram-se à velha e agonizante forma, recusando-se a abandonar sua Mãe. Preferiram dissolver-se com ela, porém, um filho mais jovem (Saturno) procurou salvar seus irmãos, e construiu uma ponte tríplice entre o velho e o novo. Esta ponte persiste, formando um caminho por onde é possível escapar.

Alguns escaparam e vieram ajudar os encarnantes Filhos da Mente que haviam abandonado a Mãe pelo Pai. Foi estendida a ponte sobre o abismo maior. O menor ainda persiste, e os próprios viventes Filhos da Mente deverão estender a ponte." (Um Tratado sobre Fogo Cósmico, p1113)

Vemos, então, que escapar dos anéis do tempo de Saturno e do carma se realiza através de uma atividade Saturnina superior - a criativa tecedura da substância-mental em torno do fio da vida que já existe entre a mente superior e a inferior. O tempo e o carma têm dado forma a tudo o que o discípulo é agora, um produto do passado, situado no presente e a se projetar para o futuro. Armado com a experiência de incontáveis encarnações, ele começa a atividade Saturnina de tecer uma espiral de substância mental em torno de seu fio da vida. Os anéis de Saturno são simbolicamente transfigurados em uma espiral - ajudados pelo poder expansivo de Júpiter.

O astrólogo, Dane Rudhyar, diz com eloquência habitual: "Saturno é o símbolo do movimento sistólico e Júpiter do movimento diastólico. O primeiro contrai, o segundo expande. A circulação da vida é regulada pela interação desses dois Poderes universais e onipresentes." O grande símbolo deste movimento é, claro, a pulsação do coração. Na medida em que o coração se contrai ele empurra o sangue através das artérias, criando pressão; quando relaxa e se expande, ele se enche de sangue novo, que vivifica. Este processo ocorre também na consciência. Saturno cria pressão psicológica na medida em que a força do carma recai sobre as partes de nossa natureza que exigem ajuste. Então, o movimento diastólico de Júpiter segue anunciando nova vida e a consciência sai de estados restritivos e avança na viagem de volta para o coração universal.

No caminho do discipulado, a energia de Saturno fornece o impulso psicológico para continuar progredindo - Júpiter infunde os impulsos mentais com amor e, assim, transmuta inteligência em sabedoria, a marca de qualidade do adepto liberado. Até alcançar esta libertação, temos a dualidade do discipulado com os seus ciclos alternados de luz e obscuridade, de progresso e de aparente fracasso. Isto ocorre com o aumento da rapidez e intensidade no caminho até que o discípulo compreenda a natureza cíclica deste processo, unificando-os para produzir um consciente movimento para frente. As duas energias opostas da vida e da consciência estão agora trabalhando em cooperação à medida que o discípulo assume o controle de seu próprio destino.

Cada estudante da Escola Arcana está ocupado com este desafio de assumir o comando do fluxo e refluxo da consciência; até que tenha feito isso, não pode haver domínio do tempo. No início pode parecer que o tempo toma o controle, deixando o aluno sentir-se um escravo do destino. Mas isso é uma ilusão, pois é a consciência que governa as circunstâncias da vida. À medida que o estudante começa a entender isso, ele ou ela aprende como trabalhar ritmicamente e criativamente com o tempo. O iniciado é o multitarefa final, trabalhando, não com pressa, mas ritmicamente em um ponto de tensão fora do tempo e espaço. O aspirante atormentado é bom em multitarefa também, mas muitas vezes no sentido de perda de tempo, sendo improdutivo, e procrastinador!

Trabalhar com o tempo é uma arte espiritual que requer sabedoria e paciência. Alguns veem a visão de forma tão clara ou a desejam tanto que não reconhecem o fator tempo necessário para permitir a síntese subjetiva subjacente a revelar-se gradualmente. As limitações impostas por Saturno são salvaguardas necessárias. Esta é uma lição difícil para os apressados! Para outros esses impulsos subconscientes, impulsionados pela experiência passada, aparecem subitamente no presente sem serem convidados, requerendo pensamento racional da mente inferior, juntamente com uma visão da meta à frente, para traçar um curso através do mar tempestuoso de miragem. Requer também a capacidade de distinguir entre o Pensador, que persiste através do tempo e espaço, e a mente com a qual pensamos que é efêmera e transitória.

Na medida em que o discípulo se sujeita às disciplinas do caminho, ele vai começar a ter vislumbres desta nova realidade, já que a mente e o coração estão purificados e se estabelecem novos ritmos. É um reino onde a Simplicidade e a Síntese reinam. Não são de natureza idealista. São uma síntese de vida e consciência operando em harmonia. Este estado tem sido alcançado por uma série de ardentes transmutações no cadinho da vida do discípulo. Através de ajustes na consciência, as forças cármicas que precipitam na vida do discípulo já não descem para o plano físico, mas agora estão dirigidas e resolvidas nos níveis mentais.

Ao invés de estarem totalmente ocupados com estas pressões cármicas, os servidores intuitivos em todos os lugares estão mais preocupados com as energias do Plano Divino que estão aguardando expressão. A pressão destas energias aumenta ao longo dos três festivais espirituais e período de conferência. O antahkarana grupal pode ser sentido vibrando com a luz de energias da Tríade à medida que o grupo se aproxima dos centros superiores. É neste momento que os sentidos internos estão mais vivos, e esta luz do antahkarana grupal abre perspectivas de maravilhas para a intuição. Uma relação telepática entre todos os membros do grupo pode ser sentida nas frequências de ressonância do pensamento e do amor. É inspirador pensar que um dia esta visão de unidade se tornará uma realidade viva para toda a humanidade no mundo exterior. A visão evocada pela nota chave transmite a sensação de comunicação cíclica, intemporal, entre as mentes e os corações - uma síntese subjetiva e interação telepática que constantemente aniquilará o sentido do tempo. Desta forma, com a consciência viva e focada no reino de energias causais, será possível direcionar, precipitar e transmitir as potências do Plano ao longo dos reinos da natureza.

Esta será uma época de reinado do coração. Saturno e Júpiter irão trabalhar em harmonia rítmica para circular a energia do amor-sabedoria do Logos Solar. A humanidade está se movendo de forma incremental para esse reinado, pois a resposta compassiva à necessidade e ao sofrimento é generalizada. Este é um momento de intensos ajustes cármicos, mas também de elevação espiritual. Os eventos mundiais refletem com precisão a verdade de que a atividade criativa generalizada e a vitalização do centro humano serão vistas durante o primeiro decanato da Era de Aquário. Este período é regido por Saturno, o planeta da oportunidade, do discipulado e de prova; e nos é dito que podemos "esperar por uma crescente expressão da atividade Saturnina à medida que essa grande Vida divina continue Sua tarefa benéfica."

À medida que planejamos escapar dos anéis do tempo para viver e trabalhar no reino da síntese subjetiva, é vital que mantenhamos uma perspectiva equilibrada - os pés firmemente no chão, de modo que a magnitude da visão não nos seduzirá em formas sutis de misticismo. Este é um cenário épico que abala a imaginação - um futuro onde a noção de tempo não mais será ditada por processos físicos, mas entendida em termos de ciclos de energia e do Plano em desenvolvimento. A força espiral do amor-sabedoria vai elevar a humanidade a novos estados de consciência. Ideias e experiências novas serão compartilhadas por meio da impressão telepática. É a visão do ocultismo ressurgindo em uma volta mais alta da espiral como uma ciência esotérica de energias e forças selecionadas e voltadas para o benefício do todo planetário.

Alocução proferida na abertura da Conferência 2016 da Escola Arcana em Genebra

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