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BHAGAVAD-GITA


CAPÍTULO XVII: As Divisões da Fé

Pérola 87. AS TRÊS CATEGORIAS DE FÉ (versos 1 ao 4)

1. Arjuna perguntou: Ó Krishna, em que situação ficam aqueles que não seguem os princípios da escritura, mas adoram segundo sua própria imaginação? Estão eles em bondade, paixão ou ignorância?

2. A Suprema Personalidade de Deus disse: Conforme os modos da natureza adquiridos pela alma corporificada, sua fé pode ser de três espécies – na bondade, na paixão ou na ignorância. Agora ouça enquanto falo sobre isso.

3. Ó filho de Bharata, conforme sua existência sob os vários modos da natureza, o homem desenvolve determinada espécie de fé. Conforme os modos com os quais conviveu, o ser vivo tem uma fé específica.

4. Os homens no modo da bondade adoram os semideuses; aqueles que estão no modo da paixão adoram os demônios; e aqueles que vivem no modo da ignorância adoram fantasmas e espíritos.

No final do capítulo anterior, o Senhor deixou claro que as pessoas de natureza demoníacas podem se libertar da situação abominável que se encontram, seguindo os métodos prescritos nas escrituras védicas com fé e convicção. No entanto, a fé específica de cada um depende do resultado acumulado das atividades que a pessoa executou em muitas vidas prévias, o que também define a influência específica que ela receberá dos modos da natureza material. Considerando tudo isto, Arjuna no início deste capítulo levanta uma importante questão. Ela quer saber qual a posição das pessoas que não têm conhecimento perfeito e que não seguem os princípios das escrituras védicas, mas, com boa intenção, executa um tipo de adoração criado por elas mesmas. Elas poderão alcançar a perfeição da vida? Tal adoração está na ignorância, paixão ou bondade? Em resposta a esta inteligente pergunta, o Senhor Krishna apresenta este Décimo Sétimo Capítulo.

Ficou bastante claro que o ser vivo tem se associado com a natureza material por muitas vidas e, conforme esta associação, ele desenvolve uma mentalidade específica sob a influência dos modos da natureza material. No entanto, com a associação de pessoas iluminadas em conhecimento védico, especialmente com um mestre espiritual auto-realizado, tanto sua natureza quanto sua mentalidade poderão mudar, e ele poderá avançar em qualidades divinas e espirituais e recuperar sua natureza constitucional, a qual é completamente transcendental a influência dos três modos da natureza material. Uma vez situado nesta posição transcendental, costuma-se dizer que tal pessoa está em bondade pura, ou bondade espiritual, estando assim purificada e qualificada para compreender a verdadeira natureza da Suprema Personalidade de Deus. De outro modo, sob a influência da ignorância, paixão ou mesmo bondade material, a pessoa manifestará um tipo de fé sujeita a contaminação do modo (ou, dos modos) da natureza que a está exercendo influência. Por isso, existem diferentes espécies de fé e, conseqüentemente, diferentes classes de religião correspondentes aos modos materiais da natureza. Embora a Suprema Personalidade de Deus seja o verdadeiro e perfeito objeto de fé e o objeto máximo de adoração, ainda assim, a grande maioria das pessoas, estando contaminados pelos modos da natureza material, não pode compreender e aceitar este fato.
Sob a influência do modo da bondade, as pessoas geralmente adoram os semideuses, tais como Shiva, Indra, Surya etc., em troca de benefícios pessoais. O modo da paixão induz a pessoa a adorar seres humanos demoníacos, tais como políticos poderosos, militares ou mesmo artistas e esportistas; e, finalmente, no modo da ignorância, se executa adoração aos seres fantasmagóricos e maus espíritos.

Pérola 88. AUSTERIDADES E PENITÊNCIAS DEMONÍACAS (versos 5 a 6)

5-6. Aqueles que se submetem a rigorosas austeridades e penitências não recomendadas nas escrituras, executando-as por orgulho e egoísmo, que são impelidos pela luxúria e apego, que são tolos e que torturam os elementos materiais do corpo bem como a Superalma que mora no interior deste, devem ser conhecidos como demônios.

