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CONVERSAÇÕES ESOTÉRICAS


Capítulo XV

A GLÓRIA DO PASSADO E AS PERSPECTIVAS DO FUTURO

Durante as conversações anteriores, investigamos a Obra do Criador através da Natureza, tentando descobrir o Mistério da Vida, assim como se manifesta no Cosmos, no Universo, no planeta e no homem. Seguindo o princípio de analogia, elevamo-nos ao Cosmos para descobrir o segredo oculto da nossa vida espiritual, sabendo antecipadamente que encontraríamos grandes lacunas entre os elevados pontos discutidos de ordem universal e a contradição evidente de nossa pequena vida humana, tão frequentemente absorvida no caos de seus problemas e dificuldades cármicas e tão sujeita ao erro. Mas, apesar de tudo, prosseguimos as nossas investigações, incorporando cada vez mais luz em nossa mente e sensibilidade mais aguçada em nosso coração.

Se somos realmente críticos no pensar e, devemos a todo custo tentar sê-lo, seremos conscientes de que atualmente nos achamos no centro de uma tensão mundial tremenda e enfrentando profundas dúvidas e indecisões quanto a valores sociais e humanos. Nem a Religião, nem a Ciência ou a Política, ou qualquer forma de planejamento social dada pelos sociólogos e economistas, têm-nos permitido ver, claramente, nosso destino como seres humanos, nem nos oferecem alguma solução genuinamente prática para poder enfrentar a vida enriquecendo paralelamente a nossa consciência. No meu entender, temos dado um valor exagerado ao contexto ambiental, tomando as aparências como realidades e percebendo o imenso panorama da vida sob o ângulo deformado das nossas limitações, problemas e dificuldades de adaptação social. O resultado disso tem sido a indecisão, a desesperança e o temor...

Contudo, devo insistir na verdade esotérica de que o mundo há de ser transformado em termos de realização e que o ser humano é o centro dessa transformação necessária. Assim, a tentativa de descobrir as razões universais como temos feito até aqui não tinha como objetivo enriquecer o nosso intelecto com conhecimentos esotéricos, mas o mais importante era iniciar praticamente uma nova forma de viver, fundamentada na segurança do eterno e em uma compreensão cada vez mais clara e objetiva de nossa projeção espiritual no sistema social, como os novos tempos exigem.

Desde há muito tempo, os investigadores da vida oculta e os eternos especialistas na arte da predição vêm nos informando sobre a Nova Era, uma nova Idade de Ouro que está se aproximando de nós, em virtude do movimento de retrogradação do nosso planeta ao redor do Sol e em relação às constelações do Zodíaco. Pergunto-me, no entanto, o que pode significar essa declaração para a humanidade corrente e para muitos aspirantes espirituais da atualidade, embargados por uma sede insaciável de conhecimentos esotéricos, mas fatalmente presos ainda na grande engrenagem cármica que move a existência planetária. Pergunto-me também qual será a atitude dos Discípulos mundiais frente à trepidante situação criada no ambiente social do nosso mundo por essa extraordinária liberação de energias que precede a toda mudança de Eras, as que procedem do esquema cíclico planetário anterior e as que surgem por efeito da entrada do nosso planeta em uma zona zodiacal onde se projetam e liberam as dinâmicas energias emanadas da constelação de Aquário, destinadas a produzir grandes modificações na Terra e muito especialmente na ordem social humana.

Creio que o que é exigido da individualidade consciente dos nossos dias frente ao desafio inevitável dos acontecimentos que começam a se projetar sobre o planeta é uma atenção extrema para com o processo cósmico que está acontecendo tomando, como ponto de partida, o próprio e imanente Carma e tratar de transcendê-lo em extensão e profundidade. A extensão e a profundidade são qualidades sinônimas de força mental e movimento espiritual e devem ser as nossas armas no processo de adaptação às novas energias que entram. Isso não quer dizer que vamos nos despojar imediata e radicalmente dos "estigmas" do Carma planetário engendrado na Era anterior, que teve momentos culminantes de rara beleza e transcendência, como a Mensagem de Cristo, a glória do Renascimento e o princípio de mecanização industrial etc., mas que vamos recolher os frutos desses grandes acontecimentos, que não foram senão experiências universais profundíssimas, enfrentando a nova ordem com um equipamento psicológico inteiramente novo, livre de tensões, angústias e medo.

