O Caminho Real

Caminho de Peregrinação de Ouro Preto a Diamantina
"A vida ou é uma audaciosa aventura, ou é nada." (Helen Keller)

Uma rota de magia, mistérios e de exuberante beleza natural no desenrolar do processo histórico de desbravamento e construção da cultura de parte da nossa história.


Quinto Dia - Diamantina

7:00 h
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Ah! Os galos. Companheiros inseparáveis. Do terraço da pousada tem-se uma bela visão de um dos contrafortes que emolduram a cidade. Contemplativamente, o caminhante anônimo percorre os registros da sua mente. Se Arjuna, na sua representação como discípulo mundial, pôde tão coloquialmente se dirigir à Divindade é porque alcançou o estágio para tanto, e sua afirmação, “os teus ensinamentos, ó Senhor!, com os quais Te dignaste explicar-me o grande mistério do Espírito, destruíram a minha ilusão e ignorância”, remete o caminhante aos grandes feitos de Hércules no Caminho Probacionário, que antecede o Caminho da Iniciação ou da Santidade.

Eis que o discípulo postou-se diante do Mestre. De modo obscuro ele compreendia que estava vivendo uma crise que conduziria a uma mudança de atitude e de plano. O Mestre examinou-o com um olhar de aprovação.

“Teu nome?” perguntou; e aguardou a resposta.

“Herakles”, veio a resposta, “ou Hércules. Dizem que significa a rara glória de Hera, a radiação e o esplendor da alma. Que é a alma, oh! Mestre? Dizei-me em verdade.”

“A tua alma, tu a descobrirás enquanto executas tua tarefa, e encontrarás e usarás a natureza que é a tua. Quem são teus pais? Responde, filho.”

“Meu pai é divino. Eu não o conheço, exceto que, no meu íntimo, eu sei que sou seu filho. Minha mãe é terrena. Conheço-a bem, e ela fez de mim isto que vedes. Do mesmo modo, oh Mestre da minha vida, eu sou também um dos gêmeos. Há um outro, como eu. Conheço-o bem, e contudo, não sei quem ele é. Um é da terra, terreno portanto; o outro é um filho de Deus”.

“Hércules. meu filho, que tipo de treinamento tiveste? Que sabes fazer, e como fostes ensinado?”

“Sou competente em tudo; fui bem ensinado, bem treinado, bem guiado e sei fazer qualquer coisa. Conheço todos os livros, todas as artes, e as ciências também; conheço o labor dos campos; além da perícia daqueles que podem viajar e conhecer os homens. Reconheço-me como alguém que pensa, sente e vive.”

“Uma coisa devo dizer-vos, oh Mestre, para não vos enganar: é que, não há muito tempo, eu matei todos aqueles que, no passado, me ensinaram. Matei meus instrutores, e na minha busca pela liberdade, me sinto agora livre. Procuro conhecer-me, dentro de mim e através de mim mesmo.”

“Essa foi uma ação sábia, meu filho, e agora estás livre. Começa agora a trabalhar, lembrando-te, ao fazê-lo, que na última volta da roda virá o mistério da morte. Não te esqueças disto. Que idade tens, meu filho?”

“Acabara de fazer dezoito anos quando matei o leão, cuja pele uso desde então. Depois aos vinte e um encontrei minha esposa. Hoje estou aqui diante de vós três vezes liberto — livre dos meus antigos instrutores, livre de medo de ter medo, e realmente livre de todo desejo.”

“Não te gabes, meu filho, mas sim, prova-me a natureza dessa liberdade que tu pressentes. Novamente em Leo, tu encontrarás o leão. Que fará então? De novo em Gêmeos, os instrutores que mataste cruzarão teu caminho. Tê-lo-ás realmente deixado para trás? Que farás? Mais uma vez em Escorpião, lutarás com o desejo. Estarás livre, ou com sua astúcia, a serpente te encontrará e te arrastará para a terra? Que farás? Prepara-te para provar tuas palavras e liberdade. Não te gabes, meu filho, mas prova-me tua liberdade e profundo desejo de servir.”

O Mestre sentou-se em silêncio e Hércules retirou-se e voltou-se para o primeiro grande Portão. Então, Aquele Que Presidia, sentado na Câmara do Conselho do Senhor, dirigiu-se ao Mestre e ordenou-lhe que chamasse os deuses para testemunharem o empenho do novo discípulo, e pô-lo no Caminho. O Mestre chamou-os. Os deuses responderam. Vieram, e ofereceram a Hércules seus presentes e muitas palavras de sábios conselhos, pois conheciam as tarefas que o esperavam e os perigos do Caminho.

7:00 h
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Minerva deu-lhe um manto, que ela própria tecera, um fino manto de rara beleza, e que lhe assentou perfeitamente. Hércules vestiu-o, com triunfo e orgulho, exultante em sua juventude. Ele tinha que provar seu valor.

