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Livros de Alice Bailey

Psicologia Esotéria - Volume II
Volume I
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Capítulo III - A Humanidade Atual - Parte 1

A Humanidade Atual - Parte 1


A Humanidade Atual - Parte 1 (*)

1. A Situação Mundial (*)

Trazer a Nova Era à manifestação na terra e a consequente emergência do quinto reino das almas, é uma tarefa que exige os esforços unidos de todos aqueles que se estão dedicando a atingir esse objetivo. Requer também o esforço cooperativo da parte mais adiantada da humanidade que é sensível a estas novas influências, que é capaz de compreender a natureza e o profundo alcance potencial destes importantes acontecimentos e que está, por conseguinte, preparada para compartilhar, no máximo da sua capacidade, da resposta à necessidade deste momento crucial e do serviço que os Grandes Seres estão procurando prestar. Este esforço cooperador da parte mais receptiva da humanidade é, na realidade, o que a Hierarquia procura promover entre os filhos dos homens.
A pressão sobre a Hierarquia e sobre todos aqueles que estão vinculados a ela no Caminho do Discipulado e no Caminho da Iniciação, é hoje muito grande. Tem sido necessária uma colaboração constante e uma extrema atividade, porque Aqueles Que guiam a evolução humana têm estado profundamente preocupados em manter o equilíbrio necessário no mundo de hoje. Se possível, não deve haver uma culminação rápida da situação, quer seja numa conflagração geral ou (como alternativa bastante possível) numa intranquilidade efervescente de tão vastas dimensões e de caráter tão persistente que os povos do mundo seriam, no primeiro caso, devastados pela guerra, com o seu corolário de fome e pestes, e no outro, esgotados pelo sofrimento engendrado pelo desequilíbrio econômico, miséria e exploração das massas pelos fanáticos, os buscadores de popularidade e os idealistas bem intencionados, mas não práticos.

(*) Este capítulo foi escrito antes da declaração da guerra em 1939.

Os perigos - para a raça e para seu desenvolvimento - de uma guerra ou guerras desastrosas, ou da infeliz condição de um período de não- desenvolvimento, marcado simplesmente por décadas de impasse e bancarrota econômica, são igualmente tão grandes quanto indesejáveis. Contrabalançar estas possibilidades e ao mesmo tempo produzir durante os próximos dez anos o máximo da mudança desejada, tem sido o objetivo da Hierarquia planetária (esse grupo oculto de Trabalhadores que os cristãos designam por Cristo e os Seus Discípulos), e constitui o ponto focal da sua luta. Emprego premeditadamente o termo "luta". A Hierarquia está lutando denodadamente contra as denominadas "forças do mal", e o Novo Grupo de Servidores do Mundo é o instrumento, atualmente, no plano físico, com que a Hierarquia tem de trabalhar. Ela não tem outro instrumento.

Que queremos dizer com a expressão "forças do mal"? Não significa exércitos de iniquidade e pecado, organizados por essa ficção da imaginação, o diabo, ou qualquer supremo anti-Cristo, pois não existe tal exército e não há nenhum grande inimigo de Deus, em batalha contra o Supremo. Existe apenas uma humanidade sofredora, que erra, ainda semidesperta, apercebendo-se vagamente da visão e lutando para se libertar da escravidão do passado, com suas denegridas alianças e duvidosas lealdades. As forças do mal são, em última análise, apenas antigos ideais e arraigados hábitos de pensamento que serviram ao propósito de trazer a raça ao atual ponto de desenvolvimento, mas que devem desaparecer agora para que a Nova Era possa ser introduzida como se deseja. Os ritmos antigos estabelecidos, inerentes às velhas formas de religião, política e ordem social, devem dar lugar a novos ideais, à compreensão sintética e à nova ordem. As leis e os modos de proceder que são características da Nova Era, devem substituir as velhas, e estas no devido tempo instituirão a nova ordem social e um regime mais inclusivo.

