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CONVERSAÇÕES ESOTÉRICAS


Capítulo II

A MAGIA INDIVIDUAL

Na nossa palestra do último mês, estudamos o tema da Magia sob o ponto de vista universal, deixando já assentado o fato de que, sendo o homem uma centelha da Divindade e "feito à Sua imagem e semelhança", como afirmam todas as grandes filosofias e religiões da Humanidade, estava, também, amplamente capacitado para exercitar os poderes da Magia no aspecto criativo mais afim com sua natureza e grau de evolução, ou seja, aquele que se refere à criação das situações cármicas e dos ambientes sociais, assim como às grandes conquistas científicas, filosóficas, religiosas, artísticas etc., que caracterizam a civilização humana e a própria história do mundo.

Tendo chegado à conclusão de que Magia é um termo eminentemente científico, como os investigadores esotéricos pretendem demonstrar, já que o seu significado implica "incorporação de energias para a criação de formas", nossa atenção especial, no que se refere ao ser humano, terá que ser focalizada nos dois grandes sons A.U.M. e O.M., o mesmo que fizemos quando estudávamos a Magia da Criação Universal.

No atual estado de evolução da humanidade, somente um número reduzido de seres humanos está capacitado para pronunciar o O.M. sagrado em sua entonação correta. A imensa maioria ainda está submersa, principalmente, na voragem dos três mundos inferiores, mental, astral e físico, que são seus níveis peculiares de expressão psicológica e só acertam a pronúncia de um ou de outro dos três sons constituintes do A.U.M. Como todos sabemos, esses sons estão essencialmente relacionados com os três primeiros Reinos da Natureza, o Mineral, o Vegetal e o Animal, de cujos componentes químicos, se podemos assim dizer, o homem extrai a matéria que necessita para construir seus veículos de expressão psicológica ou cármica, sendo esta a relação ou analogia existente:

A. Reino Animal - Mente Concreta
U. Reino Vegetal - Veículo Emocional
M. Reino Mineral - Corpo Físico

A atração especial que os seres humanos sentem por algum determinado veículo de expressão determinou a clássica definição psicológica da humanidade em três tipos bem definidos: o mental ou intelectual, o emocional ou místico e o material ou instintivo. Cada um desses tipos faz ressoar, de modo preponderante em suas vidas, um dos três sons que compõem o mantra criador A.U.M., seja o que corresponde à nota A., à U. ou à M. Em casos muito afortunados e sob certas circunstâncias favoráveis, alguns seres humanos podem fazer ressoar dentro de si dois desses sons ou notas vibratórias e uma minoria muito seleta, seguramente aquela que Cristo definiu como "sal da Terra", chegou a um determinado grau de integração espiritual que a capacita a emitir, ao longo de sua existência, as três notas chaves do A.U.M., encontrando-se, portanto, preparada para dar o passo seguinte no processo evolutivo de sua vida, ou seja, o que lhe permitirá ouvir e, mais tarde, pronunciar o som mágico O.M., que corresponde à vida eminentemente espiritual e é, esotericamente falando, o "som de Liberação", cuja entonação correta a qualificará para entrar conscientemente naquela desconhecida dimensão dentro da vida da Natureza, misticamente definida como o Quinto Reino ou Reino dos Céus.

Assim, a Magia Organizada, no que se refere ao ser humano, expressa o próprio sentido da evolução, que obedece sempre a um permanente impulso de crescimento que, surgindo do centro de consciência que chamamos "o eu", estende-se em ondas espirais cada vez mais amplas, buscando sua união com outros centros de consciência, maiores e mais inclusivos. No pessoal e psicológico, o sentido evolutivo, para dizê-lo de algum modo, estende-se, desde a consciência física, situada no centro do baço, até a consciência mental, no centro da fronte, passando pelo centro do plexo solar, onde a imensa maioria da humanidade deposita uma maior quantidade de atenção ou de consciência. Segundo essa descrição e seguindo a ordem de sons da Natureza, o mantra criativo A.U.M. vai evoluindo, através de cada um desses centros de consciência, para o mantra solar O.M., que, segundo nos é dito esotericamente, é o Som de Ressurreição e também "a Palavra Perdida" a que se referem alguns escritos muito antigos, constituindo, também, a "Palavra de Passe" para penetrar nos Centros Iniciáticos. A localização desse tipo de consciência é no centro coronário, o "Lótus de Mil Pétalas", quando este está perfeitamente desenvolvido.

