Vida - Qualidade - Aparência

A mais alta unidade só será reconhecida quando for perfeita a relação dual: vida por meio da matéria-forma. Atualmente muita gente gosta de falar e pensar em termos da Vida Una, mas isso são apenas palavras e ideias, enquanto que a verdadeira consciência dessa Unidade essencial continua um sonho e uma fantasia.

Sempre que esta realidade é posta em palavras, enfatiza-se a dualidade e a controvérsia espiritual (empregando a palavra no seu significado principal e não no significado antagônico vulgar) aumenta. Tomemos por exemplo as palavras: Creio na Vida Una ou Para mim só existe uma Realidade e, observai a dualidade na sua fraseologia. A vida não pode ser expressa por palavras, nem a sua perfeição tão pouco. O processo de chegar a ser que conduz ao ser é um fato cósmico que inclui todas as formas e nenhum filho de Deus escapa a este processo mutável. Enquanto se encontra na forma não pode conhecer o que é a Vida, embora, quando tenha atingido certos estados nos planos superiores do sistema, com plena consciência, possa então vislumbrar essa tremenda Realidade. Certos grandes iniciados, através dos tempos, cumpriram a sua função de reveladores e mantiveram ante os olhos dos discípulos pioneiros da vida, o ideal da Unicidade e da Unidade. Contudo houve uma mudança progressiva do foco de atenção duma forma a outra para obter assim um ponto de vista mais elevado, uma nova visão de uma possível verdade. Cada época (e a nossa não é exceção) julgou possuir a compreensão da Realidade, uma maior sensibilidade à Beleza interna e encontrar-se mais perto do que nunca da Verdade. A mais alta realização do que se chama a Vida Una é a consciência despertada (que possui o iniciado de alto grau) acerca do Logos encarnado, a Divindade e a sua identificação com a consciência desse prodigioso Criador que se exprime por meio do sistema solar. Nenhum iniciado do planeta pode identificar-se com a consciência deste Ser Identificado (no sentido esotérico do termo) que, no Bhagavad Gita diz: Tendo penetrado todo o Universo com um fragmento de Mim mesmo, Eu permaneço.

Recomendo estes pensamentos à vossa consideração e à vossa cuidadosa reflexão, de modo que resulte uma expansão crescente do vosso sentido de percepção e uma crescente capacidade para fazer contatos com esta Verdade, com esta Realidade e esta Beleza que o universo revela. Ao mesmo tempo evitem o lirismo místico referente à Vida Una porque ele não seria mais que a negação de toda a compreensão mental e a luxúria duma percepção sensual muito desenvolvida e de natureza emocional do mais alto grau.

Por conseguinte todas as nossas considerações feitas necessariamente se manterão no domínio do pensamento, o que implica a consciência da dualidade. Empregarei a palavra dualidade não porque procuro sublinhar esta dualidade e negligenciar a unidade (entenda-se que esta unidade é para mim algo mais que uma realidade e que ela é, como o entrevereis, mais que uma possibilidade), mas porque todos os aspirantes, os discípulos e mesmo os iniciados até à terceira iniciação, como o disse já anteriormente, oscilam como um pêndulo entre os pares de opostos, espírito e matéria. Não falo aqui dos pares de opostos do plano astral ou emocional que são os reflexos ilusórios dos verdadeiros pares de opostos, mas da dualidade fundamental da manifestação.

Ocupo-me deste material que é de valor prático e que pode ser captado pela inteligência iluminada do homem médio. É necessário que todos os estudantes que procuram a iluminação e a correta apreensão da Verdade, não recalquem, como se faz frequentemente, certos aspectos e apresentações da Verdade dizendo que são uns espirituais e outros mentais. É no reino da mente que se encontra o grande princípio de separação. É também ali que se produz a grande unificação. As palavras do iniciado Paulo têm aqui um lugar apropriado: Que este espírito esteja em vós, como também estava em Cristo e acrescenta noutro lado que Cristo fez em si mesmo, de dois, um homem novo; é por meio da mente que se formula a teoria, que se distingue a Verdade e se sente a Divindade.

Quando tivermos avançado mais no Caminho, veremos apenas o espírito em toda a parte; o aforismo expresso por esse grande discípulo H. P. B. que diz: a matéria é espírito no ponto mais baixo da sua atividade cíclica e espírito é matéria no sétimo plano, isto é, mais elevado, será com o tempo uma realidade na nossa consciência. Isto é por agora, uma frase intelectual de pouco significado, mas que enuncia uma verdade que não pode ser comprovada. Tudo o que existe é a expressão duma consciência espiritual, que espiritualiza pela sua vida inerente em todas as formas materiais. Uma larva ou um verme que desenvolve a sua vida numa massa em decomposição, constitui uma manifestação espiritual como a dum iniciado que cumpre o seu destino, num conjunto de formas humanas que mudam rapidamente.

