O Caminho Real

Caminho de Peregrinação de Ouro Preto a Diamantina
"A vida ou é uma audaciosa aventura, ou é nada." (Helen Keller)

Uma rota de magia, mistérios e de exuberante beleza natural no desenrolar do processo histórico de desbravamento e construção da cultura de parte da nossa história.


Terceiro Dia - De Conceição do Mato Dentro a Milho Verde

7:30 h
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Aos poucos percebe-se porque o canto dos galos era ouvido ao longe, quase imperceptivelmente. Há poucas residências ou fazendas no entorno da Pousada. Antes de se dirigir para o café, uma ida até o rochedo impregna a vista com o descortinar de uma bela visão do vale dominado pela encosta onde está localizada a pousada. Contemplando a vastidão à sua frente, o caminhante anônimo percebe algo mais. “O Mito é o pensamento não revelado da alma”. Então, a revelação traz a realidade para a conformação dos sentidos comuns. É preciso propósito e decisão, não basta querer, é preciso algo mais, porque a vontade não é autônoma, mas impulsionada. Foi bom ter avançado, à noite, na leitura do livro “O Caminho Real”, editado pela equipe do passeio. A compreensão do Caminho está se tornando mais clara. Envolto por esses pensamentos ele se dirige ao refeitório.
7:40h
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O café já está servido. Lindas e variadas iguarias para um desjejum reforçado porque o dia promete muita movimentação. Os comentários são animados e variados.
A movimentação para a partida é intensa e os preparativos já concluídos. Daqui até a entrada da cidade são 4,5 quilômetros. Conceição do Mato Dentro é um grande centro cultural com animados eventos que mantém a cultura local em constante fermentação. As montanhas, o casario antigo, as igrejas, a religiosidade, a singeleza e hospitalidade fazem desta cidade um ponto turístico de relevância. Visitam-se os principais pontos da cidade, incluindo o cenário do Salão de Pedras, e vai sendo comprovada a veracidade do que se fala do local.

Na mente do caminhante anônimo vai tomando forma o Caminho de Peregrinação: Caminho da Santidade, de oração, de meditação e reflexão a utilizar esta rota de caminhada iniciada em Ouro Preto. Também aclara-se a simbologia do bruxulear do ouro e o esplendor do diamante. É nítida a impressão que alguém o espera no Portão de entrada em Diamantina. Então, “haverá uma luz que brilhará sobre a terra e o mar”. Esboça-se um sorriso em sua face e aflora a lembrança que “tudo que é compreendido está certo”. Aos poucos as pedras podem ser colocadas e ajustadas na construção deste Caminho universal — o Caminho do Discipulado, o Caminho da Santidade e o Caminho da Iluminação — cujos problemas e dificuldades a ele inerentes terão sua reafirmação justificada por uma aplicação realista, prática e moderna, e não, necessariamente, feito de angústia, autoabnegação e de infinito sofrimento, como foi desenvolvido na mente do aspirante ocidental. É imperioso deixar aflorar na consciência humana a crescente realização da divindade inata e que o Homem é, na verdade, feito à imagem de Deus e uno, em natureza, com seu Pai no Céu. É possível, então, agora, obter um quadro sintético do progresso da alma, desde a ignorância até a sabedoria, do desejo material à realização espiritual, de tal maneira que o fim seja visualizado desde o início, e o esforço feito às cegas substituído pela inteligente cooperação com o propósito da alma. Isto levará o peregrino a avançar pelo caminho com a face voltada para a luz e irradiada de alegria.

Ruma-se para Córregos, distrito de Conceição do Mato Dentro, com chegada às 10:25 horas. Pouco antes da chegada vê-se a placa comemorativa da construção da Ponte do Gondó com inscrição do nome de várias pessoas. Chama a atenção o nome de Onofre Xixi. A informação na cidade é que o nome do Onofre não deveria constar na placa porque ele não ajudou na construção da ponte, só aparecendo no último dia. Conta-se, ainda, que ele compareceu pouco antes das comemorações se comprometendo a tomar conta do garrafão de pinga e da bacia de pastéis. Deve ter feito um belo trabalho.

Local de “movimento parado”, gracioso, de ruas bem cuidadas e a bela Igreja de Nossa Senhora Aparecida. Ponto de descanso na bonita residência de Dona Amparo, onde é servido um delicioso suco de polpas de frutas produzidas pela própria comunidade, através da obra social Vinocor que também produz o mel que adoça o suco servido. Acompanham o suco, bolo e rosquinhas de sabor indizível.

10:45 h
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É hora de partir para Santo Antônio do Norte (Tapera), com chegada às 11:15 horas e pequena parada na Praça da Igreja.
12:10 h
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Deixa-se Santo Antônio do Norte por sinuosa, difícil e castigada estrada, mato adentro, galgando a Serra da Escadinha até o topo, ponto de parada e mirante com horizonte aberto de longo alcance. A vista é esplendorosa e belas fotografias são feitas.

Extasiado, talvez pela grandiosidade do horizonte aberto, o caminhante anônimo permanece silencioso.

