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O SEXO


O Sexo e o Discipulado

1) - Quero falar um pouco sobre o assunto do sexo na vida do discípulo. Há muita confusão sobre este assunto na mente dos aspirantes, e a injunção quanto ao celibato está assumindo a posição de doutrina religiosa. É-nos frequentemente dito, por pessoas bem intencionadas mas ilógicas, que se um homem é um discípulo, ele não pode casar-se, e que não existe real conquista espiritual a menos que o homem seja um celibatário. São duas as raízes desta teoria:

Primeiro, sempre houve, no Oriente, urna atitude errônea a respeito das mulheres. Segundo, no Ocidente, desde os tempos de Cristo, existe uma tendência a conceber a vida espiritual ligada a monastérios e conventos. Estas duas atitudes dão corpo a duas ideias errôneas, e estão na raiz de muitos mal-entendidos e no âmago de muitos malefícios. O homem não é melhor do que a mulher, nem esta melhor do que ele. Todavia, muitos milhares de homens veem a mulher como a personificação do mal e a base da tentação. Porém, desde o começo Deus ordenou que homens e mulheres atendessem às necessidades um do outro e se complementassem. Deus não ordenou que os homens se agrupassem e se mantivessem distantes das mulheres, ou as mulheres afastadas dos homens; estes dois sistemas levaram a muitos abusos sexuais e a muito sofrimento.

A crença de que um discípulo necessite de vida celibatária e total abstinência de todas as funções naturais é não só incorreta como indesejável. Isto pode ser provado reconhecendo-se duas coisas:

A primeira é que, se a divindade é de fato uma realidade e expressão da onipotência e da onipresença, assim como da onisciência, e se o homem é essencialmente divino, então não haverá condição alguma possível onde a divindade não seja suprema. Não pode haver esfera da atividade humana onde o homem não possa agir divinamente e onde todas as funções não possam ser iluminadas pela luz da razão pura e divina inteligência. Não lido aqui com o ilusório e tortuoso argumento de que as coisas que normalmente são consideradas erradas pelas pessoas íntegras devem estar certas, devido à inerente divindade do homem. Isto é apenas uma frouxa desculpa para se agir mal. Falo de relações sexuais corretas, permissíveis pela lei espiritual assim como pelas leis terrenas.

Segundo, uma vida que não circula até que todas as funções de sua natureza – animal, humana e divina – (e o homem reúne as três em um corpo) sejam exercidas, torna-se frustrada, inibida e anormal. Que nem todos podem casar-se atualmente, é verdade, porém esse fato não invalida o fato maior de que Deus criou o homem para casar-se. Que nem todos estejam hoje em condições de levar uma vida normal e completa é igualmente consequência das anormais condições econômicas reinantes; mas isto, de forma alguma, invalida o fato de que a condição seja anormal. Mas que o celibato forçado seja indício de profunda espiritualidade e necessário a todo treinamento esotérico e espiritual é igualmente falso, anormal e indesejável. Não há melhor escola de treinamento para um discípulo e um iniciado do que a vida familiar, com os relacionamentos impostos, o alcance para ajustamentos e adaptabilidade, os sacrifícios e serviço exigidos, e as oportunidades para a plena expressão de cada parte da natureza humana. Não há maior serviço a ser prestado à humanidade do que oferecer corpos às almas encarnantes, e dar atenção e facilidades educacionais a essas almas, dentro do lar. Porém, toda a problemática da vida familiar e nascimento de filhos foi distorcida e erroneamente entendida; e está longe o tempo em que casamento e filhos assumirão seu devido lugar como sacramentos, e mais distante ainda, o tempo em que a dor e o sofrimento resultantes de nossos erros e impróprias relações sexuais, terão desaparecido, e a beleza e consagração do casamento e da manifestação das almas na forma terão superado o atual e errado agrupamento de ideias.

Portanto, o discípulo e o aspirante no Caminho, e o iniciado no seu "Caminho Iluminado", não encontram melhor terreno para seu treinamento do que o relacionamento conjugal, corretamente usado e corretamente compreendido. Trazer a natureza animal à disciplina rítmica, elevar a natureza emocional e instintiva ao altar do sacrifício, e a autoabnegação exigida pela vida da família, são potências de tremenda purificação e desenvolvimento. O celibato que se pede é aquele da natureza superior às solicitações da natureza inferior, e a recusa do homem espiritual a ser dominado pela personalidade e apelos da carne. O celibato imposto ao equipamento de muitos discípulos levou a muita prostituição e muitas perversões de funções e faculdades dadas por Deus; e mesmo que não se encontre esta infeliz condição, mesmo quando a vida tenha sido saudável e consagrada, encontramos, frequentemente, sofrimento inútil e angustiosa disciplina mental até que rebeldes pensamentos e tendências sejam controlados.

É obviamente verdade que, às vezes, um homem pode ser atraído para uma determinada vida em que se defronte com o problema do celibato, e seja forçado a abster-se de qualquer relação física, e viver uma vida estritamente celibatária, para demonstrar a si mesmo que pode controlar o lado animal e instintivo de sua natureza. Mas essa condição é, frequentemente, resultado de excessos e licenciosidade numa vida anterior que necessita medidas severas e condições anormais para compensar e retificar erros passados e dar tempo à natureza animal para que esta se reajuste. Mas, de novo, isto não é indício de desenvolvimento espiritual, antes pelo contrário. Não esquecer que estou tratando aqui de um caso especial de celibato autoimposto, e não da presente condição mundial, quando devido à situação econômica e outras razões, homens e mulheres são forçados a viver uma vida sem plena e natural expressão. O problema do sexo, em última análise, tem que ser resolvido no lar e sob condições normais e a solução está nas mãos das pessoas evoluídas no mundo e dos discípulos de todos os graus. (Psicologia Esotérica I, pág. 304-307)

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