Temos que nos libertar progressivamente da falsa ideia de que tudo que constituiu a vida da anterior Era zodiacal de Peixes deve ser forçosamente eliminado, por não estar de acordo com as novas apresentações e ideais da Nova Era. A escassa formação esotérica de muitos dos aspirantes espirituais dos nossos dias e o limitado desenvolvimento dos nossos mecanismos sutis de adaptação à vida, tal como ela vai surgindo do grande Oceano Criador da Divindade, têm nos tornado indiferentes, eu diria até desapiedados, em relação a tudo que tenha referência com o chamado "passado pisciano", sem nos darmos conta de que os fluxos aquarianos da Vida devem vir forçosamente matizados por aqueles que atuaram e foram necessários na Era anterior. A frase que escutamos frequentemente dos lábios de alguns dos aspirantes espirituais dos nossos dias, "...é preciso destruir o passado", apenas demonstra uma visão muito superficial da vida, é a posição dos que querem edificar uma estrutura sem contar com a base ou os conhecimentos que devem sustentá-la. A base de Aquário, não se deve esquecer, é Peixes e é sobre os gloriosos materiais utilizados em sua estrutura, sobre as profundas experiências legadas por essa constelação e por seus excelsos e transcendentes Logos Regentes, que devemos encarar e edificar os Planos da Nova Era.

As Eras do passado, com suas civilizações, culturas e carma particulares não morreram nem morrerão nunca, pois constituem o contexto histórico ou "memória viva" dentro da Mente Universal do Criador. Nós não podemos matar o que eternamente É e Vive dentro da grande Consciência Planetária. Só o que podemos fazer, e isso pode ser o nosso verdadeiro Dharma como discípulos em treinamento espiritual, é viver flexivelmente adaptados aos ritmos que precedem aos novos tempos, abrirmo-nos inteiramente à grande experiência que esses ritmos supremos estão causando no seio da humanidade. Tais ritmos estão inexoravelmente unidos ao carma do nosso mundo. Representam os balbucios de um recém-nascido, mas que tem atrás de si um glorioso passado e uma experiência bem ganha. Liberar-se do carma é sinônimo de "acolher os novos ritmos", é projetar-se para o futuro, impelidos pela potente força espiritual engendrada no passado e devotadamente reconhecida, no presente. É abrir-se, simbolicamente falando, dos quatro lados e em todas as direções, simplesmente buscando um equilíbrio estável da nossa personalidade frente ao grande impacto dos acontecimentos e das novas situações criadas pelos impulsos aquarianos sobre a nossa consciência humana. Para a maioria dos aspirantes espirituais dos nossos dias, essa atitude, se acolhida com a suprema atenção que merece, pode ser reveladora. Deve-se ter presente a todo momento o ensinamento contido naquele profundo axioma esotérico que diz: "Matar o passado dentro do coração não produz liberação, mas amarra a vontade da alma a esse passado e impede a glória da iniciação”. Esse axioma, profundamente revelador, nos fala precisamente de equilíbrio e de harmonia, ou seja, de adaptação flexível e não de ruptura psicológica ao nível dos acontecimentos.

Bem, creio que os senhores se clarão conta de que, como humanidade e como indivíduos, estamos enfrentando uma série de situações totalmente novas em relação ao passado, que devemos tratar de viver tão intensamente quanto nos seja possível, mas sem esquecer nunca que a vontade de ação que empregamos ao longo desse experimento criador foi gerada no passado, já que o presente é a condensação de todos os esforços realizados em estágios anteriores de vida e que uma época, por nova que pareça perante a nossa assombrada visão, não é senão a continuidade de uma série de esforços infatigáveis realizados no passado.