Os homens demoníacos pensam que, ao criarem suas próprias austeridades e penitência, conseguirão fazer com seus inimigos ou adversários sejam conquistados e, sob a influência da ignorância e paixão mundanas, praticam a autotortura. Porém, as escrituras védicas não recomendam austeridades ou penitências para a obtenção de propósitos de interesses pessoais. A prática de jejum é um bom exemplo disto, pois o seu verdadeiro propósito é a purificação e o avanço espiritual, e nunca deve ser utilizada para um fim político ou interesse social. Além disso, as escrituras nos orientam que a prática de jejum deve ser executada em dias específicos e sob certas condições auspiciosas e não quando se bem entenda. Portanto, o jejum que não visa exclusivamente o avanço espiritual e que não é normatizado pelas escrituras é uma verdadeira perturbação para a sociedade e é uma prática característica dos demônios. Além de insultar a Personalidade de Deus, o compilador dos Vedas, o jejum não recomendado nas escrituras, perturba a Superalma que habita o corpo.

Pérola 89. AS TRÊS CLASSES DE SACRIFÍCIOS E ALIMENTOS (versos 7 a 13)

7. Mesmo o alimento que cada pessoa prefere é de três espécies, conforme os três modos da natureza material. O mesmo se aplica aos sacrifícios, às austeridades e à caridade. Agora ouça enquanto falo sobre as distinções que há entre eles.

8. Os alimentos apreciados por aqueles que estão no modo da bondade aumentam a duração da vida, purificam a existência e dão força, saúde, felicidade e satisfação. Semelhantes alimentos são suculentos, gordurosos, saudáveis e agradáveis para o coração.

9. Alimentos que são muito amargos, muito acres, salgados, quentes, picantes, secos e ardentes são apreciados por quem está no modo da paixão. Tais alimentos causam sofrimento, miséria e doença.

10. Alimento preparado mais do que três horas antes de ser ingerido, alimento insípido, decomposto e putrefato, e alimento que consiste em refugos e substâncias intocáveis atrai aqueles que estão no modo da escuridão.

11. Dos sacrifícios, é da natureza da bondade o sacrifício que por uma mera questão de dever é executado conforme as direções das escrituras por aqueles que não desejam nenhuma recompensa.

12. Mas deves saber que o sacrifício executado em troca de algum benefício material, ou por causa do orgulho, ó principal dos Bharatas, está no modo da paixão.

13. Considera-se que todo sacrifício executado sem que se levem em consideração as direções das escrituras, sem que se distribua prasadam (alimento espiritual), sem que se cantem os hinos védicos, sem que se remunerem os sacerdotes e sem que se tenha fé, está no modo da ignorância.

A alimentação exerce uma influência definitiva nas pessoas, por isso, os Vedas prescrevem a alimentação perfeita para que se possa, através dela, avançar rumo ao caminho da auto-realização espiritual. Evidentemente, a alimentação adequada é aquela que está sob a influência do modo da bondade, pois além de aumentar a duração da vida e dar força ao corpo, o alimento no modo da bondade purifica a mente, e, uma vez logrando-se a purificação da mente, pode-se mais facilmente exercer controle sobre ela. A alimentação no modo da bondade, portanto, não visa o mero gozo do sentido da língua de um modo inconseqüente. A pessoa no modo da bondade regula a qualidade e a quantidade da sua alimentação e não cai vítima dos ditames da língua. Sua alimentação básica são os grãos integrais, frutas, vegetais e os produtos lácteos, os quais fornecem a gordura animal e eliminam a prática subumana e abominável da matança dos animais. Uma consideração igualmente importante é a consciência na qual se prepara o alimento, pois o estado de consciência da pessoa no momento do preparo é, até certo ponto, transmitido para a alimentação. Para que, portanto, a alimentação seja pura e cumpra seus verdadeiros propósitos, a pessoa de estar com seu corpo limpo externamente e com sua mente pura, absorta em pensamentos divinos – isso é o modo da bondade. No entanto, existe o alimento transcendental, ou seja, o alimento em bondade pura. Este alimento é considerado o alimento supremo e é conhecido como prasadam, a misericórdia do Senhor. Quando a pessoa preparar o alimento não para seu próprio gozo dos sentidos, mas para comprazer o Supremo e segue o padrão puro de alimentação estabelecido na literatura védica (isto é, não utiliza carnes, peixes, ovos ou bebidas alcoólicas) e, ao mesmo tempo, oferece-o com devoção ao Senhor, tal alimento torna-se completamente transcendental e, além de extremamente saboroso e apreciável por todos, fonte de grande inspiração espiritual e purificação mental. O ideal é que a pessoa absorva-se em cantar o maha-mantra Hare Krishna enquanto cozinha, pois isto ajudará a pessoa a ter sua mente limpa e controlada.

