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Alice Bailey - Diálogos com Estudantes da Escola Arcana


Sexta-feira, 15 de outubro de 1943

AAB: [Lê o comentário do Tibetano sobre a Regra Um para a Iniciação Grupal]:

Ao longo dos nossos estudos sobre as regras que devem cumprir aqueles que recebem o treinamento iniciático, lembrarei certas coisas, algumas já mencionadas, mas que precisam ser mais enfatizadas. A utilidade destas Regras para vocês dependerá de captarem algumas ideias básicas e depois trabalharem para que se convertam em fatos, até onde lhes for possível.

Primeiramente chamarei a atenção sobre qual deve ser a atitude básica do postulante à iniciação: de propósito, regido pela razão pura e se processando como atividade espiritual. É esta uma frase que se escreve facilmente mas, na prática, o que quer dizer para vocês? Permitam-me ampliá-la. O iniciado em treinamento deve adotar uma atitude de correta motivação espiritual - a motivação consiste em cumprir inteligentemente o aspecto vontade da divindade ou da Mônada, o que implica na fusão da própria vontade da personalidade com a vontade sacrificial da Alma. Isso feito levará à revelação da Vontade divina. Ninguém, a não ser um iniciado, pode conceber o que seja a Vontade divina. Significa, em segundo lugar, o despertar da faculdade de percepção espiritual e de entendimento intuitivo, o que implica na negação da atividade da mente concreta ou inferior e do eu pessoal inferior, como também na subordinação do aspecto conhecimento da Alma à clara e pura luz da compreensão divina. Quando esses dois fatores começarem a entrar em atividade, teremos o advento da verdadeira atividade espiritual no plano físico, motivada da elevada fonte da Mônada e implementada pela razão pura da intuição. Os Raios e as Iniciações, pág. 33-34

O que sempre me interessou dos escritos do Tibetano, em especial sobre o discipulado, foi o enorme nível dos requisitos e sua habilidade de fazê-los parecer tão simples que a pessoa se sente uma idiota se não é capaz de atendê-los. “Quando ambos fatores começarem a entrar em atividade..- uma pequena coisa assim.


M: Fico feliz que ele sinta que podemos chegar a esse grau. Em muitos de seus livros eu sentia que tinha alcançado alguma luz, e então ele dizia que aquele ensinamento específico se destinava à próxima geração.


AAB: Um ponto interessante. Vocês se deixaram intimidar pela ideia da personalidade “da próxima geração”. Contudo, muitos de nós estamos muito à frente da nossa geração. Tomemos a massa comum, não as massas submergidas, mas as pessoas inteligentes que encontramos em torno de nós. Estamos à frente delas. É um assunto de consciência mais do que de geração.


M: Isso me fez mais determinado.


AAB: Isso é bom.

[Continua lendo]:
Ficará assim claro para vocês que estas faculdades espirituais superiores só podem ser postas em atividade quando o Antahkarana conectivo estiver começando a desempenhar o seu papel, e por isso estou transmitindo ensinamento sobre a construção da ponte de arco-íris.

Na realidade estas regras são grandes Fórmulas de Aproximação, mas indicam também um acesso a uma seção específica do Caminho e não um acesso ao Iniciador.

Gostaria que refletissem sobre esta diferença. O "Caminho para a Evolução Superior" está aberto para o aspirante aos Grandes Mistérios, mas, no início, ele se sente desnorteado e muitas vezes com dúvidas sobre a diferença entre o progresso ou evolução da personalidade para a consciência da Alma e a natureza do progresso que tem por diante, que essencialmente é distinto do desenvolvimento da consciência pura. Ibid., pág. 34

O Tibetano está dando um ensinamento que não está relacionado com a consciência. As iniciações superiores e posteriores às três primeiras não têm nada a ver com expansão de consciência. É muito interessante que captemos isso, porque todos os dias tratamos com facilidade com coisas que são tão difíceis para a pessoa comum como é complicado para nós este ensinamento, e isso é algo bom de se captar, tem a ver com a continuidade da revelação. Estamos tratando de fatos não relacionados com a consciência e, portanto, não temos palavras para eles, porque a linguagem se constrói sobre a consciência.

