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Alice Bailey - Diálogos com Estudantes da Escola Arcana


Sexta-feira, 14 de maio de 1943

[A leitura por AAB do novo artigo do Tibetano em 7 de Maio de 1943, A Nova Religião Mundial ainda estava fresca na mente de todos, por isso essa reunião teve um formato diferente. Mais que apresentar uma palestra e, deste modo, estabelecer um tema para posterior debate, AAB deixou que o diálogo seguisse seu próprio curso, talvez esperando que fosse a oportunidade para que o grupo respondesse às ideias contidas no artigo.]

AAB: Uma das coisas que me impressiona é como fomos guiados no trabalho da Escola Arcana ao nosso ponto de enfoque - nosso enfoque no alinhamento, no contato com a Alma, no discipulado e na realidade da Hierarquia.


WM: A própria ideia de discipulado está evoluindo. As coisas que um discípulo sabe agora como discípulo são coisas que os discípulos de antigamente não sabiam.


AAB: São coisas que um iniciado saberia.


FB: O mesmo vale para os iniciados e Mestres. Até os adeptos e os Mestres da época atual são mais perceptivos.


WM: É o processo evolutivo.


AAB: Não creio que em nenhum dos livros esotéricos se tenha transmitido algo sobre a relação entre a Mônada e a personalidade separadamente da Alma. Está muito além da realização de qualquer pessoa da Escola. Acho que a função de um grupo como este é que possa divisar a possibilidade de algo novo, e por meio do pensamento trazer à existência aquilo que mais tarde será do conhecimento de todos.


HR: Você chamaria de ancoragem?


AAB: Não, nada pode ser ancorado até que tenha forma física. É preciso que exista em uma forma do plano físico para que possa ser considerado devidamente ancorado.


RK: É esse o quadro no sentido mais amplo. Temos que trabalhar o nosso alinhamento diretamente.


AAB: Temos:

Humanidade Hierarquia Shamballa
Antahkarana Alma Shamballa

A Hierarquia e a Alma saem de cena, mas falta muito tempo para isso, portanto quero me agarrar à minha alma, e não quero me livrar da Hierarquia ainda.


WM: Não é sempre bom ter os olhos em uma meta? Trabalhar para o mais elevado que se possa conceber, mesmo que se caia abaixo disso.


AAB: O que creio que está no fundo da mente do Tibetano é a meta para os discípulos do mundo de hoje, pessoas como nós; não se trata da Mônada, que é uma visão inalcançável. A meta é o total contato com a Alma e a terceira iniciação.


WM: Nós nos familiarizamos com o que subjaz mais além.


AAB: O Tibetano nos disse que depois da terceira iniciação a consciência não se aplica a nenhum estado de ser que possamos registrar. Isto não significa nada, apenas indica uma visão que podemos conseguir quando tivermos completa consciência da Alma, e consciência da Alma está muito além da consciência da pessoa comum de hoje, tal como o Mestre está além do terceiro grau.


RK: Aqui há uma esfera completa - o Uno, no qual vivemos, nos movemos e temos o nosso ser. Esta esfera é uma esfera fechada. As pessoas como nós e a Hierarquia estão dentro dessa esfera e todas as mudanças de qualidade aparecem como tensão (como o calor em um ovo) intensificada dentro da esfera, e nosso esforço por utilizar a mente e nos estimularmos uns aos outros cria tensão e aumenta o poder. Enquanto as aparências permanecerem, um ovo sempre parecerá um ovo, até que o pintinho saia, mas há drásticas mudanças em processo. É o que está acontecendo. Estamos dentro do ovo.


WM: Não seria possível que a habilidade do discípulo na época Atlante de pensar e visualizar tenha possibilitado que estejamos em uma volta mais elevada da espiral nesta era?


AAB: Certamente, mas eles não pensavam. Foram eles que trouxeram a visão. Foram os místicos, e nós viemos daí. O que vamos fazer com a visão?


WM: Talvez possibilitemos para os próximos que alcancem a consciência Monádica.


AAB: Consciência Monádica, não - estados de registro para os quais não temos nome.


RK: Só os homens e os Logos são criadores, como recordarão aqueles que estudaram a lei oculta. Criamos por meio do pensamento, porque a criatividade é trazer uma ideia e torná-la objetiva. Nós pensamos. Se o Logos também cria, não está Ele em Seu próprio nível pensando, embora não seja com nosso tipo de célula cerebral?