Tudo é a Divindade em manifestação, tudo é expressão divina, e tudo é urna forma de percepção sensível e de resposta ao meio ambiente e, portanto, urna forma de expressão consciente.

Os sete raios são a primeira diferenciação da Trindade divina: Espírito - Consciência - Forma, e constituem todo o campo de expressão da Divindade manifestada. Dizem-nos as Escrituras do mundo que a integração ou a relação entre Pai-Espírito e Mãe-Matéria dá lugar a um terceiro aspecto que é o Filho ou aspecto consciência. Este Filho, produto dos dois, é definido esotericamente como Um que foi terceiro, mas que é segundo. A razão deste enunciado é que primeiro existiam dois aspectos divinos: Espírito e Matéria, ou matéria impregnada de Vida, e que só quando estes dois realizaram a sua mútua unidade (reparai na ambiguidade necessária desta frase) surgiu o Filho. O esotérico contudo considera o Espírito-Matéria como a primeira unidade e o Filho como o segundo fator. Este Filho que é a Vida divina encarnada na matéria e, por conseguinte, o produtor da diversidade na imensidade de formas, é a personificação da qualidade divina. Podemos, portanto, utilizar para maior clareza, os termos: Vida - Qualidade - Aparência que é outra forma da triplicidade mais vulgar: Espírito - Alma - Corpo, ou Vida - Consciência - Forma.

Empregarei a palavra Vida, quando me referir ao Espírito, à energia, ao Pai, ao primeiro aspecto da Divindade e a esse fogo elétrico, essencial e dinâmico, que produz tudo o que existe, fonte e causa sustentadora e origem de toda a manifestação.

Empregarei a palavra Aparência para exprimir o que chamamos matéria, forma, ou expressão objetiva; é esta aparência exterior tangível e ilusória que está animada pela Vida. É o terceiro aspecto, a Mãe superada e fertilizada pelo Espírito-Santo ou Vida, unida com a substância inteligente. É o fogo por fricção - uma fricção gerada pela interação da vida e da matéria, que produz a mutação constante.

Empregarei a palavra Qualidade para expressar o segundo aspecto, o Filho de Deus, o Cristo cósmico encarnado na forma, uma forma trazida à existência pela relação entre o espírito e a matéria. Esta interação gera uma Entidade psicológica que chamamos o Cristo. Este Cristo cósmico demonstrou-nos a Sua perfeição, no que respeita à família humana, por intermédio do Cristo histórico. Esta Entidade psicológica pode pôr em função ativa essa faculdade que existe em todas as formas humanas, uma qualidade que esotericamente pode eliminar as formas e atrair tanto a atenção que, oportunamente, será considerada o fator principal e constitui tudo o que é. Esta verdade relativa à Vida, à Qualidade e à Forma, evidencia-se claramente na história do Cristo da Galileia. Continuamente recordava ao seu povo que Ele não era o que aparentava ser, nem tão pouco era o Pai nos Céus, e aqueles que O compreendiam e O amavam, referiam-se a Ele em termos de qualidade. Demonstrou-nos a qualidade do amor de Deus e que Ele mesmo encarnou, não apenas o que tinha desenvolvido dos sete raios, mas ainda - como o fazem raros filhos de Deus - o princípio fundamental do raio do Logos solar em Si Mesmo, a qualidade do Amor.

Os sete raios são portanto personificações de sete tipos de força que nos mostram as sete qualidades da Divindade. Estas sete qualidades têm, por conseguinte, um efeito sétuplo sobre a matéria e as formas que se encontram em toda a parte do universo e têm também uma inter-relação sétupla entre si.

Vida - Qualidade - Aparência formam uma síntese no universo manifestado e no homem encarnado; e o resultado desta síntese é sétupla, produzindo sete tipos de formas qualificadas que surgem em todos os planos e em todos os reinos. Devemos recordar que todos estes planos que o nosso ponto de vista considera amorfos, não o são na realidade. Os nossos sete planos são antes sete subplanos do plano físico cósmico. Não nos ocuparemos aqui dos planos, salvo na relação que têm com o desenvolvimento do homem, nem do macrocosmos, nem da Vida do Cristo cósmico. Limitaremos a nossa atenção ao homem e às suas reações psicológicas, nas formas qualificadas, em três direções: as formas dos reinos sub-humanos na natureza, as que se encontram associadas à família humana, à Hierarquia dirigente e ao mundo das almas.

Os sete tipos de raio devem ser completamente estudados sob o ponto de vista humano, porque este se destina a indicar ao homem uma nova aproximação psicológica, mediante a compreensão das energias, em número de sete, com as suas quarenta e nove diferenciações, energias que animam o homem e que fazem dele o que é.