Ao contrário da alimentação no modo da bondade que produz saúde ao corpo, os alimentos no modo da paixão causam sofrimento e, posteriormente, doenças. Tais alimentos são picantes e apimentados, exageradamente salgados e muito amargos. Apesar disto, quando não são misturados com as substâncias abomináveis do modo da ignorância (especificamente, carne, peixes e ovos) eles podem ser purificados e oferecidos ao Senhor, tornando-se prasadam, pois dependendo da condição física de uma determinada pessoa, as vezes tais alimentos agem como remédios. No entanto, os alimentos no modo da ignorância devem ser considerados intocáveis, tais como a carne animal e as bebidas alcoólicas. Basicamente, os alimentos no modo da ignorância nunca são frescos, exalam mau odor, estão num estado de decomposição e, por isto, exercem uma péssima influência para aqueles que o ingerem, aumentando ainda mais sua propensão às atividades influenciadas pela ignorância.

Aqui também se faz menção dos diferentes modos que se executa sacrifícios. Basicamente, a pessoa no modo da bondade executa sacrifício sem esperar alguma recompensa material. Ela possui fé no Senhor e executa os deveres religiosos encontrados nas escrituras que foram adotadas por ela. Independente do resultado, tal pessoa civilizada visita o templo ou a igreja de uma forma discreta e faz sua adoração regulada ao Senhor de maneira respeitosa e honesta. No entanto, no modo da paixão, a pessoa também adora o Senhor, mas não possui desapego. Tal pessoa invertem sua posição com a posição de Deus. Em outras palavras, ela quer que Deus a sirva e está sempre à espera de promoções materiais. No modo da paixão, tem-se muito orgulho de ter-se adotado uma posição religiosa e busca-se prestígio com isto e, na maioria dos casos, o modo da paixão faz com que a pessoa aja de modo sentimental ou fanático. No modo da ignorância, a situação ainda é pior. Neste caso, o executor de sacrifício age segundo sua própria determinação, pois não aceita (e, muito menos, segue) a direção de nenhuma escritura. Executado sem nenhuma fé, tais sacrifícios são típicos das pessoas no modo da ignorância.

Pérola 90. AS AUSTERIDADES DO CORPO, DA MENTE E DA FALA (versos 14 a 19)

14. A austeridade do corpo consiste em adorar o Senhor Supremo, os brahmanas, o mestre espiritual e os superiores, tais como o pai e a mãe, e em limpeza, simplicidade, celibato e não-violência.

15. A austeridade da fala consiste em proferir palavras verazes, agradáveis, benéficas e que não perturbam aos outros, e também em recitar regularmente a literatura védica.
16. E satisfação, simplicidade, gravidade, autocontrole e purificação da existência são as austeridades da mente.

17. Estas três espécies de austeridade, executadas com fé transcendental por quem não espera benefícios materiais mas que atua apenas por amor ao Supremo, chamam-se austeridades em bondade.

18. Afirma-se que a penitência executada por orgulho e com o intuito de ganhar respeito, honra e adoração está no modo da paixão. Não é estável nem permanente.

19. Penitência executada por tolice, com autotortura ou visando a destruir ou ferir os outros se diz que está no modo da ignorância.

O verdadeiro propósito das austeridades é afastar a pessoa gradualmente de uma vida desregulada de gozo dos sentidos e, para que isto seja possível, o Senhor aqui enfatiza a importância das austeridades do corpo, da mente e da fala. Deve-se, portanto, utilizar o corpo especialmente para se prestar respeito ao Senhor e aos Seus representantes, tais como os brahmanas, o mestre espiritual e os nossos pais. Quanto ao respeito aos pais, isto é mais do que óbvio, já que sem a união deles, o nosso corpo não existiria. No entanto, a obtenção de um corpo físico é só o começo, pois tem-se que submeter ao segundo nascimento, que é dado pelo mestre espiritual, ou guru, através da iniciação espiritual. Sem aceitar a iniciação de um mestre espiritual, não se torna possível um cultivo perfeito de conhecimento e não se pode sair da plataforma material de existência. Portanto, com respeito e consideração, deve-se oferecer respeitos e reverências ao mestre espiritual e vê-lo como um importante representante de Deus. Os sacerdotes brahmanas são a classe de pessoas sob a influência da bondade e se responsabilizam também pela disseminação do conhecimento védico, por isto sua função é altamente respeitável. No corpo social, eles representam a cabeça da sociedade e é dito que o Senhor ministra instruções através das bocas dos brahmanas. O modo de adoração a Deus mais adequado para esta era de Kali é o canto constante dos Seus santos nomes, especialmente o canto do maha-mantra Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare que limpa o coração de toda a poeira do materialismo que se acumulou em nossos corações por vidas. Simplicidade significa que não se deve perder tempo com a obtenção desnecessária de diferentes parafernálias para o gozo dos sentidos. Devemos executar nosso dever da melhor maneira possível e não se deixar levar pela expectativa de resultados positivos. Deve-se, portanto, depender da misericórdia do Senhor. O corpo material está sempre exigindo gozo dos sentidos, especialmente o prazer sexual. No entanto, para uma pessoa que aceita a auto-realização espiritual como a meta da vida, tal prazer sexual é considerado um verdadeiro empecilho por que intensifica a identificação com o corpo material. O ideal é uma vida de castidade, livre de atividades sexuais. Mas também aceita-se a hipótese de uma vida de celibato, onde a vida sexual é permitida dentro de um casamento com o propósito de estabelecer uma família pura em consciência de Krishna, pois o casamento verdadeiramente religioso presta-se a regular a mente para outorgar a paz necessária para o avanço espiritual.

