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Livros de Alice Bailey

Do Intelecto à Intuição


Capítulo I - Pensamentos Preliminares

"O método científico - para além do seu ponto de vista acanhadamente agnóstico e pragmático - é incompleto e insuficiente em si mesmo: portanto, para entrar em contacto com a realidade, exige complemento de uma ou de outra metafísica."
JOSEPH MARECHAL, S.J.

Pensamentos Preliminares

O interesse suscitado atualmente pelo tema da meditação evidencia uma necessidade mundial que é necessário compreender claramente. Quando encontramos uma tendência popular para uma direção particular e constante, pode-se assumir com segurança que dela surgirá aquilo que a raça precisa em sua marcha para diante. Que a meditação seja considerada como um "modo de orar" pelos que dão definições irresponsáveis, é desgraçadamente verdade. Mas pode-se demonstrar que na compreensão exata do processo da meditação e na sua justa adaptação às necessidades da civilização moderna, encontrar-se-ão a solução do impasse atual da educação e o método pelo qual deverá ser comprovada a existência da alma - esta coisa viva a que chamamos "Alma", à falta de melhor termo.

O propósito deste livro é tratar da natureza e do verdadeiro significado da meditação, bem assim, de sua aplicação em larga escala no Ocidente. Sugere-se que poderá eventualmente suplantar os métodos atuais de desenvolvimento da memória e revelar-se como fator potente na educação moderna. É um assunto que tem preocupado os pensadores do oriente e do ocidente durante milhares de anos, e esta uniformidade de interesse é, em si mesma, importante. Os próximos desenvolvimentos que farão a humanidade avançar no caminho do seu desabrochar de consciência estarão, certamente, na direção da síntese. O crescimento do conhecimento humano deve efetuar-se pela fusão das técnicas orientais e ocidentais de treinamento mental. Isto já vem sucedendo e pensadores dos dois hemisférios se estão conscientizando de que esta fusão conduz a uma conscientização das mais significativas. Edward Carpenter diz disto:

"Parece que, com a difusão do nosso conhecimento do globo chegou o momento em que está havendo, de forma natural e inevitável... uma grande síntese de todo o pensamento humano... Desta reunião de elementos surge, já, o tênue delineamento de uma filosofia que seguramente dominará o pensamento humano durante um longo período." (1)

Aqui residirão a glória e a esperança da humanidade e o triunfo mais importante da ciência. Somos agora um só povo; a herança de uma raça está aberta a qualquer outra; os melhores pensamentos dos séculos estão acessíveis a todos, e as antigas técnicas e os métodos modernos estão a se unir e intercomunicar-se. Cada um deverá modificar o seu modo de apresentação e esforçar-se por compreender o espírito subjacente que produziu certa fraseologia e simbologia particular, e quando estas concessões forem feitas, surgirá uma estrutura verdadeira que incorporará o espírito da Nova Era. Os pensadores modernos compreendem isso. O Dr. Overstreet assinala:

"Suspeita-se que a filosofia oriental influenciou pouco o pensamento ocidental, principalmente devido à sua apresentação. Mas há toda razão para crer que à medida que a influência do pensamento ocidental - particularmente na sua rigorosa experimental idade - for sentida no oriente, adotar-se-á uma nova modalidade filosófica, e a espiritualidade profunda do pensamento oriental será expressa de maneira mais aceitável à mente ocidental." (2)

Até aqui, a tendência das duas escolas foi a de se antagonizarem, conquanto a procura da Verdade fosse a mesma; o interesse pelo que é e pelo que possa vir a ser não se confina a um ou outro grupo; e os fatores com os quais cada um trabalhou foram também os mesmos. Mesmo que o intelecto do pensador asiático se deixe levar pela imaginação criadora e o do investigador ocidental para a realização científica, ainda assim o mundo que ambos penetram é curiosamente o mesmo; o instrumento do pensamento que em- pregam é chamado "mente" no Ocidente e "substância mental" (chitta) no Oriente; servem-se dos símbolos para expressar as suas conclusões e ambos chegam ao ponto em que as palavras são impotentes para corporificar as possibilidades intuídas.