O Que Deve Ser Entendido por Liberação?

A que nos referimos exatamente quando falamos esotericamente de Liberação? À morte ou extinção do passado histórico em nosso coração ou à cessação do inexorável processo do Carma? Liberação é Luz. É a luz que provém do equilíbrio entre forças em contradição aparente. É trilhar o nobre Caminho do Meio de que o Senhor Buda falou, é marchar, confiantes e seguros, sobre o "fio da navalha". Provavelmente, os senhores pensarão que essas são frases feitas. Talvez o sejam, mas seu significado é completamente válido para todas as épocas e, particularmente, para os nossos dias, quando as oportunidades são maiores que no passado, já que a técnica desenvolvida na precisão mental nos ajuda constantemente a descobrir os milhares de segredos da Natureza. Porém, definitivamente indo ao fundo oculto da questão, os discípulos espirituais de todos os tempos têm tido como norte de suas vidas encontrar a suave serenidade do eterno em seus corações.

A maioria das pessoas que assistem regularmente a essas conversações esotéricas certamente o fazem devido ao seu passado espiritual glorioso e fecundo. Alguns dos senhores talvez pratiquem um tipo de Ioga ou se submetam a certas regras de meditação ou de treinamento espiritual. Mas todos os exercícios, treinamentos e disciplinas de nada lhes servem, se esquecem as regras de harmonia que regem o processo total da evolução. As disciplinas da Ioga são interessantes para reorientar as energias e criar novos canais de aproveitamento espiritual, em benefício da personalidade, como também o são as regras precisas da meditação oculta. Pergunto-me, no entanto, se para alguns essas práticas ou disciplinas não implicam, de um modo ou de outro, "insistir" em algo já estabelecido ou realizado no passado e estar, então, apenas "recordando" experiências passadas. O fato de que os senhores estejam aqui e contribuam com sua dedicação pessoal para o desenvolvimento dessas conversações mensais, talvez signifique que existe uma grande experiência espiritual acumulada em seus corações através dos séculos, e que "agora" estejam simplesmente "rememorando" conhecimentos previamente adquiridos e não apenas tratando de acumular conhecimentos esotéricos, como ocorre no caso dos novos aspirantes e das pessoas inexperientes que fazem suas primeiras "armas", para dizer de algum modo, dentro da vida espiritual. A atenção com que seguem estas conversações e o apoio espontâneo que dão ao orador podem ser indícios reveladores daquela grande experiência espiritual acumulada que constitui a bagagem do verdadeiro discípulo, inevitavelmente sujeito ao desafio da ação e liberado em grande parte do afã de adquirir conhecimentos. Isso também pode significar que vivem orientados internamente para as oportunidades oferecidas pela Nova Era, cujo tecnicismo não diminui de modo algum a fé na vida espiritual, mas, pelo contrário, a dinamiza a extremos extraordinários. Ante sua visão e adaptação inteligentes, o Carma deve aparecer como o resultado de ações passadas que "hão de ser redimidas" no presente, este adquirindo, então, uma importância transcendente e vital.

Poderíamos considerar que a Liberação do Carma, e esse é o verdadeiro sentido da Liberação, se inicia quando, no presente, já não lutamos mais com as consequências do passado, mas as consideramos como um efeito vital de ordem psicológica que precisa de reorientação, de harmonia ou de reajuste. Então, as oportunidades oferecidas pelas condições técnicas fazem com que varie apenas a programação e o sentido das investigações, mas a finalidade continua sendo a mesma: adaptação. A chave da Liberação está na adaptação serena ao ritmo dos acontecimentos que vão se produzindo à nossa volta. No entanto, nesse processo de adaptação não deveriam ser empregados os esforços penosos a que estamos tão acostumados, mas uma expectativa serena e observação profunda dos fatos constantemente produzidos, ou seja, a única disciplina exigida, se é que devemos falar de disciplinas, é a de uma atenção mental intensa e constante a tudo que está acontecendo dentro e fora de nós mesmos. Essa atenção é adaptação, já que, na profundidade da mesma, é eliminada a condição intelectual que constantemente impõe barreiras ao livre fluir dos acontecimentos. Quando a mente desapareceu como marco de separação dos fatos e não é o elemento separativo que conturba mas que esclarece as situações psicológicas, uma grande projeção de luz causal é produzida na mesma. Esse é o princípio da Liberação, pois, como dizia Mme. Blavatsky quanto à mente concreta e personalizada: "A mente é o que mata o Real”.