A Magia suprema do ser humano, o destino de sua vida e seu caminho de projeção cósmica se estende conscientemente através daquele sutilíssimo "fio de luz" chamado, esotericamente, "Antakarana", destilado da mente do discípulo em processo de integração espiritual, que vai do Centro Ajna ao Centro Coronário, ou seja, do intelecto à intuição. No centro intelectual, ou mente concreta, inicia-se o grande percurso e a grande transmutação criadora que converterá o A.U.M. no O.M. Daí a importância que é dada, ocultamente, ao centro da fronte para o desenvolvimento da Magia Organizada que opera através de cada um dos centros de consciência, fazendo ressoar sua particular nota invocativa e irradiando o magnetismo especial correspondente a cada um desses centros, para "dinamizar" o espaço com o tipo definido de éter que substanciará, concretizará e objetivará as formas etéricas requeridas, psíquicas ou mentais, cuja elaboração ou construção constituem o próprio segredo da Magia.

Uma pessoa de tipo primitivo, isso dito sem qualquer sentido pejorativo, possui uma consciência enfocada principalmente no físico e sua natureza psicológica responde somente à nota M., o terceiro dos grandes sons criadores da Natureza. As pessoas de tipo comum ou, como são definidas, "a média da Humanidade", respondem a dois dos ditos sons, ao M. e ao U., sendo principalmente emocionais e psíquicas em suas naturezas psicológicas. Quando uma pessoa evoluiu suficientemente no aspecto mental e, consequentemente, torna-se capaz de controlar suas reações emocionais e seus instintos primários no sistema físico, resulta uma personalidade tripla no sistema psicológico e faz ressoar, em cada uma das fases de sua vida, o som criador A.U.M. que, segundo nos é dito, corresponde à Vontade do Criador de Realizar Sua Obra no Universo.

Contudo, é somente quando o intelecto ou a mente intelectual concreta está muito aprofundada no regime oculto e é capaz de controlar conscientemente suas reações psicológicas mais íntimas, o que é um sinal evidente de que construiu um grande trecho da luminosa "ponte de luz" do Antakarana, que vai da mente inferior à superior, que pode penetrar em alguns dos segredos ou mistérios que ocultamente definimos como Magia Organizada.

Ao chegar a esse ponto, insisto que a Magia, atividade que rege a evolução das formas, tem caráter universal e que qualquer centro de consciência, por menor que seja, produz Magia, pois, apesar de sua insignificância, possui, como o Criador, intenção, ideia e forma, ou seja, um propósito evolutivo, um destino claramente diferenciado no sistema da espécie à qual pertence e uma forma definida, mediante a qual aquele destino deverá ser cumprido na evolução geral da Natureza. É a Magia que responde à Vontade do Criador de "Crescei e Multiplicai-vos". Mas, ao nos referirmos concretamente à Magia Organizada que corresponde à humanidade, deveremos considerar o centro mental em que o ser humano opera conscientemente, quando chega a certas fases muito avançadas no caminho da evolução e pode produzir à vontade "certos prodígios externos", ou determinar "alguns efeitos ambientais", cujas características são análogas às que se produzem no sistema organizado da Natureza, assim como o Criador o determinou.