Hoje o mundo está cheio de experimentos, particularmente no domínio governamental, que são tentativas, por toda a parte, do homem em aplicar novos e vagamente percebidos ideais. Estes têm de ser aplicados às nossas condições de vida moderna e finalmente superá-las. Não há forma de experimento nacional que não seja baseada em algum desses ideais e que não seja essencialmente o esforço de parte de alguma escola de idealistas para melhorar as condições do inundo, ou para levar alívio a algum grupo de seres humanos. Eis um axioma que deve ser aceito desde o começo, dentre aqueles em que se apoia o Novo Grupo de Servidores do Mundo. Ele nega, por conseguinte, todos os antagonismos políticos. Durante o processo de materialização do ideal, no esforço para obter o seu reconhecimento e produzir assim conformidade com o propósito vida da ideia, os métodos empregados e os ódios suscitados, as crueldades cometidas em seu nome, a aceitação imposta pela força e os crimes perpetrados em nome dos novos objetivos, produziram uma condição de tal natureza incendiária que Aqueles que estão por trás dos bastidores dos assuntos mundiais e do desenvolvimento da humanidade, experimentam muitas dificuldades em manter as coisas tão calmas como estão.

Que se passa neste momento no mundo? - pois as linhas de clivagem evidenciam-se já cada dia mais claramente e a situação pode ser compreendida com maior nitidez. Os que não têm visão, numa atitude míope sobre os atuais acontecimentos, julgam que o que se passa no mundo piora e agrava-se progressivamente. Não veem nenhuma luz nas trevas e falam precipitadamente que a nossa civilização está condenada. Outros veem na situação a sua oportunidade para alcançar proeminência, para se destacarem em algum setor da atividade do mundo. Exploram assim as massas e torcem a situação para atingir os seus próprios fins, algumas vezes com as melhores intenções; outros porque a vida, o destino ou carma (podemos utilizar a palavra que gostarmos mais) projeta-os para essas posições. São predestinados. Encontram-se à testa de algum cargo elevado, e são os agentes que controlam um partido, um grupo ou uma situação política, religiosa ou econômica. Contudo, durante todo o tempo, são apenas peões nas mãos Daqueles que trabalham para alcançar um objetivo maior.

Podemos considerar o conjunto deste assunto sob dois ângulos, e isto será bastante útil, recordando sempre que objetivo da nova ordem social, das novas linhas políticas e da nova religião consiste em promover o desenvolvimento da consciência humana, instituir e atrair a atenção dos homens para mais altos valores, e pôr um fim ao reino do materialismo. Esta é a meta de todos os verdadeiros conhecedores e dos homens espiritualmente orientados em todas as épocas: instituir o Reino de Deus, o controle da alma, cuja natureza é amor, e levar a cabo o trabalho iniciado por Cristo - a era de paz na terra e de boa vontade entre os homens. Isto é indicado claramente na ênfase dada à paz mundial, tanto proclamada pelos grandes chefes políticos como pelas igrejas por toda parte.

Os povos do mundo estão divididos atualmente em quatro grupos, segundo o ponto de vista Daqueles Que procuram guiar a humanidade para a Nova Era. Esta é certamente uma ampla generalização e há muitos grupos intermediários entre as quatro grandes divisões.

Primeiramente, as massas ignorantes: Estas, devido à pobreza, desemprego, analfabetismo, fome, desespero e falta de lazer ou meios para alcançar vantagens culturais, encontram-se numa condição inflamável. Estão desenvolvidas apenas o bastante para responder ao controle e sugestão mental de pessoas ligeiramente mais avançadas. Podem ser facilmente arregimentadas, influenciadas, padronizadas e impulsionadas a uma atividade coletiva pelos líderes de qualquer escola de pensamento, suficientemente inteligentes e suficientemente emocionais para apelar para os desejos materiais, o amor ao país e ódio àqueles que possuem mais do que eles. Podem ser controlados pelo temor, e por conseguinte, impulsionadas à ação por um apelo emocional.