O Dr. Jung, uma das personalidades que procuram conciliar os elementos até aqui discordantes, toca nisto neste extrato do seu "Comentário Sobre um Velho Manuscrito Chinês". Diz assim:

"A consciência ocidental não é de modo algum a consciência em geral, mas um fator historicamente condicionado e geograficamente limitado, representativo apenas de uma parte da humanidade. A expansão da nossa consciência não deveria produzir-se em detrimento de outros tipos de consciência, mas sim, pelo desenvolvimento dos elementos da nossa psique que são análogos aos de uma psique estrangeira, assim como o Oriente não pode prescindir de nossa técnica, ciência e indústria. A invasão europeia da Ásia foi um ato de violência em grande escala e impõe-nos o dever -"noblesse oblige" - de compreender a mentalidade oriental. Isto talvez seja mais necessário do que nos damos conta atualmente". (3)

O Dr. Hocking de Harvard apresenta-nos a mesma ideia:

"Parece que há razões para esperar um melhor futuro físico da raça, graças a uma sã higiene mental. Passada a era dos charlatães e até certo ponto com a ajuda dos mesmos, vislumbra-se uma possibilidade de um autodomínio crescente, à medida que o sentido espiritual de uma disciplina tal como a da Ioga se junte aos sóbrios elementos da psicologia ocidental e com um sistema ético são. Nenhum destes elementos tem grande valor sem o outro". (4)

Os que estudaram nas duas escolas, dizem-nos que os símbolos místicos do Oriente tal como os nossos expoentes místicos ocidentais não passam de um véu por trás do qual aqueles que estão dotados de percepção intuitiva sempre puderam penetrar. A ciência ocidental, insistindo sobre a natureza da forma, conduziu-nos também aos domínios da intuição e parecer-nos-ia que os dois métodos poderiam fundir-se se, cada um libertando-se do não essencial, chegar a uma base de compreensão, desenvolvendo uma nova abordagem para o mistério central do homem fundada sobre velhas verdades demonstradas. O Dr. Jung escreve ainda sobre este assunto na obra acima citada:

"A ciência é a melhor ferramenta da mente ocidental; com ela podem ser abertas mais portas do que com as mãos. Assim, é parte da nossa compreensão, e só obscurece a nossa visão interior quando pretende ser a única maneira de se alcançar conhecimento. Mas foi o Oriente que nos ensinou uma compreensão mais alta, mais vasta, mais profunda, que é a compreensão através da vida. Não conhecemos este caminho senão vagamente, como um simples sentimento impreciso, tirado da terminologia religiosa e, como consequência, colocamos facilmente a sabedoria oriental entre aspas e repelimo-la para o domínio obscuro da fé e da superstição. Mas assim fazendo, o realismo oriental fica inteiramente incompreendido. Não consiste em intuições sentimentais exageradamente místicas, quase patológicas, emanando de reclusos ascetas e lunáticos. A Sabedoria do Oriente está baseada num conhecimento prático... que não temos a mínima justificação para subestimar". (5)

É no exercício da mente que está o nó da questão. A mente humana é aparentemente um instrumento que pode ser empregado em duas direções. Uma é para o exterior: A mente, ao funcionar neste modo, registra os nossos contactos com o mundo físico e o mundo mental em que vivemos, e reconhece as condições emotivas e sensoriais. É o registrador e o que correlaciona as nossas sensações, reações e tudo o que lhe é transmitido por intermédio dos cinco sentidos e do cérebro. É um campo de conhecimento que foi largamente estudado e os psicólogos fizeram grandes avanços na compreensão dos processos de mentalização. "Pensar”, diz-nos o Dr. Jung, "é uma das quatro funções psicológicas básicas. É esta função psicológica que, de acordo com as suas próprias leis, modela as representações dadas em suas conexões conceituais. É uma atividade perceptiva, tanto passiva como ativa. O pensamento ativo é um ato de vontade, o pensamento passivo uma ocorrência." (6)