AAB: O valor de A Doutrina Secreta para o estudante comum é que amplia a mente, eles se tornam mais inclusivos, e a mente abstrata começa a funcionar. Talvez nesta volta mais elevada da espiral tenhamos também que começar a ampliar e encontrar o equivalente para nós de A Doutrina Secreta.


JL: Em alguma parte do terceiro volume de A Doutrina Secreta HPB diz, respondendo a uma pergunta, «Eu não disse isso». Aparentemente, até mesmo no círculo interno não foi compreendida.


WM: Eu posso entender o Tratado sobre Fogo Cósmico melhor que utilizá-lo.


AAB: Há uma visão apresentada por esse livro. É convincente e nos faz sentir que o compreendemos. É talvez o mais abstrato de todos os livros.


LM: Conseguimos pedacinhos de conhecimento, como medalhas.


WM: Não há algo aí a respeito do veículo etérico? Eu tive que fazer um trabalho sobre o veículo etérico e usei tanto o Tratado sobre Magia Branca como o Tratado sobre Fogo Cósmico, e achava que o havia entendido.


AAB: Ao tratar do corpo etérico, vocês ainda estão no plano físico. Não há nada abstrato sobre o plano etérico. Essas coisas são grandes demais para nós, mas o próprio fato de que verbalizamos as nossas ideias sobre esses temas e nos esforçamos a contextos mais profundos, provoca algo em nós. Creio que põe em atividade as células cerebrais que antes estavam em repouso.


UC: É por isso que o Tibetano nos diz para refletirmos sobre isso?


AAB: Sim, temos o mundo fenomênico, o mundo de significados (a pessoa comum está tentando compreender o mundo de significados) e por trás do mundo de significados está a vida, e sobre a vida não compreendemos nada.


JL: Um Mestre tem uma Alma? A Alma desaparece.


AAB: Provavelmente não é possível compreender até ser um Mestre. Não a Alma, o corpo causal - a Alma está aí o tempo todo. Não é preciso haver tantas formas para atuar. A forma da Alma se vai, e você é apenas a Mônada.


LM: Um Mestre trabalha totalmente no plano Monádico?


AAB: Não, acho que não. Eles têm consciência monádica. Suponho que pela lei da analogia poderíamos esclarecer isso. Se eu tenho consciência de Alma, significa isso que trabalho no plano da Alma ou no plano físico? Eu sou consciente da Alma à medida que trabalho.


RK: Creio que diz que o Ashram trabalha no plano búdico, e os Mestres no átmico. Penso que os Mestres funcionam na Tríade.


AAB: Vocês podem ter flashes de consciência da Alma se estão fazendo um trabalho, mas não estão trabalhando nos níveis da Alma. O Mestre terá flashes de consciência monádica, mas estará trabalhando na Tríade.


RK: É realmente a verdadeira ciência da Era Aquariana, a ciência da vida. Por isso é tão difícil. É toda uma sequência belamente planificada, porque a ciência de invocação e evocação é a que evoca a vida.

[Com esta referência à ciência de invocação e evocação («a nota-chave da religião mundial vindoura... para a qual a oração, a meditação e o ritual assentaram as bases»), a conversa se desvia para algumas das ideias do artigo que foi lido na semana anterior e seu potencial impacto no mundo.]


N: Creio que é onde poderíamos nos treinar para fazer algum trabalho prático nos primórdios desta ciência. Algumas das formulações que você nos deu no domingo e aqui são de profunda importância. Lembro que quando era jovem a ênfase recaia na Sexta-feira Santa e a Páscoa era secundária. A Sexta-feira Santa pertence ao passado; tem a ver com a forma.


AAB: Vocês não acham que talvez uma das coisas que podemos fazer na Escola depois que a guerra terminar e tivermos reunido os estudantes de todo o mundo é praticar a ciência da invocação e evocação em abril, maio e junho e empregar os nove meses seguintes em nos prepararmos para isso? Há algo a se fazer aí.


VC: Você disse que os três meses são o período de poder criativo, e que os outros nove meses são o período de gestação.


AAB: Temos que fazer alguma coisa e nos ocupar de toda esta ciência de invocação. Ouvimos falar muito da invocação no aspecto escuro. Talvez sejamos capazes de fazer algo para produzir o autêntico encantamento. Os outros alcançam as forças materiais.


FB: No domingo você deu a sugestão de que daqui em diante a Escola Arcana tivesse três reuniões em vez de uma durante estes três meses.