Com tão poucos conhecimentos e tanto sofrimento, são facilmente levadas pelo furor do ódio e do fanatismo e constituem assim uma das maiores e mais inocentes ameaças dos tempos presentes. São joguetes nas mãos dos que estão melhor informados e ficam desamparados nas mãos daqueles que procuram utilizá-las para quaisquer propósitos que sejam. São mais facilmente alcançadas pelos apelos emocionais e pelas promessas, visto que as ideias não fazem senão pequeno impacto nas suas consciências porque não estão ainda suficientemente desenvolvidas para pensarem por si mesmas. A maioria é constituída por almas jovens, se bem que hajam exceções, naturalmente. Não é o idealismo dos líderes e demagogos o que os impressiona e os estimula à ação (geralmente de natureza violenta), mas o desejo de retaliação, a ânsia de posse no sentido material e a determinação de serem o que se chama vulgarmente "o manda-chuva". Encarnam a psicologia, o regime e a violência das turbas. Estão indefesos, explorados e - porque representam massas de seres humanos que não pensam nem raciocinam - representam um problema muito real, como todos nós sabemos, e todos os governos o compreendem. A violência cega, irrefletida, foi até agora enfrentada pela força armada. Isto é o que se passa hoje. As massas lutam e morrem incitadas por discursos inflamados e poucas vezes sabem do que se trata. As suas condições precisam ser melhoradas, mas não pela exploração ou derramamento de sangue.

Segundo, a chamada classe média, com os seus níveis superior e inferior. Ocupam a parte mais numerosa de cada país, a burguesia inteligente, diligente, inquiridora, de mente estreita e essencialmente religiosa, se bem que frequentemente repudiem as formas de religião. São torturados e devastados pelo conflito econômico e constituem, sem exceção, o elemento mais poderoso de qualquer nação, pela sua capacidade para ler, discutir, pensar, gastar dinheiro e tomar partido. Formam a maioria dos que tomam partido no mundo, os lutadores por uma causa, e reúnem-se em grandes grupos, a favor ou contra um partido. Agrada-lhes reconhecer e escolher um líder e estão prontos a morrer por uma causa e a fazer os maiores sacrifícios pelos seus ideais, baseados nas ideias apresentadas pelos líderes que escolheram.

Não estou diferenciando a chamada aristocracia num grupo à parte, porque isso é inteiramente uma distinção de classe, baseada em grande parte na linhagem familiar e no capital e os ajustamentos modernos nas nações os estão conduzindo rapidamente à fusão numa larga classe média. Tratamos de questões fundamentais, de agrupamentos que estão fundamentados em atitudes primordiais e não de divisões que emergem quando se consideram os recursos materiais. A mentalidade burguesa está permeando hoje, lenta e continuamente as massas, o proletariado, e também os meios conhecidos presentemente como classe alta. Esta mentalidade é encontrada, como estado de consciência, na aristocracia de qualquer nação, e está absorvendo os seus membros no curso do atual grande processo nivelador. Por causa deste nivelamento em andamento hoje por toda a parte, pode agora emergir a aristocracia espiritual - uma aristocracia baseada na conscientização da origem e meta divinas, que não reconhece distinção de classes, nem barreiras religiosas, nem diferenças separatistas. Tratamos, portanto, com divisões humanas e não com distinções de classe.

Este segundo grupo constitui o campo mais fértil de onde se extraem os novos líderes e organizadores. Constituem um grupo intermediário entre os pensadores do mundo - os intelectuais - e as massas. Em última análise, são o fator determinante nos assuntos mundiais. As massas sofrem devido às condições do mundo e situações criadas pela atividade deste segundo grupo, à medida que reage, de um modo ou outro, às novas influências, aos novos ideais e aos novos fatores controladores do mundo moderno. Este grande segundo grupo sofre, por sua vez, nas mãos daqueles que procuram impor os novos ritmos aos povos, - os grupos políticos, os idealistas religiosos e fanáticos, e os protagonistas da nova ordem social e dos regimes econômicos (conforme são interpretados correta ou erroneamente pelos seus líderes).

Pela sua inteligência, devido às crescentes facilidades educacionais, à sua possibilidade de leitura, ao impacto dos novos métodos de propaganda, a imprensa e o rádio, formam o grupo mais poderoso de cada nação, e é a eles que os líderes dirigem os seus apelos e é o seu apoio e suporte partidário o que se lhes pede e que significa sucesso para qualquer líder. São eles os que têm votos controladores dos assuntos nacionais. Encontram- se, hoje, dominados pela incerteza, a dúvida, medos profundamente arraigados, e pelo desejo de que se faça justiça e se estabeleça a nova ordem. Acima de tudo desejam a paz, condições econômicas estáveis e ordem no mundo. Por tudo isto estão dispostos a lutar e lutam hoje, em cada partido, em cada grupo, por toda espécie de ideias políticas, nacionalistas, religiosas, econômicas e sociais. Se não lutam literalmente no sentido físico, fazem-no pelas palavras, discursos e livros.

