Movimento e Evolução do Som e da Linguagem
Janeiro 2025
Estimado (a) companheiro (a)
Existem três fases do movimento que são expressas através de cada manifestação. Tudo é dotado de consciência até certo ponto, e tudo se move, seja em direção a algo, através de algo ou se afastando de algo. Isso pode ser entendido no reino humano como a qualidade do desejo. Cada um de nós é movido por uma mistura de desejos, ambições e aspirações de maior ou menor importância. Ao avançarmos para os objetivos que inspiram esses desejos, passamos por um estágio de experiência que culmina na saturação e na consequente perda de estímulo, o que nos leva a buscar e nos levar a novos objetivos de desejo.
Este ciclo de fases de manifestação é repetido continuamente, e cada novo ciclo começa em uma volta mais elevada da espiral de consciência do que a anterior. Desta forma, muitas experiências de vida diversas se esgotam até que o Caminho do Discipulado começa a exercer seu chamado. Essa transmutação do desejo na aspiração ardente em direção aos reinos superiores, acompanhada por novos ritmos que se estabelecem na vida da personalidade, faz seu impacto no pensamento, na palavra e na ação, à medida que os padrões de força são gerados através da energia que flui na substância.
Isso nos leva ao tema levantado na carta de dezembro: O próprio Plano Divino está preocupado com padrões transformadores de movimento, o que significa que, à medida que avançamos ao longo dos anos, a expressão da verdade e da sabedoria espirituais procurará sempre novas formas de expressão que estejam em harmonia com os ritmos da época. Então, que novas formas de expressão podemos antecipar no futuro? Refletindo sobre as possibilidades, devemos ter em mente que o Sétimo Raio da Ordem Cerimonial, cuja influência continua a crescer, está sempre em busca de agentes dispostos a impor um movimento ordenado e ritualístico sobre a substância. Este ano também marca o início do lento retorno à expressão do Quarto Raio da Harmonia, Arte e Beleza, cuja entrada no mundo cotidiano é facilitada pelos ritmos do Sétimo.
A marca inconfundível do sétimo raio é agora percebida em muitos campos da expressão humana. Um exemplo é o ritmo e a cadência repetitiva, no estilo de um mantra, que caracteriza grande parte da música popular de hoje, que pode ser rastreada até a paisagem sonora da Revolução Industrial e o ritmo percussivo das máquinas. O que os aspectos mais elevados do sétimo raio poderiam trazer quando combinados com o Quarto Raio da Harmonia, de Arte e Beleza? O sábio hindu Sri Aurobindo disse:
"... podemos tentar sondar o que o futuro tem para oferecer através dos meios da mente poética e seu poder de criação e interpretação. Essa possibilidade é a descoberta de uma abordagem mais próxima do que poderíamos chamar de mantra na poesia: aquele discurso rítmico que, como o Veda é apontado, surge ao mesmo tempo do coração do vidente e do lar distante da Verdade - a descoberta da palavra, o movimento divino, a forma de pensamento apropriada à realidade, como afirma o Sr. Cousins (*), reside na apreensão de algo estável por trás da instabilidade da palavra e do ato; algo que é um reflexo da paixão fundamental da humanidade por algo além de si mesma; algo que constitui um conceito tênue do impulso divino que incita toda a criação a implantar e a superar suas limitações às suas possibilidades divinas. A poesia no passado alcançou isso em tempos de suprema elevação; no futuro, parece haver alguma possibilidade de que ela se torne um objetivo mais consciente e um empenho mais perseverante." (1)
O estudo do som e da linguagem é parte integrante do estudo esotérico; Rudolf Steiner ensinou que o corpo humano nada mais é do que um grande instrumento musical, onde as consoantes representam o instrumento e as vogais representam a alma que pressiona suas cordas.