Como veremos mais tarde, é o aparelho do pensamento que está envolvido na meditação e que deve ser treinado para acrescentar a esta primeira função da mente a capacidade de se voltar para outra direção, e de registrar com igual facilidade o mundo interno e intangível. Esta habilidade para reorientar-se permitirá à mente registrar o mundo das realidades subjetivas, das percepções intuitivas e das ideias abstratas. Esta é a sublime herança do místico, que, contudo, parece ainda não ser acessível ao homem comum.

O problema que hoje se põe para a família humana, no domínio da ciência e da religião, resulta do fato que o seguidor de uma e de outra escola descobre se encontrar no limiar dum mundo metafísico. Um ciclo de desenvolvimento chegou ao fim. O homem, tanto como entidade sensível e pensante, parece haver chegado agora a uma apreciável medida da compreensão do instrumento com o qual tem de trabalhar. Interroga-se: Que uso deve fazer dele? Aonde o conduzirá esta mente que ele está lentamente aprendendo a controlar? Que reserva o futuro ao homem? Algo que sentimos, de uma beleza e de uma certeza maior do que tivemos até o presente. Talvez cheguemos universalmente a esse conhecimento que o místico teve individualmente. Os nossos ouvidos estão surdos pelo barulho de nossa civilização moderna e, contudo, por vezes percebemos sons mais tênues que testemunham a existência de um mundo imaterial. Os nossos olhos estão cegos pela névoa e fumarada do ambiente imediato, contudo, veem lampejos de visão clara, que revelam um estado de ser mais sutil e que rompem a névoa, deixando entrar "a glória que nunca houve sobre a terra ou sobre o mar”. O Dr. Bennet, de Yale, exprime estas ideias em termos magníficos:

"Cai o véu dos nossos olhos e o mundo aparece sob uma nova luz. As coisas já não são ordinárias; Vem uma certeza de que este é o mundo real cujo verdadeiro caráter a cegueira humana ocultou até agora.

Não onde os sistemas em movimento se confundem
E a nossa compreensão sem sentir se perde;
Tivéssemos escutado atentamente o bater repetido das rotações.
Nas nossas próprias portas completamente obstruídas pela lama.
Os anjos conservam os seus antigos lugares;
Movei apenas uma pedra e começai a voar!
Sois vós, são os vossos rostos indiferentes
Quem perde a mais esplendorosa das coisas

Esta experiência é em princípio perturbadora, sedutora. Há o rumor de um mundo novo e o espírito anseia por empreender esta viagem sobre estranhos mares. O mundo familiar deve ser abandonado. A grande aventura religiosa começa...

Deve haver em qualquer parte um ponto seguro. Um universo em expansão pode abrir futuros, mas quem afirmar que o universo se desenvolve, enuncia um fato inalterável com respeito à sua estrutura, fato que é a garantia eterna da possibilidade e da validade da experiência...

O homem é uma ponte. Mesmo o super-homem, desde que descubramos que ele é apenas o símbolo de um árduo ideal a alcançar, torna-se também uma ponte. Nessa única certeza é que as portas do futuro estão sempre abertas." (7)