A adaptação serena ao curso imutável dos acontecimentos cármicos que vão se sucedendo é um eterno devir, um "deixar-se moldar" pelo Oleiro Divino da nossa vida, que só pode atuar se o nosso barro for mole, maleável, flexível... Uma mente serena e tranquila e uma sensibilidade emocional totalmente aberta às grandes correntes astrológicas de manifestação cíclica são a base da Realização individual. Um vazio provocado pela indecisão no estado de "serena expectativa e de atenção profunda" pode conduzir à luta estéril com as questões inacabadas do passado, ou melhor, com as incidências cármicas gravitando em nossa vida.

Como resultado da plena compreensão dessas ideias sobre a Liberação, no meu entender devíamos abordar o grande problema social e psicológico do nosso mundo sem pretender atingir algum objetivo definido, sabendo de antemão que é a própria Vida, manifestada através das grandes correntes de expansão cíclica no planeta, que deve indicar esses objetivos, os mais afastados e de projeção cósmica e os mais próximos, de dimensão social e individual. Essa afirmação talvez escandalize muitos aspirantes espirituais que já tenham projetado seu futuro cármico em função de seus raciocínios mentais e que vivem voltados indefectivelmente aos grandes sonhos e imensas perspectivas do futuro, sem que previamente tenham consumado no presente seu passado cármico, o que pode significar que o futuro continue sendo um "sonho", não podendo, portanto, projetar-se no presente, porque o passado ainda não foi consumado ou liberado. Sem dúvida, este é o Dharma do verdadeiro discípulo: consumar o passado no presente, a fim de que o futuro possa projetar-se sobre esse presente, vivendo por antecipação aquele momento culminante do tempo, aquele "eterno agora" que abre a Senda imaculada da Liberação. Não sei até que ponto consegui expressar meu pensamento, nem em que medida me foi possível esclarecê-lo para os senhores. Como disse em muitas outras ocasiões essas conversações são especialmente dirigidas a discípulos em treinamento espiritual e a todos os aspirantes que anseiam ardentemente trilhar o Caminho do Discipulado. Para todos, os termos Carma, Senda e Iniciação deveriam assumir um significado novo e mais completo, à medida que o planeta Terra "vai mergulhando" nas regiões do espaço banhadas por Aquário, o Aguadeiro Celeste, a fim de que o processo mental não dificulte o forjar da ação nem comporte desejos egoístas de crescimento espiritual de ordem individual. O caminho a seguir no desenvolvimento da ação correta será mais curto ou mais longo, de acordo com a horizontalidade do tempo empregado no processo da busca, mas a ascensão ou verticalidade na linha do Espírito será cada vez mais eficaz, mais adequada, mais segura...

A Insegurança Mágica

Ao longo do tempo e seguindo as determinantes de um processo incessante de acúmulo, criamos uma personalidade psicológica baseada na segurança e disciplina dessa personalidade. Talvez vejamos o processo que dá lugar a novas disciplinas de base sob uma nova perspectiva ou um novo tipo de visão no dia em que percebermos que essa disciplina da personalidade está aliada ou faz parte da conservação e perpetuação da mesma, através dos bens temporais e valores radicais do "eu" que, cristalizados no tempo, originaram nosso ser psicológico atual.