O Mago, seja Branco ou Negro, pode criar "prodígios" ou maravilhas no contexto ambiental, mas a natureza desses fenômenos, logicamente, terá que ser fundamentada no poder de concentração mental sobre uma ideia determinada, obedecendo ao impulso de uma intenção definida e impregnando aquela ideia de dinamismo suficiente para provocar, nas profundezas do éter, a reação necessária que deve produzir, por substantificação, determinadas formas ambientais, físicas ou psíquicas. Nossa conversação de hoje não tem a intenção de se estender em detalhes sobre a classe de prodígios ou fenômenos tangíveis que um verdadeiro Mago pode produzir, seguindo as linhas de um processo inteligentemente calculado e dinamizado pelas energias de uma poderosa intenção de base. Mas é preciso afirmar que o Mago Negro utiliza o som A.U.M. operando do centro do mesmo, não podendo alcançar, apesar do elevado grau de integração de sua personalidade e controle de si mesmo, as notas vibratórias do O.M., estando incapacitado para poder penetrar nos mistérios infinitos da vida espiritual devido às suas finalidades pérfidas. O Mago Branco, pelo contrário, controla o som triplo A.U.M. do próprio centro do mantra solar O.M., motivo pelo qual possui não somente uma integração de caráter pessoal ou psicológica, mas também uma perfeita integração no sistema espiritual, sendo maiores e mais sutis os prodígios e maravilhas que pode produzir referentes à Magia organizada, tal como opera no nosso mundo. Ao chegar a esse ponto, percebam que, do ângulo esotérico, a Magia Organizada é considerada de modo muito distinto em relação ao processo evolutivo da humanidade, estabelecendo fronteiras muito bem definidas entre a Magia Branca, que produz o Bem e a Magia Negra, que determina o Mal, sendo esses dois conceitos um mistério iniciático que, um dia, será revelado ao verdadeiro discípulo na senda espiritual. No entanto, a compreensão intelectual desses dois extremos será maior se estabelecermos a seguinte analogia:

A. Mente concreta Forças lunares
U. Poder psíquico Forças lunares
M. Vida instintiva Forças lunares
O. Mente abstrata Forças solares
M. Amor inclusivo Forças solares
Vontade para o Bem Forças solares

Forças Lunares e Forças Solares

A que exatamente nos referimos quando estabelecemos essa distinção entre as duas qualidades infinitas da Magia? Ou será que ambas não estão devidamente compensadas, tendo em vista que tanto o Sol quanto a Lua têm seu lugar adequado no sistema criador em que nosso Universo se move? Bem, durante esta conversação não vamos discutir o sistema universal nem a Vontade do Criador quanto ao duplo sentido da Magia, mas sim, visando as leis da evolução, nos interessa profundamente tratar de compreender os motivos ocultos de nossa alma, que nos indica corretamente o caminho do Bem como o mais apropriado para resolver as incógnitas da vida e o mais correto para alcançar a paz interna que, ao que parece, é a meta ideal para a humanidade. Sendo assim, para nós será mais importante, sem dúvida, nos aprofundarmos constantemente nesses motivos espirituais e empreendermos o caminho interno como o mais adequado para podermos nos converter em perfeitos Magos Brancos. Espero que esse seja o propósito que guie e ilumine a nós todos durante o curso dessas Conversações Esotéricas. Creio que nos ajudará nesse intento uma pequena explicação sobre o que entender, esotericamente falando, por forças lunares e forças solares. As primeiras são de ordem substancial no esquema evolutivo da Natureza e "seus elementos dévicos" atuam no éter de acordo com um incessante processo de materialização densa das intenções e das ideias que possam surgir, consciente ou inconscientemente, das mentes dos seres humanos. Quando esses elementos dévicos são manejados por algum Mago Negro, seu poder é enorme e podem determinar resultados nefastos no sistema ambiental. Felizmente, existem no mundo muitas pessoas de boa vontade e interesse sincero a favor do Bem que, com sua atitude correta e convenientemente ajustada, "compensam" a atividade das forças lunares e as mantêm à margem dos ambientes sociais da Terra. O sentido de Bem e de Mal e seu reconhecimento espiritual por parte dos seres humanos repletos de boas intenções se encontra, portanto, na distinção estabelecida entre as forças lunares correspondentes às formas densas, ou veículos inferiores utilizados pelo homem e as forças solares, cuja identidade é absolutamente espiritual e constituem os elementos que surgem e se manifestam a partir do centro de consciência causal a que chamamos o "Eu Superior". Como veem, estou tratando o tema sob o ponto de vista mais puramente ortodoxo no nível esotérico, ainda que deixando entrever novos aspectos em questões conhecidas, tais como os que se relacionam com a Magia e com o problema psicológico acerca do Bem e do Mal.