Terceiro, os pensadores do mundo, são os homens e mulheres inteligentes e cultos que captam as ideias e formulam-nas em ideais. Estas pessoas usam a palavra, escrevem artigos e livros, e utilizam todos os métodos conhecidos para chegar ao público e educá-lo, e assim estimular a burguesia a agir e, através dela, levantar as massas. A sua função e o papel que desempenham são de suprema importância. Das suas fileiras saem aqueles que influenciam constantemente o curso dos negócios do mundo, às vezes para o bem, outras vezes para fins egoístas. Manejam a mente humana como um músico maneja o seu instrumento, e o poder da imprensa, do rádio e das tribunas públicas está nas suas mãos. A sua responsabilidade é enorme. Alguns poucos, talvez mais do que possa parecer, trabalham desinteressadamente debaixo da inspiração da nova era. Dedicam-se a melhorar as condições humanas e à melhoria dos problemas mundiais, segundo certas diretrizes que lhes parecem (com ou sem razão) conter a esperança do futuro e a elevação da humanidade. Encontram-se em cada governo, partido, organização, sociedade e em cada Igreja ou grupo religioso. Constituem hoje a unidade mais influente porque é através dela que a vasta classe média é alcançada, influenciada e organizada para fins políticos, religiosos e sociais. As suas ideias e pronunciamentos infiltram-se através das classes alta e média, chegando finalmente aos ouvidos dos indivíduos mais adiantados das massas não evoluídas.

Quarto, o Novo Grupo de Servidores do Mundo. Neste quarto grupo as pessoas começam a formar uma nova ordem social no mundo. Não pertencem a nenhum partido ou governo, no sentido partidário. Reconhecem todos os partidos, todos os credos e todas as organizações sociais e econômicas e reconhecem todos os governos. Encontram-se em todas as nações e organizações religiosas e ocupam-se na formulação da nova ordem social. Do ângulo estritamente físico, não lutam seja pelo que de melhor exista na ordem velha, seja pela melhoria das condições do mundo. Consideram que os velhos métodos de luta, partidarismo e agressão, e as antigas técnicas de lutas partidárias fracassaram totalmente, e que os meios empregados até agora em toda a parte e por todos os partidos e grupos (lutas, partidarismo violento por um chefe ou uma causa, ataques a indivíduos cujas ideias ou modos de vida se julgam perniciosos para a humanidade) estão ultrapassados, considerados inúteis e inadequados para alcançar a desejada condição de paz, plenitude econômica e compreensão. Encontram-se ocupados na tarefa de inaugurar a nova ordem mundial, pela formação em todo o mundo - em cada nação, cidade e vila - de um agrupamento de pessoas que não pertençam a nenhum partido, não tome posição a favor ou contra, mas que tenham uma plataforma tão clara e definida e um programa tão prático como o de qualquer partido no mundo de hoje.

Baseiam-se na divindade essencial do homem; o seu programa fundamenta-se na boa vontade, porque é uma característica humana básica. Por conseguinte, estão organizando os homens de boa vontade em todo o mundo, traçando-lhes um programa definido e criando uma plataforma onde se possam encontrar todas as pessoas de boa vontade.

Creem e declaram que o seu apelo inicial foi de tal natureza que, dada a assistência das mentes treinadas pertencentes ao terceiro grupo já descrito, e se lhes for dada assistência financeira para realizarem o trabalho educativo requerido e a propaganda relativa à boa vontade, podem então mudar o mundo (unicamente pela ação dos homens de boa vontade) que - sem guerra, sem despertar o ódio entre os homens e sem atacar ou apoiar qualquer causa - pode a nova ordem ser estabelecida firmemente na terra. O seu programa e a sua técnica estão detalhados mais adiante.