Gradualmente nos daremos conta de que as imensas perspectivas do eterno, as grandes oportunidades cósmicas e a ulterior resolução do enorme drama psicológico que a nossa personalidade nos suscita estão presentes na raiz de qualquer fato, acontecimento ou circunstância da nossa vida particular e social. Ou melhor dizendo, "aqui e agora" é o centro místico da Liberação. Para tanto, para retornarmos aos Céus de onde misticamente procedemos, deveremos decidir pela existência simples e sem complicações do discípulo treinado na ciência espiritual, que enfrenta as provas cármicas da vida em toda a profundidade serenamente submerso em um oceano profundo de "insegurança", inteligentemente sustentado por uma fé imensa e positiva nos valores imortais do Espírito.

Percebem o valor onipotente que subjaz nesse estado de insegurança, onde os desejos pessoais e os anseios desmedidos de "ser alguém" na vida social ou espiritual ficaram reduzidos praticamente a zero, ao mais absoluto nada? Conscientizaram-se, alguma vez, de que as nossas amadas disciplinas espirituais e nossas previsões e cálculos se baseiam geralmente em um grande medo do futuro e uma tremenda falta de fé em si mesmos, ou seja, em um afã desmedido de segurança em todos os esquemas conhecidos, físicos, mentais, emocionais e espirituais?

Se nos precavêssemos dessa realidade, talvez empreendêssemos um novo tipo de ação para o futuro ou para o presente imediato. É possível que, para alguns de nós, essas afirmações pareçam duras, implacáveis ou sem encanto místico. Contudo pergunto-me: para que queremos esses consolos fugazes ou essas esperanças fúlgidas que, assim como os relâmpagos, nos iluminam intensamente por alguns segundos, para depois nos deixar sumidos numa escuridão ainda mais negra e profunda? Pode ocorrer também que não queiramos enfrentar diretamente o juízo dos acontecimentos. Se é assim, logicamente temos que nos sentir desalentados, porque, como foi dito antes, a realidade espiritual está precisamente nesses acontecimentos, conforme vão sucedendo dentro ou fora de nós mesmos, e é só pelo confronto direto com os mesmos, na intenção suprema de descobrir o propósito espiritual latente em suas dobraduras ocultas e desconhecidas, que alcançaremos a Liberação, já que esta só pode ser conquistada através desses pontos de luz aparentemente insignificantes das nossas ações quotidianas. Se nos descobrirmos, nos exercitarmos e nos atualizarmos, saberemos por experiência própria o que é a Liberação, o que é a Paz e a verdadeira Liberdade.

Vou terminar esta conversação de hoje, mas, antes de fazê-lo, gostaria de lhes infiltrar uma grande confiança no futuro e uma esperança profunda no coração, em razão das grandes oportunidades espirituais do presente, a fim de que, como discípulos em treinamento espiritual, vejam claramente que todo o processo da vida, com sua interminável sequência de acontecimentos e experiências, é resultado da pressão de uma Vontade Onipotente que trata de ser consciente através de nós e que é a "adaptação" a essa suprema Vontade, através dos acontecimentos cármicos da nossa vida, o que nos deparará com a Liberação. Se formos conscientes dessa verdade, a vida deixará de nos pressionar tão dolorosamente como acontece atualmente ou em todos os períodos realmente cósmicos, cíclicos ou siderais. O Carma não é cruel, fatal, desapiedado ou intransigente como normalmente se crê, mas um enlace harmonioso do passado com o futuro, tendo seu centro de culminação criadora no presente. Essa conclusão pode nos apresentar a verdadeira glória da ação e uma entrada realmente positiva no futuro supremamente dinâmico da Nova Era.

Pergunta: Suas ponderações parecem realmente claras, ainda que, para alguns de nós, sejam algo desconcertantes. Em razão disso, pergunto-me se é a pressão dos tempos que produz o estado de discípulo ou se é a evolução da consciência individual no passado que determina a característica psicológica do discípulo.