[Continua lendo]:
Captaram o fato de que depois da terceira iniciação o iniciado já não se ocupa em absoluto da consciência, mas sim de fusionar a vontade individual com a vontade divina? Não se ocupa mais de aumentar a sensibilidade ao contato, nem da sua resposta consciente às condições do ambiente, mas sim de se tornar cada vez mais consciente da dinâmica da Ciência do Serviço ao Plano. Esta realização característica só pode acontecer quando a personalidade fusionada e a expressão egoica da vontade tiverem desaparecido na fulgurante luz do Propósito divino - propósito que não pode ser frustrado, embora às vezes seja protelado, como foi durante os últimos cinquenta e cinco anos.

Grande parte do exposto acima parecerá sem sentido para vocês porque ainda não concluíram o contato entre a Alma e a personalidade nem compreenderam as três fases do aspecto vontade em manifestação: da Personalidade, do Ego e da Mônada. Mas, como já disse antes, escrevo para os discípulos e iniciados que estão vindo agora à encarnação e se encontrarão em pleno desabrochar da consciência e serviço em fins do presente século. Mas o esforço que realizarem para compreender exercerá efeito, ainda que o cérebro não registre. Ibid., pág. 34-35


M: Ele diz isso repetidamente em todos seus livros.


AAB: Ele é pioneiro e nós temos o instrumental: “exercerá efeito, ainda que o cérebro não registre”.


C: É terrivelmente desencorajador.


AAB: Não acho. Há muitas coisas que sabemos e que não conseguimos expressar.


RK: Em realidade encontram expressão quando se está sob pressão.


M: Como vocês chamariam isso?


AAB: Está relacionado com a intuição, uma intuição que ainda não se tornou uma ideia. Se mantiverem a pressão, a intuição em gestação se torna uma ideia; então vocês a firmam. Não se trata mais de sentir, mas de saber.

[Continua lendo]:
Em última análise, estas Regras ou Fórmulas de Aproximação dizem respeito, principalmente, ao aspecto Vida ou shambállico. São as únicas fórmulas ou técnicas objetivadas existentes que contêm a qualidade que permitirá ao aspirante compreender, e oportunamente expressar, o significado das palavras do Cristo: "Vida mais abundante". Essas palavras se referem ao contato com Shamballa, cujo resultado será a expressão do aspecto vontade. Todo o processo de invocação e evocação está ligado a essa ideia. O fator invocador é sempre o aspecto menor, o que é uma lei inalterável por trás de todo o processo evolutivo. Trata-se, necessariamente, de um processo recíproco, mas, em tempo e espaço, se poderia dizer, em termos gerais, que o menor sempre invoca o maior, e são os fatores maiores então evocados que respondem, de acordo com o grau de compreensão e tensão dinâmica, demonstrados pelo elemento invocador, o que a maioria não compreende. Vocês não trabalham no processo evocador. Esta palavra significa apenas a resposta daquilo que foi alcançado. A tarefa do grupo ou aspecto menor é invocadora e o êxito do rito invocador é denominado evocação.

Portanto, quando a sua vida for fundamentalmente invocadora, a evocação da vontade virá. Só será realmente invocadora quando a personalidade e a Alma estiverem fusionadas e atuarem como uma unidade conscientemente combinada e enfocada. Ibid., pág. 35

Gostaria de ter uma discussão aberta sobre esta frase que o Tibetano considerou tão importante que a repetiu outra vez esta semana: “ Primeiramente chamarei a atenção sobre qual deve ser a atitude básica do postulante à iniciação: de propósito, regido pela razão pura e se processando como atividade espiritual. E vocês poderiam associá-la com a seguinte frase: “Portanto, quando a sua vida for fundamentalmente invocadora, a evocação da vontade virá”. Isto realmente tem relação com essa primeira declaração.


RK: Posso reiterar o que me chamou a atenção na semana passada? Propósito, Razão Pura, Atividade Espiritual - aqui ele sublinha toda a vida da Tríade.

Propósito Razão Pura Atividade
Atma Budi Manas

AAB: Que se relaciona com a personalidade através do Antahkarana.


RK: Que é para a Mônada o que a personalidade é para a Alma.


AAB: Exatamente. À medida que lemos estas instruções vocês descobrirão, como aconteceu comigo, que confundimos Plano e Propósito. Creio que aí está todo o tema de discussão. Cooperamos mais ou menos com o Plano. É uma coisa da Alma. Mas qual é a diferença entre Plano e Propósito?


FB: O Plano é a função principal da Hierarquia em relação com sua atividade com os seres humanos; o Propósito é a meta da Hierarquia, à medida que avança em suas vinculações.