Ruma-se serra abaixo com destino a Itapanhoacanga por sinuoso caminho de vista magnífica. Ponto de parada e almoço na Pousada, da Dona Marilda. Aguardam, alegremente na pousada, o Sr. Geraldo e o Giovani, dois comerciantes do local, para saudarem com boas-vindas o grupo que chega.

Deixa-se Itapanhoacanga às 14:00 horas com destino ao Serro, com parada no “canyon” do Córrego Vermelho, uma interessante formação geológica do curso d'água.

Serro é outro importante centro cultural do ciclo do ouro e do diamante. Novamente, as formas, a religiosidade e a saga de homens intrépidos dão origem à hospitalidade característica da região. O importante acervo de casario antigo forma um belo conjunto arquitetônico. Parada na Praça João Pinheiro. Visitam-se os principais pontos da cidade.

Arrebatado pela beleza plástica, o caminhante anônimo sobe os degraus da rua que dá acesso à Capela de Santa Rita. Do adro da igreja tem-se uma bela visão da Praça com seu casario antigo. O Caminho vai se revelando. Vai de fora para dentro revelando, passo a passo, a vida oculta em cada forma e em cada símbolo. Prescreve ao caminhante certas tarefas que o levam à compreensão, produzindo integração e sabedoria que devem preencher as necessidades mais prementes. Ele passa da etapa da busca para aquela chamada de “o conhecimento reto”. Nesse caminho, a visão e a esperança cedem lugar à conscientização. Recebe-se uma iniciação após outra, cada uma levando o iniciado a um ponto mais próximo da meta da total unidade. Aqueles que no passado assim fizeram, sofreram e realizaram esta caminhada, formam uma longa cadeia que se estende, desde o passado mais remoto até os nossos dias, pois os iniciados permanecem conosco e a porta de acesso ao caminho permanece ainda aberta, de par em par. Por intermédio desta cadeia de feitos heroicos, os Homens são elevados, degrau a degrau, pela longa escada que vai da terra ao céu, para, finalmente, se postarem ante o Iniciador e descobrir, neste transcendente momento, que é o Próprio Cristo Que lhes dá as boas-vindas - o Amigo familiar Que os havendo preparado com o exemplo e o preceito, agora os leva à presença de Deus.

Deixa-se o Serro às 16:40 horas com destino a Milho Verde. O caminho é bastante agradável e na virada de Três Barras galgam-se extensos contrafortes rochosos. Alcança-se o divisor de águas das bacias do Rio Doce e do Rio Jequitinhonha à frente. A Natureza é pródiga de belas paisagens onde a luminosidade do sol é refletida num contraste claro/escuro do mosaico rochoso. O majestoso Pico do Itambé domina o horizonte leste/nordeste. Quantos olhares foram acolhidos por esta maravilhosa montanha? Quantos se orientaram? Quantos se maravilharam?

Aos poucos avista-se o vilarejo de Milho Verde no alto platô montanhoso. A íngreme subida até o alto é galgada com entusiasmo. Às 17:40 horas chega-se na Pousada da Dona Gaia, para merecida pernoite. Às 20:00 é servida uma deliciosa refeição que é festivamente saboreada.

O caminhante anônimo aproveita para se maravilhar com a imensidão do céu noturno e vagueia pela relva úmida em frente da pousada. Percebe que “toda beleza, toda bondade, tudo que contribui para a erradicação do sofrimento e da ignorância na terra deve ser devotado à Grande Perfeição. Então, quando os Senhores da Compaixão tiverem civilizado espiritualmente a Terra e feito dela um Céu, será revelado aos Peregrinos o Caminho Infinito, que leva ao coração do universo. O Homem já não será mais homem, terá transcendido a Natureza e, de forma impessoal, embora conscientemente, em unidade com todos os Seres Iluminados, ajudará a cumprir a Lei da Evolução Superior, da qual o Nirvana é apenas o começo.” Tal é a meta de todo buscador no caminho. Pois, eis que “quando puderes ver além da aparência externa as causas que dão origem a todos os efeitos; quando puderes sentir o Amor de Deus envolvendo toda a terra no cálido fluxo da luz do sol, então saibas que és iniciado nos Mistérios que os sábios sempre consideraram de maior valor.”


Galeria de fotos

Conceição do Mato Dentro
Conceição do Mato Dentro
Córregos: "movimento parado"
Córregos: manada de búfalos
Córregos: Parada na casa de Dona Amparo
Córregos: Solar do Bispado (sec. XVIII)
Capela N. Sra. Apareceida
Córregos: Sossego e tranquilidade
Seguindo rumo a Tapera pelo sinuoso caminho
Tapera: Pequeno vilarejo, parada rápida
Serra da Escadinha: Parada no mirante
Serra da Escadinha: Vista extasiante
Caminho Sinuoso, de vista magnífica
Itapanhoacanga: Parada para almoço
"Canyon" do Ribeirão Vermelho
Serro: Belo conjunto arquitetônico
Serro: Escadaria da Capela de Santa Rita
Serro: Praça João Pinheiro
A caminho de Milho Verde...natureza pródiga
Milho Verde: Tranqüilidade absoluta
Milho Verde: Capela N.Sra. Rosário
Pico do Itambé: Presença constante

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