Um peitoral de ouro Vulcano forjara para Hércules, para proteger seu coração, fonte da vida e da força. Envolvido por este presente de ouro, e assim escudado, o novo discípulo sentiu-se seguro. Ele ainda teria que provar sua força.

Netuno chegou com uma parelha de cavalos e entregou as rédeas a Hércules. De rara beleza e comprovado vigor, vinham eles diretamente do lugar das águas. E Hércules sentiu-se contente, pois ainda tinha que provar sua capacidade para aquela parelha de cavalos.

Com uma fala graciosa e brilhante espirituosidade, chegou Mercúrio, trazendo, numa bainha de prata, uma espada de raro modelo. Ele afivelou-a à coxa de Hércules, ordenando-lhe que a mantivesse sempre polida e afiada. “Ela tem que dividir e cortar”, disse Mercúrio, “e com precisão e conquistada habilidade, deve mover-se”. E Hércules, com alegres palavras, agradeceu. Ele ainda teria que comprovar sua alardeada habilidade.

Com o estridor de trombetas e tropel de cavalos, irrompeu a carruagem do Deus Sol. Chegara Apolo, e com sua luz e encanto cumprimentou Hércules, dando-lhe um arco, um arco de luz. Através das portas abertas de nove Portões terá que passar o discípulo, antes de ter adquirido habilidade suficiente para retesar aquele arco. Consumiu-lhe todo aquele tempo para provar que era um Arqueiro. Contudo, quando o presente lhe foi ofertado, Hércules aceitou-o confiante no seu poder, um poder até então não provado.

E assim equipado, lá estava ele. Os deuses permaneceram ao redor do Mestre, observando as alegres cabriolas de Hércules. Ele brincou diante dos deuses, e mostrou suas proezas, jactando-se de sua força. Subitamente, parou e por longo tempo pôs-se a refletir; passou as rédeas dos cavalos a um amigo, a outro entregou a espada, e a um terceiro, o arco. Em seguida, correu para um bosque próximo e desapareceu.

Os deuses aguardavam sua volta, entre intrigados e curiosos diante desta estranha conduta. Ao retornar do bosque, com o braço erguido acima da cabeça, empunhava uma clava de madeira, que cortara de uma vigorosa árvore.

“Isto é meu mesmo”, gritou ele, “ninguém m'o deu. Isto eu posso usar com poder. Oh deuses, observai meus grandes feitos.”

Então, e somente então, o Mestre disse: “Começai a trabalhar”.

7:30 h
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O café está servido. Deliciosas iguarias são saboreadas, num desjejum reforçado. Os preparativos para a saída estão adiantados. Biribiri nos aguarda ansiosa.
A chegada a Biribiri é impactante. Como pôde. Como pode? Que aconteceu?
10:00 h
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Ruma-se em direção à Gruta do Salitre, à Cachoeira da Serra e à Cachoeira Grande. O lanche, previamente organizado, substitui o almoço. A maravilha e a magia dos locais consomem todo o tempo da tarde.

Seduzido pelo ambiente, o caminhante anônimo é levado por sua mente às reminiscências do trabalho preparatório realizado por Hércules, antevendo as etapas das iniciações necessárias. Cada passo dado no caminho marca aquele período na vida do homem em que ele se põe definitivamente do lado das forças da evolução e trabalha na construção de seu próprio caráter. Ele encarrega-se de si próprio, cultiva as qualidades que faltam em seu caráter e procura, diligentemente, trazer sua personalidade sob controle.

17:00 h
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No caminho de retorno à pousada, há um tempo para visita ao alto do Cruzeiro que domina a cidade. Desfruta-se de uma bela visão do entardecer sobre a cidade. No pedestal da cruz o caminhante anônimo, em silêncio, aproveita para agradecer o privilégio de tantas coisas belas e gratificantes. Na sua mente vem a recordação do supremo momento do Mestre de todos os Mestres, na sua gloriosa unificação, versejada por seu Apóstolo querido: “Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti. Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse. E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado. Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós...”.
18:00 h
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Na pousada, os preparativos para o jantar e o passeio noturno correm céleres.

Galeria de fotos

Biribiri. Como pôde? Como pode
Biribiri. Beleza rude
Biribiri. Encanto estranho
Cachoeira dos Cristais vista de perto
Cachoeira dos Cristais mais distante
O lendário Caminho dos Escravos
Entrada da Gruta do Salitre
Entrada da gruta de outro ângulo
Lindas e curiosas formações
Diamantina ao cair da tarde
Diamantina ao cair da tarde
Diamantina no crepúsculo
As Pastorinhas da Consolação
As Pastorinhas da Consolação



Diamantina, sob as bênçãos do Céu

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