Resposta: Se analisarmos criticamente a vida do discípulo ou do verdadeiro investigador esotérico, veremos que nela intervêm, consubstancialmente, tanto a "pressão dos acontecimentos siderais" quanto a evolução psicológica da individualidade. No entanto, se formos profundamente analíticos, veremos que o poder central individual condiciona sutilmente os acontecimentos e que, mesmo considerando a pressão dos tempos ou as condições astrológicas reinantes, esses acontecimentos sempre virão alterados pela atitude da individualidade, por seu grau de conhecimento espiritual e por um certo conhecimento ou experiência de como atuam os ciclos do tempo em cada um dos veículos ou mecanismos que constituem o equipamento expressivo da consciência, motivo pelo qual sabe aproveitar as energias liberadas por esses ciclos e convertê-las em aliadas do carma pessoal e não em "os fustigadores da ação cármica", como é mencionado em alguns tratados esotéricos.

Se bem analisados, todos os acontecimentos cíclicos que marcaram o curso da história e o ritmo dos acontecimentos e civilizações, inclusive a pressão desta Nova Era de Aquário, obedecem a um esquema genuinamente impessoal e a qualidade de seus impactos sobre o Centro Planetário que chamamos "A Raça dos Homens" virá condicionada pela qualidade espiritual de todos e cada um dos membros da grande família humana. Assim, a força extraordinária dos impactos que gradualmente irão se produzindo determinará em alguns de nós grandes depressões de caráter psíquico, enquanto que colocará outros em zonas de alta frequência espiritual, plenas de dinamismo, serenidade e equilíbrio. Indo ao fundo da questão, poderíamos dizer que uma Era, uma expressão psicológica de valores eternos, afetará cada ser humano tal como esta realmente seja em seu coração e como se comporte habitualmente ao longo de sua existência quotidiana. Os efeitos astrológicos ou o condicionamento das Eras cíclicas dependerão principalmente da qualidade dos veículos de resposta humana à vida, mais que a própria potencialidade dos impulsos cósmicos que guia os destinos cíclicos dos astros. É lógico supor, portanto, que as almas, em sua totalidade, reagem à força sideral que emana das estrelas, em virtude de sua experiência espiritual, ou seja, de sua capacidade de adaptação ao eterno movimento da vida em seus corações. Também é lógico supor que uma Era cíclica, por mais importante que seja e por maiores que sejam as oportunidades espirituais que oferece, não poderá converter um malvado em um Santo ou levar o inexperiente aspirante espiritual à Iniciação. Aqui, deve-se contar naturalmente com a obra do tempo e com a gradual adaptação que a evolução da personalidade suscita em cada um dos veículos de manifestação.

Pergunta: Durante a sua conversação, o senhor disse que, para certas pessoas, não há necessidade de Ioga nem de meditação espiritual. O senhor não acha que, para viver serenamente no meio deste oceano de contradições da vida social, deve existir alguma Ioga ou algum sistema de treinamento espiritual, como afirmam os grandes Mestres ou Gurus do passado e do presente?

Resposta: Para mim, o viver de forma plena e profundamente expectante é a Verdadeira Ioga da ação individual. Mas como nunca vivemos tão plena e profundamente e, por causa disso, nos sentimos tão solitários, desconcertados e indecisos, é lógico que precisemos de Iogas, de meditações transcendentais, de Mestres e de Gurus. Se analisarmos fria e desapaixonadamente a raiz da pergunta, nos daremos conta de que toda a nossa vida vai se movendo constantemente, de segurança em segurança, sufocando, assim, os temores e vazios secretos que se produzem na nossa vida psicológica e no ambiente familiar ou social que nos rodeia. A respeito disso, temos uma afirmação esotérica que é válida para todas as épocas da humanidade: "Quando o discípulo está preparado, o Mestre aparece”. Perceba que se refere a uma preparação e que essa preparação não será somente o que oferece um grande tecnicismo de ordem exotérica, mas também o resultado de certas vivências ou experiências de caráter espiritual. Há uma significação especial, que só os Iniciados conhecem, que possibilita o reconhecimento de um discípulo por um Mestre. Esse reconhecimento é um Mistério mas, tanto individualmente quanto em grupo, perdemos de vista a profundidade do Mistério, já que nossa vida está sendo mecanizada progressivamente nas áreas da técnica que temos desenvolvido, ou melhor, temos nos tornado tão técnicos que deixamos de ser místicos no sentido espiritual da palavra. E assim, cheios de tecnicismos externos e de disciplinas internas, queremos falar "ao Mestre de nossa vida", esquecendo completamente a chave mística que expressa claramente a Vontade dos augustos Responsáveis do Plano Planetário, sintetizada no axioma já mencionado anteriormente e que indica claramente que o homem realmente espiritual não deve encontrar, mas ser encontrado... O senhor percebe a total diferença de significado entre os dois termos? Bem, o senhor me fez uma pergunta e lhe dei honestamente a minha resposta. Como indiquei anteriormente, no fundo de sua pergunta, observa-se um certo afã de segurança em um ou outro nível psicológico do ser, físico, emocional ou mental. Tratemos de compreender, então, o valor do termo insegurança, integralmente aplicado ao nosso viver quotidiano, e de entrelaçá-lo com a afirmação crística de que "é preciso viver neste mundo sem ser do mundo”. É óbvio que é a este mundo de insegurança que aludimos durante a nossa conversação, ao qual Cristo se referia, quando dizia "Meu Reino não é deste Mundo", este mundo de posses, ambições e seguranças, onde vivemos, nos movemos e temos o nosso ser.