AAB: Eu diria que é em relação às atividades da Hierarquia nos três mundos e não só com o reino humano.


JL: O que podemos dizer sobre a vida invocadora?


AAB: Aqui temos um exemplo. Quando o grupo da Sede for invocador, em toda sua vida com relação à Escola, necessariamente evocará algo nos estudantes, mas não é que se proponha ser invocador. Se posso estabelecer uma relação com um estudante, atender suas necessidades de alguma maneira, descobrirei que foi estabelecida uma relação. Uma evocação é um reconhecimento, pela parte do agente evocador, da fonte que invocou. Também, este grupo da Sede precisa se tornar invocador para o mundo. É uma espécie de cadeia. Nunca seremos invocadores a menos que sejamos responsivos à invocação dos estudantes e nos tornemos evocadores.


RK: Ser invocador não significa uma relação de dualidade, mas a relação de um triângulo. Se é invocador estimulando o outro para que extraia o terceiro fator. A vida fusionadora é evocada, e esse é o terceiro fator entre os dois.


AAB: Há também a grande cadeia da Hierarquia que Roerich menciona. O menor invoca a resposta do mais elevado. O mais elevado invoca algo ainda mais elevado, e temos assim uma cadeia de Hierarquia. O que agora se necessita é do poder invocador de toda a humanidade, de toda a Hierarquia e de Shamballa, a fim de realizar o Propósito. O grande problema diante do Senhor do Mundo é produzir um enfoque simultâneo em todas as partes.


RK: O Tibetano diz que o primeiro aspecto só pode atuar na síntese.


AAB: Exatamente. Esse é o problema, como alcançar a síntese. A mente sempre se intromete e impede a síntese. Este assunto de ver o bom em todas as partes e infundi-lo e planejá-lo de maneira que se torne uma força unificada, dinâmica - é isso o que temos que fazer no trabalho de boa vontade ou em qualquer outro trabalho que empreendamos.


FB: O Tibetano disse que o Novo Grupo de Servidores do Mundo é de fato o salvador da humanidade e que a boa vontade é a força salvadora. Quando invocamos a força salvadora não estamos invocando somente uma entidade, mas a expressão ativa na família humana da Vontade-para-o-Bem. Quando fusionarem e reunirem toda a boa vontade na humanidade, terão força de sobra para salvá-la.


M: Será que temos boa vontade suficiente?


AAB: Tenho certeza de que temos, mas a limitamos para a família, para o grupo, para a nação. É separatista, enquanto que o que necessitamos é de boa vontade para o todo. A boa vontade está para a Vontade-para-o-Bem como a emoção está para o amor. Vocês têm sentimento e emoção, mas eles são o aspecto inferior do amor. A boa vontade está em toda parte, mas é separatista. A boa vontade deve se tornar o canal para a Vontade- para-o-Bem e a emoção o canal para o amor.


P: O Tibetano disse que o grande muro protetor é construído de boa vontade. Podemos compreender facilmente que a força salvadora seja a boa vontade, mas que o muro protetor seja boa vontade é algo que leva esse conceito um passo mais além.


LM: O poder unido que anima uma nação - é o que chamo de muro protetor. A atitude que a Grã-Bretanha mostrou frente à Alemanha é um exemplo de todas as pessoas criando um muro protetor.


AAB: Sim, mas acho que há uma diferença. O Tibetano diz que as massas são mais sensíveis à boa vontade do que os indivíduos inteligentes. As pessoas inteligentes poderiam ser mais poderosas se trabalhassem de maneira mais consciente. O amor materno é a oitava inferior do amor divino. Até o presente essa capacidade reside principalmente na natureza instintiva - algo que a humanidade só mostra nas emergências. Quando alcança o nível da mente, intervém o quinto princípio, o muro obstrutor.


JL: Contra o quê estamos construindo um muro protetor e, se as forças do mal forem eliminadas, qual é o uso desse muro?