As forças lunares são responsáveis pela construção de todas aquelas formas objetivas que, por sua densidade, servem de veículos aos estados de consciência inferiores da humanidade. As forças solares, como é natural e de acordo com o sentido da luz, constroem as formas subjetivas que serão utilizadas pelos estados superiores da consciência como veículos de expressão espiritual. Portanto, deve ser compreendido que, quando falamos dessas forças lunares ou solares, referimo-nos concretamente ao que, em linguagem teosófica, definiríamos como "eu inferior" e "Eu Superior", ficando o sentido da Magia confinado, então, nos aspectos inferiores ou superiores da mente, que é o receptáculo de todas as energias cósmicas com capacidades de integração no mundo mental, que, mais tarde, servirão de veículos aos estados de consciência dos seres humanos em uma expressão correta ou incorreta, isso dependendo, naturalmente, do grau de evolução que tenham alcançado. Sob esse ponto de vista, o sentido da Magia se esclarece, pois, no que se refere à humanidade, fica reduzido às atividades psicológicas da consciência, com uma derivação correta no sentido evolutivo para a mente superior e outra, menos sutil e, portanto, sujeita a muitos erros de interpretação e de juízo, que se inclina para a mente inferior. Deve ser considerado, contudo, que esses aspectos da mente, tanto no elevado e sublime quanto no denso e material, estão repletos de níveis ou estratos dotados cada qual de sua qualidade vibratória correspondente, razão por que se compreenderá que existem "infinidades de hierarquias" dentro das forças dévicas, lunares ou solares, que preenchem o espaço de todo tipo de formas psíquicas, sendo estas, em seu conjunto, as que caracterizam os ambientes sociais da humanidade.

A Magia Individual Criadora da Civilização, a Cultura e a História da Humanidade

A compreensão do que acabamos de dizer indubitavelmente nos levará à conclusão de que tudo que acontece num sistema social qualificando um ambiente, caracterizando uma cultura ou determinando qualquer tipo de civilização é tecnicamente Magia, ou seja, a capacidade de utilizar consciente ou inconscientemente, correta ou incorretamente, as forças etéricas que povoam o espaço, esotericamente chamadas "dévicas", que são os agentes invisíveis da Divindade, para criar todas as formas imagináveis no esquema evolutivo da Natureza, criando os veículos expressivos para cada uma das espécies viventes não importa em que Plano, Reino ou Raça dentro do nosso Sistema Solar.

Assim, o termo Magia tem para o ocultista um valor eminentemente científico e total, já que denota, na Vida da Divindade, uma extraordinária capacidade de Síntese que, decomposta na ordem trina de Intenção, Ideia e Forma, constitui a base da Criação universal. O ser humano limita-se a "reproduzir" essas atividades em sua pequena vida. O desenvolvimento de seus veículos superiores de consciência, o mental, o búdico e o átmico, que, como sabem, constitui a Tríade Espiritual ou Veículo da Mônada, o capacita a utilizar os altos segredos da Magia mediante a alta Alquimia de transmutação que sujeita seus veículos ou corpos inferiores. Essa transmutação origina uma modificação sensível no sistema social até ao ponto de criar as estruturas de uma nova ciência, uma nova cultura ou uma civilização mais esplêndida. Esse é o ponto que deveremos analisar mais atentamente sob o ângulo esotérico da Magia Organizada no nosso mundo, já que a compreensão do princípio criador atuante e o exame inteligente das dificuldades que devem ser vencidas para apagar da consciência da humanidade os vestígios de um passado tradicional gasto, ou sem viço, que cristalizam a obra cíclica dos tempos, poderá determinar, com o tempo e o correto exercício da razão, uma poderosa Catarse coletiva que afetará todos os níveis de consciência da humanidade e produzirá uma nova ordem social e as bases culturais que o novo tipo de civilização exija.