O problema consiste talvez em que estas portas do futuro parecem abertas sobre um mundo imaterial e um reino inatingível, metafísico e suprassensível. Quase esgotamos os recursos do mundo material, mas não aprendemos ainda a atuar no mundo imaterial. Chegamos mesmo a negar sua existência em certos momentos. Encaramos a inevitável experiência a que chamamos morte, sem fazer nenhum esforço lógico para verificar se há realmente uma vida para além dela! O progresso da evolução produziu uma raça maravilhosa, munida de um aparelho de resposta sensível e de uma mente que raciocina. Possuímos os rudimentos de um sentido a que chamamos intuição e, assim equipados, permanecemos diante das portas do futuro e perguntamos: “Para que fim empregaremos este complexo mecanismo a que chamamos um ser humano"? Teremos atingido nosso desenvolvimento completo? Haverá nuances do significado da Vida que tenham escapado â nossa atenção? E isto, por que temos poderes latentes e capacidades ainda não compreendidas? Será possível que estejamos cegos a um vasto mundo de vida e beleza, possuindo leis e fenômenos próprios? Os místicos, os videntes de todas as eras e de ambos os hemisférios declararam que tal mundo existe.

Com este equipamento - a que poderíamos chamar a personalidade - o homem, tendo atrás de si o passado, encontra-se num presente caótico e diante de um futuro invisível. Não pode permanecer estático. Deve seguir adiante e as vastas organizações educativas, científicas, filosóficas e religiosas fazem o que podem para apontar-lhe o caminho a seguir e apresentar-lhe a solução do problema.

O estático e cristalizado se desmorona com o tempo e onde o crescimento se interromper, ocorrerão anormalidades e retrocesso. Alguém disse que o perigo a evitar é o de uma "personalidade desintegrada". Se a humanidade não é uma potencialidade, se o homem atingiu o seu Zênite e não pode ir mais além, então deveria reconhecê-lo e procurar organizar o seu declínio de modo a tornar sua queda tanto mais fácil e bela. É encorajador notar que já em 1850, os nebulosos contornos deste portal para a Nova Era eram vagamente entrevistos, e que pensadores interessados pro isto afirmavam que o homem não devia falhar no aprendizado da sua lição e sim, ir à frente no seu processo. Lede as palavras de Carlyle e constatai quão apropriadas são à Era presente.

"Nestes dias que passam sobre nós, mesmos os néscios param para perguntar qual é o seu significado. Poucas gerações de homens viram dias tão impressionantes! Dias de calamidades sem fim, de rotura, desorganização, de deslocamentos, de confusão assombrosa... Não é uma esperança débil que nos satisfará, pois a ruína é claramente... universal. Deve vir um mundo novo, se tal mundo deve haver. Que os seres humanos da Europa possam voltar sempre à triste rotina e avançar com segurança e constância, é uma esperança muito remota. Estes dias de mortandade universal devem ser dias universais de renascimento, para que a ruína não seja total e definitiva. É uma época para fazer o homem mais bruto refletir a respeito de sua origem e porque é que está preso..." (8)

Considerando o século decorrido depois que Carlyle escreveu estas palavras, constatamos que o homem não deixou de avançar. A era da eletricidade foi inaugurada e as maravilhosas aquisições da ciência da nossa época são de todos conhecidas. Portanto, neste tempo de crise nova, podemos ser otimistas e avançar com coragem, pois os portais para a entrada da Nova Era veem-se muito mais facilmente. Talvez seja verdade que o homem só hoje atinge a sua maioridade e começa a entrar na posse da sua herança e a descobrir em si próprios poderes, capacidades, faculdades e tendências que são a garantia e o penhor de uma humanidade vital e útil e de existência eterna. Estamos terminando o estágio em que se insistia sobre o mecanismo, sobre o conjunto das células que constituem o corpo e o cérebro, com as suas reações automáticas ao prazer, à dor e ao pensamento. Conhecemos muito sobre o Homem, a máquina. Somos grandemente devedores aos psicólogos da escola mecanicista devido às suas descobertas sobre o aparelho pelo qual o ser humano entra em contato cor- tudo o que o cerca. Mas há "homens" entre nós que não são simples máquinas. Temos o direito de medir as nossas capacidades últimas e a nossa grandeza potencial pelas realizações dos melhores entre nós; estes grandes seres que não são os produtos esquisitos do capricho divino nem dos cegos impulsos da evolução, mas sim penhores da realização última do Todo.