AAB: O mal cósmico existe desde o começo do mundo. A Sra. Besant disse no livro Avatares que a substância do nosso planeta e a matéria de que é feito o sistema solar, estão tingidos de carma. Temos que tratar com o que é. Venho à encarnação com um corpo de matéria emocional e uma mente já tingidos por carma. Observem algumas pessoas e verão que o equilíbrio é perfeito; em relação a qual aspecto predomina, eles estão em pé de igualdade. Com pessoas como nós, predomina o bem. Mais além desse ponto de equilíbrio vocês têm o predomínio do mal, e o bem se converte em algo negativo. Depois desta grande crise mundial, nos dirigiremos para um período mundial no qual a humanidade como um todo será muito parecida com o que vocês e eu somos agora. Não somos o mal; estamos batalhando todo o tempo. Posso ser egoísta e irritável, e vocês também. O Tibetano disse que temos que fazer o mal retroceder para o lugar de onde veio. O mal é útil em seu próprio lugar, mas ele saiu e firmou controle onde não deveria ter.


P: Não é porque a massa seja maligna; é apenas resultado da inércia e da ignorância. Seu impulso não é fazer o mal.


AAB: Sim, é; é o impulso para o materialismo, e as pessoas têm que tratar com ele no lugar em que estão porque têm que aprender pela experiência. Do nosso ponto de vista, isso é o mal.


P: É preciso haver um certo materialismo para existir. O egoísmo mental das chamadas classes altas tem muito mais a ver com o mal.


AAB: Não se esqueçam de que sempre há uma Loja do mal. Falamos em termos abstratos sobre o bem e o mal. Do nosso ponto de vista, o bem está enfocado na Hierarquia; paralelamente, há a Loja Negra, que possui mais poder que a Hierarquia no plano físico. A Loja Negra promulga o mal e estimula o egoísmo e a separatividade. Foi somente nos últimos quinze meses que a Loja Branca começou a obter vantagem. A luta da Loja Branca foi perdida na Atlântida. Um dos sinais mais esperançosos é que a Grande Loja Branca não está movendo um só dedo para nos ajudar. Não precisam fazê-lo, pois sabem que podemos fazê-lo nós mesmos.


P: Eles creem que podemos fazê-lo nós mesmos. Eu me preocupo mais com as pessoas muito boas, os indivíduos altamente desenvolvidos, que são chamados a abandonar os modos antigos. Conheço um homem desses, que está nadando com toda sua força contra a maré desta nova era. Ele crê que os antigos métodos são os únicos que valem a pena. Há muitas pessoas assim.


AAB: A mente inferior está ativa neles.


P: Não conseguem acreditar que as coisas que foram boas no passado já não são mais.


AAB: Em todos os países há reacionários. São eles que estão bloqueando a Grande Loja Branca.


FB: Uma das primeiras coisas que aprendi sobre a Hierarquia quando estive na Sociedade Teosófica foi que a Grande Loja Branca permanece entre a humanidade e seu carma, e agora descobrimos que foi a Loja que precipitou esta crise da guerra.


AAB: Estavam prontos para lutar.


FB: E consideraram que a humanidade estava pronta, e que o mal que está solto é o carma acumulado e que a Loja Negra o está utilizando. Mas a Loja Negra está ficando sem munição - o carma acumulado da humanidade está se esgotando e a boa vontade está aumentando. A vitória está assegurada, a menos que se detenha a boa vontade.


AAB: É o que estão tentando fazer, deter a boa vontade.


FB: Agora a Hierarquia nos diz para construirmos o muro protetor, nos unirmos através da vontade-para-o-bem, que é a força salvadora. É a energia da boa vontade saindo da humanidade - as munições das forças espirituais - que ganhará a batalha. Nunca compreendemos o significado da boa vontade, das coisas que nos pediram para fazer. O processo invocador que está sendo sustentado pela Escola Arcana faz com que essa vontade seja forte o suficiente e que cumprirá a tarefa.


M: Como se pode contrabalançar o egoísmo?


AAB: Estimulando a boa vontade em nós mesmos e em cada pessoa que encontramos, e todos juntos irradiando boa vontade no mundo. A dificuldade está nisso. Tomem a mim, por exemplo: sou capaz de falar com pessoas inteligentes, mas não consigo descer ao nível de Fulano e Beltrano. Eles não entenderão do que estou falando.


M: Não será maravilhoso quando pudermos expressar boa vontade sem ter que aspirar pelo bem? O Tibetano disse que não expressamos amor realmente, mas sim a vontade de amar. Ele diz que o amor é espontâneo, como a respiração e o serviço.


AAB: Algum dia a boa vontade será um hábito da consciência. O Bem é o propósito divino. Quando vocês tomarem a terceira iniciação vocês saberão.

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