Bem, creio que todos sabemos isso, ao menos intelectualmente, mas o que mais interessa agora é aceitar o desafio dos acontecimentos que estão se produzindo e causando as situações ambientais e, mentalmente, tornar verdadeira uma nova capacidade criadora capaz de "remover positivamente os éteres" e atrair para as áreas etéricas da Terra a maior quantidade possível de "devas solares", já que definitivamente são esses os que possibilitarão as atividades superiores da consciência e, por consequência, obrigarão o retrocesso das forças lunares ou inferiores que se agitam nos estratos psíquicos mais densos e baixos do nosso mundo. É a essa condição mental e psíquica superior e à atividade de transmutação que ela imprime aos éteres condensadores da substância material dos planos inferiores da Natureza que o investigador esotérico deve aspirar constantemente, sendo a meta da mesma a coordenação inteligente de todos os estados de consciência da humanidade, visando o bem do conjunto e a estruturação do sistema social justo, harmoniosamente retribuidor, que os novos tempos exigem. Poderemos chegar a admitir que o estudo esotérico é uma investigação serena e profunda das leis mágicas que regem o Universo e que os seres humanos, um dia, deverão chegar a manejar sábia e conscientemente essas leis para colaborar com a Obra de perfeição universal? Em todo o caso, as ideias expostas durante essa conversação de hoje constituem, ou ao menos deveriam constituir, um formidável desafio à nossa condição de investigadores esotéricos e à nossa capacidade humana de Ser e de Realizar, as duas grandes opções universais a que podemos aquiescer em virtude das leis eternas de semelhança que unem permanentemente nossas vidas com a Vida Infinita de Deus, o Criador...

Pergunta: As forças solares e lunares que o senhor citou têm alguma relação com os Anjos a que as religiões tradicionais se referem?

Resposta: Sim, existe uma relação completa e absoluta. Em nossa conversação de hoje sobre a Magia individual, procuramos dar a essas forças vivas da Natureza um caráter rigorosamente científico, mais que tradicional ou místico. Sob o ângulo esotérico, os Anjos são considerados, na totalidade de suas incontáveis hierarquias, como "os agentes criadores da Natureza", os verdadeiros artífices da Magia Organizada do Universo, ou seja, os componentes misteriosos do aspecto Espírito Santo da Divindade, o da Atividade Criadora e Inteligente. É somente questão de dar a essas forças o caráter científico de "Energia" se queremos chegar a compreender as bases estruturais em que se apoiam os Planos do Universo e a totalidade das formas, objetivas e subjetivas, em que eles vivem, se movem e têm sua razão de ser.

Pergunta: Minha dificuldade está em compreender como um anjo ou um deva, seja de que natureza for, pode criar um ambiente social. O senhor poderia ser mais explícito quanto a isso?

Resposta: Procurarei ser. Mas, antes de tudo, devemos tentar compreender o que é que se oculta atrás do véu das ideias que, sob a descrição de "formas objetivas" e "formas subjetivas", constituíram uma parte muito importante da nossa conversação. O segredo da Magia se encontra no centro qualificador dessas formas e é também lá, naquele centro, que podemos situar, de acordo com nossas investigações esotéricas, as forças invisíveis construtoras das formas estruturais da Natureza. Dever-se-á imaginar uma situação ou caminho no éter que esclareça o sentido da construção geométrica das formas e de onde se possa ver que tudo o que existe, tanto no objetivo quanto no subjetivo, não é nem mais nem menos que um processo de "substantificação das energias que qualificam o éter", com o qual nos introduzimos, já de fato, no mistério da atividade dos devas, ou as forças criadoras da Natureza. Se tudo é éter no Universo, expresso sob todas as densidades possíveis, devemos aceitar, ao menos hipoteticamente, que existem fatores ou elementos invisíveis que participam das qualidades do éter e tornam possível esse processo de substantificação que dá vida e consistência a todas as formas existentes, tanto objetivas quanto subjetivas. A base da Magia criadora reside, precisamente, nesse processo de substantificação ou de materialização das energias subjetivas, tais como as da vontade e da ideia e as fazem objetivas em determinado nível, mental, emocional ou físico, ou seja, dotando-as de um corpo, de uma forma ou de um veículo mais ou menos denso de manifestação.