Os sete raios são as sete correntes de força que emanam duma energia central depois do vórtice de energia ter sido posto em movimento. Então o espírito e a matéria tornaram-se mutuamente interativos e a forma ou aparência do sistema solar começou o seu processo de chegar a ser - processo que conduz oportunamente a Ser. Esta ideia é antiga e verdadeira. Nos escritos de Platão e dos iniciados que enunciaram proposições fundamentais que guiaram a mentalidade humana, durante o decorrer das idades, neles encontramos referências aos sete eões e emanações, à vida e à natureza dos Sete Espíritos diante do trono. Estas grandes Vidas, atuando dentro dos limites do sistema solar, reuniram em Si a substância de que necessitavam para a manifestação e modelaram as formas e aparências através das quais poderiam melhor exprimir as Suas qualidades inatas. No Seu raio de influência Elas reuniram tudo o que agora existe. Este conjunto qualificado de materiais constitui o Seu corpo de manifestação, do mesmo modo que o sistema solar é o corpo de manifestação da Trindade dos aspectos. Esta ideia pode ser melhor compreendida se se recordar que cada ser humano é, por sua vez, um agregado de átomos e de células que compõem a forma; nela encontram-se disseminados órgãos e centros de vida diferenciados que funcionam com ritmo e relação, mas que têm influências e propósitos diferentes. Estas formas agregadas e animadas apresentam a aparência duma entidade ou vida central, caracterizada por qualidade própria e que funciona de acordo com o seu grau de evolução, impressionando assim, pela sua irradiação e sua vida, cada átomo, célula e organismo dentro do raio da sua influência imediata e agindo também sobre os outros seres humanos, com que contata.

O homem é uma entidade psíquica, uma Vida que, por meio da sua influência irradiante, construiu uma forma, colorida pela sua qualidade psíquica, que lhe é própria e apresentando ao mundo circundante uma aparência que persistirá durante o tempo que esta Vida ocupar a forma.

Esta afirmação abarca também a Vida e a aparência qualificada de cada um dos sete raios. Deus, Raio, Vida e homem, são todos entidades psicológicas e construtores de formas. Assim uma grande vida psicológica apareceu por meio do sistema solar e sete vidas psicológicas, qualificadas pelos sete tipos de força, apareceram através dos sete planetas. Cada vida planetária repete a mesma técnica de manifestação: Vida-Qualidade-Aparência e, no seu segundo aspecto de qualidade, aparece como uma entidade psicológica. Cada ser humano é uma réplica em miniatura de todo o plano. Também é espírito - alma - corpo, vida - qualidade - aparência. Colore a sua aparência com a sua qualidade, animada com a sua vida. Porque todas as aparências são expressões da dualidade, (as menores incluídas nas maiores) cada forma da natureza e cada ser humano encontram-se num ou noutro dos sete raios qualificadores e a sua aparência, numa forma fenomênica, é colorida pelo raio particular, pelo qual foi gerado, mas inclui também uma influência secundária dos outros seis tipos de raio.

Portanto, aceitemos como uma analogia simbólica o fato de uma Vida central (estranha e fora do sistema solar e, contudo dentro dele, durante o processo da manifestação), que decide, dentro de Si mesma, tomar uma forma material e encarnar. Então se estabelece um vórtice de força, como processo preliminar e temos assim, ao mesmo tempo, Deus Imanente e Deus Transcendente. Este vórtice, resultado da sua atividade inicial, demonstra através do que chamamos substância ou (para usar um termo técnico da ciência moderna, o melhor que podemos fazer agora) através do éter do espaço. A consequência desta interação ativa da vida e da substância é a constituição duma unidade básica. O Pai e a Mãe estão unidos. Esta unidade é caracterizada pela qualidade. Por meio desta triplicidade de vida - qualidade-forma, a Vida central evoca e manifesta consciência ou faculdade de responder a tudo o que acontece, mas num grau que nos é impossível perceber, devido às nossas atuais limitações resultantes do nosso relativamente pouco elevado estado de evolução.

Os que estudam este assunto devem ter presente, desde o princípio, a necessidade de se familiarizar com estes quatro fatores condicionantes: vida - qualidade - aparência e o seu resultado ou síntese a que chamamos consciência.

Por isso sempre afirmamos o que se encontra fora da aparência e o que é consciente dessa aparência. Isto implica o conhecimento consciente do seu desenvolvimento material, a justa consequência de expressão, assim como o conhecimento consciente do seu desenvolvimento psíquico. Nenhum estudo sobre os raios é possível sem o conhecimento destes quatro aspectos. A nossa compreensão sobre este assunto será muito facilitada se nos acostumarmos a nos considerar como uma expressão exata e reflexo (embora não desenvolvido) deste quaternário criador, inicial. Somos vidas que constroem uma aparência, exprimem a qualidade e tornam-se lentamente mais cientes do processo e do objetivo à medida que a nossa consciência se torna cada vez mais
sensível à da própria Divindade.

Início