Irving Babbitt observa que há qualquer coisa na natureza do homem "que o distingue dos animais, simplesmente como homem", e essa qualquer coisa definiu-a Cícero: "Um sentido de ordem, de decoro e de medida nas ações e palavras". Babbitt acrescenta, (e isto é o ponto a notar) que "o mundo seria um lugar melhor se mais pessoas já se tivessem assegurado de serem humanos antes de buscarem a super-humanidade". (9)

Há talvez um estado intermediário no qual atuamos como homens, em que mantemos as nossas relações e em que cumprimos as nossas obrigações justas, cumprindo assim o nosso destino temporário. Põe-se aqui a questão de saber se de uma maneira geral, este estado é ainda possível, quando recordamos que há presentemente milhões de analfabetos no nosso planeta.

Mas, juntamente com esta tendência para uma humanidade pura e para o afastamento da padronização do ente humano, emerge um grupo de indivíduos aos quais chamamos místicos, que dão testemunho de experiência e de contatos pertencentes a outro mundo. E dão garantias de uma realização pessoal, de manifestação e satisfações fenomênicas que o homem comum desconhece.

Assim como o Dr. Bennett diz: "Os místicos descreveram as suas realizações como sendo uma entrada na significação do universo, uma visão da maneira como as coisas estão ligadas umas às outras. Eles encontraram a chave." (10)

Através das épocas, eles surgiram e declararam em uníssono que há outro reino na natureza, com suas leis, fenômenos e relações íntimas específicas. É o reino do espírito. Nós o encontramos e vós podeis também comprovar a sua natureza. Estas testemunhas constituem dois grupos: o dos buscadores puramente místicos e emotivos, que ao contemplar a visão caem num êxtase iluminado ante a beleza de que se aperceberam; o outro, o dos conhecedores, que acrescentaram ao êxtase emocional uma realização intelectual (uma orientação da mente) que lhes permite fazer mais que perceber e desfrutar. Compreendem, conhecem e identificam-se com este novo plano da existência, que os místicos puros aspiram atingir. A linha de demarcação entre estes conhecedores das coisas divinas e os que percebem a visão é muito sutil.

Há, contudo, entre estes dois grupos, uma zona neutra, em que se efetua uma grande transição. Há um interlúdio entre a experiência e o desenvolvimento, no curso do qual o místico visionário torna-se um conhecedor prático. Há também um processo e uma técnica às quais o místico se submete a fim de que nele se coordene e desenvolva um novo aparelho sutil, por meio do qual já não percebe a visão da realidade divina, mas reconhece-se como sendo esta mesma realidade. A técnica da meditação concerne a este processo da transição e a esta tarefa de educação do místico. Disto tratamos neste livro.

O problema dos educadores e psicólogos é levar o homem a entrar na posse de sua herança como ser humano. Devem conduzi-lo até o pórtico do mundo místico. Por paradoxal que possa parecer esta missão cabe à religião e à ciência.

O Dr. Pupin diz-nos que "a ciência e a religião suplementam-se uma a outra; são os dois pilares do pórtico através do qual a alma humana penetra no mundo onde reside a divindade". (11)

Vamos dar à palavra "espiritual" uma acepção mais ampla. Não falo aqui das verdades religiosas; as formulações dos teólogos, dos clérigos de todas as religiões orientais e ocidentais, podem ser ou não verdadeiras. Empregamos a palavra "espiritual" como significando o mundo de luz e beleza, de ordem e de propósito, de que falam os livros sagrados, objeto das buscas atentas dos cientistas e no qual os pioneiros da família humana penetraram sempre e de onde regressaram para nos relatarem suas experiências. Consideremos espirituais todas as manifestações da vida, alargando assim o significado desta palavra, até incluir as energias e potências subjacentes em cada forma na natureza, e que dão a cada uma sua qualidade essencial e característica distintiva.