AAB: Até agora a única que temos é a de Páscoa. Já fizemos algo no Plenilúnio de junho. Vocês veem que há possibilidades neste grupo, se pudermos falar, planejar e pensar. Deveríamos ser capazes de preparar a Escola para um clímax, tal como as pessoas se preparam para um clímax na Sexta-feira Santa e deixar que se estenda pelos três plenilúnios. E tomar nove meses para nos prepararmos para isso.


RK: Creio que já assentamos as bases para isso com nossa meditação grupal «coroar de êxito o trabalho espiritual no mundo». Agora temos que tomar as medidas necessárias.


AP: Parece um pouco iconoclástico dizer que vamos nos esquecer da Sexta-feira Santa. Como se pode chegar à Ressurreição sem a Crucificação? Basta mudar a ênfase. Queremos enfatizar a Páscoa e não a Sexta-feira Santa.


AAB: Vocês não acham que a Sexta-feira Santa é um símbolo do passado?


AP: Não, acho que em todas as nossas crises há uma crucificação, antes de uma ressurreição.


WM: Há um fluxo e um refluxo, mas não deveríamos permanecer no fluxo? A destruição só está abrindo caminho para a construção e vocês mantêm os olhos no construtivo.


AAB: Aqui há uma ideia que se vincula com a anterior. A suástica é a cruz da matéria. Está passando. A cruz do Cristo oportunamente também terá que passar. Passará muito mais rapidamente do que a cruz da matéria. A cruz do Cristo não é a morte, exceto em nossa imaginação. Creio que o que tem que ser mudado é a ideia que está por trás. O Cristo disse. «Morte, onde está seu aguilhão»? Não haverá medo da morte e por isso a Sexta-feira Santa não significará nada. Estamos mantendo o foco na morte do Cristo, mas não haverá morte, tal como compreendemos a morte na atualidade.


N: Outra coisa que acredito que deveríamos refletir é que a igreja se converteu no túmulo do Cristo; a pedra da teologia rolou pelo sepulcro. Fizeram a pedra do egoísmo e da separatividade rolar sobre a porta do coração.


AAB: Até mesmo entre os membros da Escola há muito ressentimento sobre o Cristianismo frente à astrologia, ao Budismo, etc. Terá que haver muito tato para fazê-lo; terá que ser apresentado em termos cristãos.


FB: Há duas maneiras de fazê-lo e teremos que utilizar um pouco de cada. Quando o ciclo de invocação chegar ao fim e a força de Shamballa for usada com êxito em sua influência construtiva, e pudermos nos sintonizar com ela e utilizá-la para este propósito, o que falamos a respeito de esquecermos a Sexta-feira Santa acontecerá automaticamente. Creio que será melhor deixar de falar da Sexta-feira Santo e falar da Páscoa.


AAB: Não creio que possam evitá-lo. Creio que há muito medo na mente de todos e que vamos magoar as pessoas, que vamos tirar algo delas. Provocará ressentimentos. Se vocês olharem para trás na própria vida verão períodos em que perderam a fé. Foi o melhor que pode acontecer.


HR: Vocês foram suficientemente fortes para suportá-lo, mas se tiramos a segurança da pessoa comum, temos que lhe dar algo de volta.


AAB: Vocês estão tirando delas o que para elas são fatos reais. Uma vez falei ante um grupo batista sobre o Cristo vivo, e um senhor mais velho se levantou e disse, «Você está levando o Cristo para longe de nós». E Maria disse no sepulcro, «Eles tiraram o nosso Senhor». Vocês tirarão algo e se as pessoas chegarem ao alcance da nossa influência, não vou protegê-las da oportunidade. Não creio que tenhamos o direito de proteger demais as pessoas. Se elas podem viver a guerra, podem viver esta mudança.


LM: O que tenho em mente é o que vamos dar. Não podemos dar a elas o que temos.


AAB: Temos que dar a elas o que temos, em palavras que possam compreender. Precisamos pôr este artigo do Tibetano nas mãos de mais pessoas, nas mãos da igreja. A reação das pessoas nos guiará a respeito do que deveríamos fazer.


WM: Não acham que ao término da guerra as pessoas estarão mais dispostas a pensar em termos de ressurreição?