A tendência da fala é muito forte e o seu bom ou mau uso produz resultados diferentes como, por exemplo, construir ou destruir amizades, inspirar ou desmotivar pessoas e, finalmente, iluminá-las ou obscurecê-las. Por isso, o Senhor aqui faz menção da importância da austeridade da fala. O mais importante é praticar a veracidade falando apenas aquilo que se encontra nas escrituras autorizadas. Por este motivo, compreende-se que, antes mesmo de falar, a pessoa tem que praticar a austeridade de ouvir de fontes autorizadas e, ao mesmo tempo, não dar sua própria interpretação baseada em interesses pessoais. A pessoa deve ser cautelosa em não agitar a mente dos outros, prejudicando o processo natural de avanço espiritual que cada um se encontra e, além disso, deve se preocupar em apresentar as coisas de uma forma agradável e doce.

A mente deve ser treinada para ser uma aliada à pessoa no processo de purificação da consciência de Krishna. Para isto, é importante que se busque satisfação espiritual nas atividades da consciência de Krishna, evitando ao máximo o gozo mundano dos sentidos. Evidentemente, a mente está sempre interessada em prazer. Mas, devemos aprender a manter a mente satisfeita com um modo de vida simples, cultivando pensamentos elevados, pois faz parte do conhecimento espiritual a percepção de que, quanto mais nos absorvermos em gozo dos sentidos, mais nossa mente ficará insatisfeita. A vida moderna é um exemplo adequado para isto, onde criou-se um sem fim de objetos para o prazer dos sentidos. No entanto, as mentes dos homens modernos estão mais insatisfeitas e descontroladas do que nunca.

A conclusão é que devemos executar todas estas austeridades (do corpo, da fala e da mente) para progredirmos em consciência espiritual e, assim, alcançarmos resultados permanentes. De outro modo, mesmo estas austeridades serão inúteis no que diz respeito ao progresso espiritual, caso sejam executadas por uma questão de orgulho, materialmente motivadas ou com interesses demoníacos.

Pérola 91. AS TRÊS CLASSES DE CARIDADES (versos 20 a 22)

20. A caridade dada por dever, sem expectativa de recompensa, no local e hora apropriados e dada a alguém digno, está no modo da bondade.

21. Mas a caridade executada com expectativa de alguma recompensa, ou com desejo de resultados fruitivos, ou com má vontade, diz-se que é caridade no modo da paixão.

22. E a caridade executada em lugar impuro, em hora imprópria e feita a pessoas indignas ou sem a devida atenção e respeito diz-se que está no modo da ignorância.

A caridade é uma prática importante e saudável e pode nos ajudar muito no processo de auto-realização. No entanto, é preciso aprender a praticá-la com completa discriminação. O ideal é praticar a caridade para as pessoas renunciadas, pelo prazer de vê-las ocupadas exclusivamente no serviço devocional ao Senhor. Além disso, tal caridade deve estar isenta de expectativa de recompensa pessoal, pois esta atitude caracteriza o modo da paixão. Existem vários lugares sagrados de peregrinação e geralmente é lá que encontramos as pessoas adequadas para receberem caridade. Por outro lado, a caridade feita aos brahmanas e vaishnavas sempre é recomendada, pois, devido a suas ocupações espirituais constantes, suas presenças auspiciosas transformam qualquer lugar mundano em um lugar de peregrinação.