Pergunta: De acordo com o que o senhor disse durante sua conversação, podemos então dizer que, pelo simples fato dessas formas serem concretas e objetivas, deveriam ser consideradas negativas ou procedentes da atividade das forças lunares?

Resposta: É preciso graduar essa ideia porquanto e sempre de acordo com o sentido da Magia, o que define a atividade das forças lunares ou solares não é basicamente "a densidade do éter" empregado na construção de determinada forma, mas a intenção subjetiva que se acha em sua base. Não podemos dizer que sejam os Magos Negros os que estão envolvidos na criação do Reino mineral devido à extrema densidade deste. Falamos tecnicamente da Magia no esquema estritamente humano, ou seja, no de suas relações sociais ou atividades psicológicas nos níveis mentais ou psíquicos. Há uma Lei no Universo que foi captada pelos grandes Iniciados do passado, que a tradição esotérica assim resumiu: "A Energia segue o Pensamento”. Esse axioma oculto pretende explicar que as forças lunares ou as solares são energias que se expressam de acordo com a intensidade e qualidade dos pensamentos dos homens. Boas ideias logicamente deverão atrair "forças solares"; más ideias evocarão, pelo contrário, as forças que esotericamente definimos como "lunares". Mas, ainda dentro deste sentido genérico ordenador do trabalho dévico para dar formas objetivas ou ambientais a tais ideias, devemos estabelecer uma grande diferenciação quanto às suas densidades, inclusive entre as boas ideias, que podem ser excelentes, corretas e até sublimes, ou entre aquelas que temos considerado como más, cujo grau de densidade dependerá de se as intenções são pérfidas, egoístas ou chegam a extremos de crueldade, sempre de acordo com suas repercussões no sistema social.

Pergunta: Assisti à sua conferência do mês passado e, por sua conversação de hoje, compreendi melhor o que entender tecnicamente por Magia. Mas os homens da Ciência aceitarão essa ideia como base de suas futuras investigações?

Resposta: Como disse no final de minha dissertação, o tecnicismo da Magia Organizada é o supremo impulso da organização social. Não sei como os cientistas responderão ao desafio dessa ideia. O que sei, sim, perfeitamente, é que, na solidão de seus laboratórios e durante todas as suas investigações, estão produzindo incessantemente Magia, pois Magia é uma expressão objetiva das verdades ocultas da Natureza. Os homens da Ciência, pela índole de suas investigações, veem-se obrigados a comprovar, objetivar e concretizar, constantemente, as verdades ocultas que se acham presentes no éter e cuidam de revelá-las. O problema não é do cientista, já que este, sem dar-se conta e pela qualidade de suas investigações e campo de estudo, está constantemente invocando "forças dévicas", mas sim do místico ou do homem profundamente religioso que só é capaz de imaginar "anjos ou devas" no interior das igrejas ou dos lugares de culto espiritual. O dia em que o ser humano compreender que as forças misteriosas do éter ou os construtores invisíveis do Cosmos se acham em todos os lugares e não confinados unicamente nos estreitos limites de uma religião determinada, o mundo terá dado um passo gigantesco e determinará que a Ciência e a Religião, plenamente complementadas e harmonizadas, estabeleçam conjuntamente as bases de um sistema social novo e mais correto.

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