AAB: Ao término da guerra as pessoas se tornarão espíritas. A Rússia, a Grã-Bretanha, os países escandinavos, todos se tornaram espíritas depois da última guerra. Atualmente na Inglaterra há mais pessoas nas igrejas espíritas do que nas igrejas estabelecidas. Talvez seja por isso que o Tibetano venha com esta apresentação neste momento. Creio que cinco por cento do espiritismo é correto e autêntico. Admitindo-se cinco por cento, admite-se toda a história. Temos que ver como vamos lidar com isso.


WM: Creio que as pessoas estarão mais dispostas a se concentrar na Ressurreição.


LM: Será que a ciência não vai demonstrar o fato da sobrevivência depois da morte?


AAB: Creio que a sobrevivência está provada, mas não a imortalidade. A sobrevivência é uma das grandes contribuições do espiritismo.


HR: A grande descoberta científica que provará a realidade da Alma não virá até que pessoas em número suficiente tenham consciência de Alma. Será desta maneira?


AP: Creio que isto será definitivamente demonstrado, tal como os Curie demonstraram os raios violetas, que são a Alma do reino mineral. Foi a vinda conjunta dos Raios Terceiro, Quinto e Sétimo que propiciou isso, e agora será a mesma coisa.


AAB: Suponho que eles provem cientificamente. Estarão provando apenas algo que todo mundo sabe.


ES: Em diferentes partes, inclusive no Tratado sobre Fogo Cósmico e outros escritos do Tibetano, inclusive no Os Próximos Três Anos, o Tibetano dá datas definidas que provam o fato da continuidade da vida e dispersam o medo da morte. Vi declarações em escritos mais recentes que adiam esses acontecimentos para o próximo século.


AAB: A guerra interveio e causou o atraso.


JL: Eu fiz uma experiência com a ideia da imortalidade com as pessoas e descobri que se elas podem aceitar a sobrevivência, aceitam a imortalidade. No momento em que se chega além do plano físico, elas creem que são imortais. Para elas é tudo o mesmo, não sabem qual é a diferença. Os espíritas, como grupo, creem que são imortais.


AAB: Entre os médiuns inteligentes vocês verão que a palavra imortalidade raramente é utilizada. A sobrevivência acontece o tempo todo.


WM: Creio que deveríamos nos concentrar entre hoje e o outono no significado do discipulado, se vamos assumir um trabalho tão grande. Se cada um de nós trabalhar como deveria, saberemos o que teremos que fazer.


FB: Quando se trata de uma proposta de transmitir isso, devemos mostrar o valor que tem. Como probacionários, nós procuramos entendê-la porque achamos que há valor nela. O público compra o que acha que tem valor. Se pudermos mostrar o valor humano desta nova apresentação da religião, as pessoas virão para ela.


RK: A verdade está em nós, e temos que abrir um caminho «pelo qual o esplendor aprisionado possa escapar». Vocês não têm que pôr nada. Vocês limpam o caminho. Se o fizermos para nós, o faremos para o grupo. Na Igreja Católica se coloca um paramento após o outro. No Oriente, tira-se. Olhemos para Gandhi. Da mesma maneira, temos que fazer um desnudamento na religião.


H: A Rainha Ishtar tem que passar por sete portas e se desfazer de uma roupa em cada porta até chegar à sala do meio, quando então estará completamente renovada.


N: Há possibilidades nesta ideia de mostrar os valores. Todos os cristãos gostam da palavra «oração». Na nova religião temos invocação e evocação. Se pudéssemos trabalhar da oração até a invocação e evocação, creio que poderíamos mostrar o valor.


WM: Não é a invocação e a evocação uma forma de oração?


AAB: Que palavra vocês colocariam no lugar de invocação e evocação? Nosso problema é mostrar o valor delas. Nas primeiras etapas temos que começar com palavras que as pessoas compreendam e dar a elas valor e uma nova vida.


RK: Da última vez que falei de invocação e evocação lembrei que não era algo totalmente novo. Era o mesmo que «Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e abri-se-vos-á».


AAB: É uma retradução.


HR: Está aí e não há porque assustar as pessoas com algo novo.


FB: A questão que temos de manter em mente é que não devemos desanimar ninguém. Precisamos tomar as novas verdades tal como as captamos e depois expressá-las usando as palavras apropriadas do dicionário.


AAB: Não creio que importem as palavras que usarmos, desde que expressemos o significado. Se vocês tivessem que lutar com os escritos do Tibetano como eu faço às vezes...


RK: Uma intensa vida subjetiva é a melhor salvaguarda.

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