Desde há milhares de anos sobre todo o planeta, os místicos e os conhecedores têm dado testemunho de experiências dos mundos mais sutis, onde foram postos em contacto com forças e fenômenos que não pertencem ao mundo físico. Falam de encontros com legiões angélicas; fazem alusão à grande nuvem de testemunhos; comunicam-se com os Irmãos mais velhos da Raça, que trabalham noutras dimensões e que mostram poderes de que o homem corrente nada conhece: falam de uma luz e de uma glória; de um conhecimento direto da verdade e de um mundo de fenômenos que é o mesmo entre os místicos de todas as raças. Admita-se que uma grande parte dos testemunhos possa ser posta de parte como alucinação: pode ser também que muitos dos santos de outrora tenha sido psicopatas e neuróticos; mas fica um resíduo de provas e um número suficiente de reputáveis testemunhos, para, substanciando este testemunho, forçar a nossa crença na sua veracidade. Estes testemunhos dos mundos invisíveis falaram com palavras poderosas e transmitiram mensagens que moldaram o pensamento dos homens e dirigiram as vidas de milhões. Clamaram que havia uma ciência do conhecimento espiritual e uma técnica pela qual os homens poderiam alcançar a experiência mística e conhecer Deus.

É esta ciência que estudamos neste livro, esta técnica que procuramos expor. Diz respeito ao emprego correto da mente, pelo qual o mundo das almas se revela e se abre a porta secreta que conduz das trevas para a luz, da morte para a imortalidade e do irreal para o Real.

A solução última do nosso problema mundial está em alcançarmos este conhecimento - conhecimento que não é propriedade nem do Oriente nem do Ocidente, mas que pertence a ambos. Quando tivermos juntado as mãos com o Oriente, e quando tivermos unido os melhores pensamentos do Ocidente com os do Oriente, teremos um ensinamento sintético e equilibrado que libertará as gerações futuras. Deve começar no campo educacional e na juventude.

No Ocidente, a consciência foi enfocada sobre o aspecto prático da existência e todo o nosso poder mental concentrou-se no controle e utilização das coisas materiais, no aperfeiçoamento do conforto físico e na acumulação de bens. No Oriente, onde as realidades espirituais foram mais uniformemente mantidas, o poder mental foi empregado na concentração e na meditação e em profundos estudos filosóficos e metafísicos, mas as massas populares, incapazes destas atividades, foram deixadas em condições particularmente terríveis, do ponto de vista da existência física. Pela fusão das realizações das duas civilizações (fusão que prossegue agora com uma rapidez crescente) nos aproximamos de um equilíbrio por meio do qual a humanidade, no seu conjunto, poderá demonstrar a plenitude da sua potencialidade. O Oriente e o Ocidente estão aprendendo a tirar vantagens mútuas recíprocas e o trabalho neste campo é uma das tônicas fundamentais do ciclo presente.

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1. Carpenter, Edward, The Art of Creation, p. 7,
2. Overstreet H.A., The Enduring Quest, p.271
3. Wilhelm, Richard, e Jung, Dr. C.G., The Secret of the Golden Flower, p. 136.
4. Hocking Wm. B. , Self, Its Body and Freedom, p. 75.
5. Wilhelm, Richard, and Jung, Dr. C.G. The Secret of the Golden Power, p.78.
6. Dibblee Georg Binney, Instinct and Intuition, p.85.
7. Bennet Ch. A. , A Phi/osophica/ study ofMysticism, PP.23, 1 17, 130.
8. Jacks L.P., Religious Perplex ities, p.46
9. Babbitt Irving, Humanism: An Essay and Definition.
10. Bennett, Charles A., A Philosophical Study of Mysticism, p.81.
11. Pupin, Michael, The New Reformation, p.217.

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