Pergunta: Quando fala da "glória da ação ", a que exatamente se refere?

Resposta: Refiro-me a vivermos plenamente integrados, ou seja, à participação ativa e total de nossa consciência no curso dos acontecimentos que estão sucedendo em todos os lugares. É o viver com uma grande riqueza de percepção, que não deve ser confundida com uma grande riqueza de elementos técnicos ou de conhecimentos intelectuais. Trata-se de uma atenção profunda e constante no desenvolvimento dos fatos que, reunidos, constituem a nossa vida quotidiana. É "ser consciente" em todas e cada uma das experiências que a vida cármica situa ante as nossas percepções, ou seja, vivermos plenamente integrados, física, emocional e mentalmente na ação.

Pergunta: Isso é exatamente o que ensinam ou preconizam as escolas de Ioga e de treinamento esotérico como base para a integração completa do ser. Assim, não encontro nenhuma diferença entre o que o senhor diz e o que essas escolas ensinam. O senhor se limita, portanto, a repetir o que elas preconizam, não é verdade?

Resposta: Não sei se repito o que as escolas esotéricas, místicas ou de Ioga ensinam. O que realmente sei, já que possuo uma certa experiência a respeito, é que, se os que seguem esses treinamentos ou disciplinas o fazem inspirados ou induzidos por um afã de segurança ou de crescimento espiritual, esse afã os incapacitará, desde o primeiro momento, a desenvolver dentro de si as verdadeiras capacidades espirituais. É sobre esse anseio de segurança a que me refiro e onde apoio todas as minhas convicções mais profundas. Lembre-se quanto a isso que, desde os tempos de Cristo, vem se insistindo muito sobre o termo Amor, palavra que, por força de ser repetida sem seu complemento de ação adequado, ficou cristalizada em nossa mente, não sendo, portanto, uma realidade objetiva, mas uma possibilidade muito remota. O mesmo acontece com o termo Mestre ou Guru. Converteu-se em uma simples palavra, não em um fato. E naturalmente, como sabemos que o Mestre existe em um ou outro lugar do planeta, nós o buscamos ansiosamente como uma mera segurança para a nossa falta de estímulos espirituais de Vida. Assim, as Iogas, as escolas externas de treinamento espiritual e os falsos ashrams existem onde quer que seja, "oferecendo seguranças" ao múltiplos crentes que confiam ainda que um milagre vai acontecer, independente de si mesmos. Volto à grande verdade esotérica de que o Mestre realmente existe, mas está dentro de nós, e não num exótico ser externo a quem invocamos insistentemente, perdidos no tumulto das nossas esperanças, desejos e temores. A integração espiritual do ser, o estado de discípulo e a Paz do Mestre no Coração são realidades e não sonhos, mas é preciso buscá-los dentro, muito dentro de nós mesmos...

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