"Quando pronunciamos os sons vocálicos, empurramos o que vive em nossa alma para o corpo; e o corpo, ao analisar o elemento consoante, não faz nada além de fornecer o instrumento musical para o uso de nossa alma. Você certamente sentirá que em cada vogal há algo da alma, imediata e viva. A vogal pode ser mantida por conta própria. A consoante, por outro lado, pertinentemente anseia que a vogal tende para ela. O instrumento plástico do corpo é, de fato, algo morto até que a natureza vocálica - a alma - faça seus acordes soar.” (2)
O plano físico inclui quatro níveis etéricos e é aqui que o trabalho mágico ou criativo de um grupo esotérico é realizado. Nesta área, o som e a linguagem são expressos com grande eficácia. De fato, podemos conceber a “Qualidade da Visão Oculta” (como analisada em outubro) em termos do “silêncio que soa”. Assim como o primeiro sentido que evolui na alma que encarna é o ouvido (porque os bebês podem ouvir muito antes do nascimento), a qualidade da Visão Oculta pode ser registrada através da escuta intensa no estágio contemplativo da meditação, fazendo com que todo o ser do discípulo entre em um estado de ressonância com o som que emite e com o significado que transmite. Um grupo de discípulos que participa de tal prática torna-se um instrumento musical que, de forma constante e rítmica, irradia a música da visão oculta – algum aspecto do Plano Divino para o reino humano.
Com isso em mente, o foco principal das palestras da Escola Arcana dste ano será:
Que o Grupo expresse a Qualidade da Visão Oculta.
Todas as coisas são trazidas à existência manifestada pelo poder criativo do som, e neste sentido, podemos contemplar o nosso trabalho com esta nota-chave como uma contribuição para a futura restauração da “Palavra Perdida”, sobre a qual o Tibetano escreveu:
“... quando o quarto raio e o sétimo raio entrarem em atividade juntos, teremos um período muito especial de revelação e de recepção de luz... A Palavra Perdida será, então, recuperada e proclamada para que todos a ouçam...” (3)
E nas próprias palavras de Alice Bailey:
"A Palavra sempre foi emitida para permitir à raça ver e reconhecer o próximo passo a dar. Cristo fez que o homem a ouvisse no passado, e o mesmo Cristo fará que o homem possa ouvi-la, novamente. Algum dia, como todos os maçons sabem, estas Palavras, pronunciadas periodicamente, serão substituídas por uma PALAVRA, conhecida por eles como “a Palavra Perdida”. Quando, finalmente, se enuncie essa Palavra, a humanidade poderá ascender ao mais alto píncaro da realização humana. A divindade oculta brilhará, então, em toda a sua glória, por meio da raça. Provavelmente, já teremos alcançado o ápice da conquista material. Agora, nos chega a oportunidade para que o Eu sutil divino se manifeste, por intermédio da experiência do que chamamos “o novo nascimento” e que o cristianismo sempre ensinou. O efeito de tudo o que está agora ocorrendo na terra é trazer à tona o que está oculto no coração humano, revelando, diante de nossos olhos, a nova visão. Poderemos então passar pelo portal da Nova Era, para um mundo que será caracterizado por uma compreensão mais profunda das realidades vitais e uma apreciação mais real e mais elevada dos valores. A Palavra deve ser emitida, novamente a partir do centro - o Centro nos Céus, e o centro em todo coração humano." (4)
Em iluminado companheirismo grupal,
Grupo da Sede
ARCANE SCHOOL
Escola Arcana
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1. Sri Aurobindo, A Poesia Futura, pp. 10-11.
2. Rudolf Steiner, Discurso e Filhos (The Speak and Song), The Rudolf Steiner
Archive.
3. Alice A Bailey, Psicologia Esotérica, T. I, pp. 52-53
4. Alice A. Bailey, de Belém ao Calvário, pp. 37-38
(*) - James Cousins foi um dramaturgo e poeta que foi citado na carta de
dezembro. Sri Aurobindo o considerou um grande crítico literário - perspicaz
e sugestivo... que nos obriga a ver e pensar. Sri Aurobindo reconheceu que
aprendeu a intuir em maior profundidade graças às avaliações de Cousins de
seus poemas. Referência: Wikipedia.