A execução de caridades em troca de elevação aos planetas celestiais superiores ou em troca de resultados fruitivos não é recomendada nas escrituras e também nunca se deve executar austeridades apenas por ordem de alguém ou com má vontade. Fazer doações à pessoas ocupadas no gozo dos sentidos e em atividades pecaminosas é ignorância e não é benéfica nem para quem executada tal caridade, nem para quem a recebe. Pelo contrário, torna-se um estímulo para o incremento de mais atividades pecaminosas. O ideal, portanto, é executar caridades para os devotos do Senhor ocupados em propagar Suas glórias. Neste caso, o resultado se torna absolutamente positivo e toda a sociedade ganha com isto. Na verdade, a caridade espiritual é considerada a atividade mais auspiciosa para um ser humano, através da qual pode-se distribuir literatura transcendental, alimento espiritual, prasadam, ou os santos nomes do Senhor, especialmente o maha-mantra Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare. Neste caso, pode-se distribuir tais caridades em quantidades profusas, e sem a menor discriminação quanto a qualificação dos recebedores, pois trata-se de um conceito diferente, baseado no sentimento transcendental de compaixão e misericórdia a todos os seres vivos.

Pérola 92. AS PALAVRAS SAGRADAS "OM TAT SAT" (versos 23 a 28)

23. Desde o começo da criação, as três palavras "om tat sat" foram usadas para indicar a Suprema Verdade Absoluta. Estas três representações simbólicas eram usadas pelos brahmanas enquanto cantavam os hinos dos Vedas e durante os sacrifícios que eles executavam para a satisfação do Supremo.

24. Portanto, para alcançar o Supremo, os transcendentalistas, empreendendo a execução de sacrifícios, caridade e penitências conforme as regulações das escrituras, inicialmente sempre pronunciam o om.

25. Com a palavra tat, deve-se executar várias espécies de sacrifício, penitência e caridade sem desejar resultados fruitivos. O propósito dessas atividades transcendentais é livrar-se do enredamento material.

26-27. A Verdade Absoluta é o objetivo do sacrifício devocional, e é indicada pela palavra sat. O executor deste sacrifício também é chamado "sat", assim como o são todas as obras de sacrifício, penitência e caridade que, em harmonia com a natureza absoluta, são executadas para agradar à Pessoa Suprema, ó filho de Pritha.

28. Tudo aquilo que é feito como sacrifício, caridade ou penitência sem fé no Supremo, ó filho de Pritha, é impermanente. Chama-se asat e é inútil tanto nesta vida quanto na próxima.

Estas três palavras, om tat sat, são freqüentemente encontradas nos hinos védicos e se referem especialmente a Verdade Absoluta, a Suprema Personalidade de Deus. Desse modo, depois de explicar as diferentes divisões da fé baseadas nas características dos três modos da natureza, aqui o Senhor conclui que as austeridades, penitências, caridades, etc., devem ser oferecidas a om tat sat, ou seja, à Pessoa Suprema, para se estabelecerem no modo da bondade espiritual, além de qualquer influência na energia material ilusória.

Mesmo o senhor Brahma, o primeiro criatura do universo, ao executar sacrifícios pronunciou estas três palavras sagradas para indicar que a meta de seus esforços era satisfazer a Divindade Suprema. Estas três palavras são pronunciadas para invocar o Senhor Supremo e se referem aos seus santos nomes. Desse modo, na literatura védica acrescenta-se o primeiro objetivo om quando se pronuncia um hino védico ou o santo nome do Senhor Supremo como, por exemplo, o mantra, om namo bhagavate vasudevaya: "Reverências a Suprema Personalidade de Deus Onipresente".

A palavra tat indica que, como segundo objetivo, devemos oferecer todos os nossos esforços ao Senhor, caso queiramos nos livrar de todo enredamento material. Finalmente, através da palavra sat, o terceiro objetivo fica ainda mais claro: somente o Senhor é o objeto de nosso sacrifício. A conclusão é que devemos executar nossas atividades em nome da Suprema Personalidade de Deus: om tat sat e entrarmos em harmonia com a natureza absoluta garantindo, assim, a perfeição em todas as nossas atividades. Para aperfeiçoar completamente nossa vida, coroando nossos esforços de verdadeiro êxito, devemos sempre vibrar om tat sat pois, tudo que é feito sem buscar a satisfação do Senhor, quer seja caridade, sacrifício, etc., produz um resultado sem o menor valor espiritual, tanto para esta vida quanto para a próxima.

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