Por trás deste quádruplo panorama da humanidade encontram-se Aqueles Cujo privilégio e direito consiste em vigiar a evolução humana e guiar os destinos dos homens. Isto é levado avante não por meio de um controle imposto que infrinja o livre arbítrio do espírito humano, mas através da implantação de ideias nas mentes dos pensadores do mundo, e da evocação da consciência humana, de modo que essas ideias recebam o devido reconhecimento e se convertam, com o tempo, nos fatores controladores da vida humana. Treinam os membros do Novo Grupo de Servidores do Mundo na tarefa de transformar ideias em ideais. Estes tornam-se, por sua vez, os objetivos desejados pelos pensadores e são por eles ensinados à numerosa classe média, e assim concretizados nas formas mundiais de governo e religião, formando as bases da nova ordem social, à qual as massas vão sendo pacientemente incorporadas.

É preciso lembrar aqui que os homens e mulheres de boa vontade pertencem a todos os grupos mencionados anteriormente e que é nisto que repousa a sua força e utilidade para o Novo Grupo de Servidores do Mundo.

A força do Novo Grupo de Servidores do Mundo apoia-se em três fatores:

1- Ocupam uma posição intermediária entre as massas e o governo subjetivo interno do mundo.

2- Recrutam os seus membros (se se pode empregar palavra tão inadequada) entre todas as classes - a aristocrática, a intelectual, a alta e baixa burguesia e os níveis superiores do proletariado. São, portanto, verdadeiramente representativos.

3 . Estão estreitamente inter-relacionados e em constante contato entre si, através da unidade de objetivos, precisão de métodos, uniformidade de técnicas e boa vontade.

Vejamos por um momento o panorama mundial tal como começa a ser reconhecido presentemente pelo observador inteligente dos assuntos mundiais. Nada do que é dito aqui deve ser considerado como crítica, porque isso seria infringir uma das regras básicas do Novo Grupo, o que seria inconcebível. Por conseguinte, não mencionamos grupos, nações ou partidos especificadamente; nem faremos referência a qualquer personalidade em particular. Só nos interessa um assunto: a introdução da nova ordem mundial. Para fazê-lo devemos reconhecer a situação tal como se apresenta. Ocupamo-nos da formação deste novo partido que reunirá nas suas fileiras todos os homens de paz e boa vontade, sem interferir nas suas fidelidades e esforços específicos, embora provavelmente modifiquemos seus métodos consideravelmente, quando baseados na velha ordem. Este novo partido pode ser visto como que personificando o emergente Reino de Deus na terra, mas é preciso recordar que este reino não é um reino cristão, nem um governo terrestre. E um agrupamento de todos aqueles que - pertencendo a cada uma das religiões do mundo e a cada nação e tipo de partido político - estão livres do ódio e separatividade e procuram ver estabelecidas na terra corretas condições por meio de mútua boa vontade.

A fermentação no mundo hoje penetrou nas mais profundas camadas da humanidade. Todos os campos do pensamento estão envolvidos em divisões e confusão. No passado, repetidas vezes, as nações estiveram mergulhadas em guerras de agressão. Estas guerras são cada vez menos frequentes e os nossos conflitos são hoje baseados primordialmente nas necessidades econômicas. Existem várias razões objetivas e evidentes para isto. A super população, as barreiras comerciais, o desequilíbrio entre a oferta e a procura, além das ambições e experimentos bem intencionados de indivíduos em todos os setores do pensamento e da vida humana, são responsáveis pelas convulsões sociais.

Não é necessário dizer mais, porque de modo geral conhecem-se as causas, e estamos expondo uma solução de natureza prática. Mas a verdadeira razão está profundamente enraizada e não é fácil reconhecê-la, ainda que os pensadores do mundo comecem a ocupar-se dela e a perceber claramente o seu perfil. Esta razão é o conflito entre certos grandes ideais, todos baseados em ideias espirituais, mas todos prostituídos igualmente para fins que conduzem à separatividade, ao ódio, às lutas partidárias, à guerra civil, à angustiosa situação econômica, ao terror de uma conflagração geral e ao medo generalizado. Estamos rodeados de temores, incertezas, miséria opressiva, desconfiança, a que se junta o colapso geral dos baluartes religiosos e governamentais que até agora pareciam oferecer um refugio.

Os líderes - tanto políticos como religiosos - esforçam-se em toda a parte por resolver estes problemas, movidos muitas vezes por verdadeiro amor à humanidade, outras vezes dominados pela ambição ou galvanizados em atividades violentas por qualquer ideal de melhoria humana, racial ou nacional. A sinceridade e a falsidade, o ódio e o amor, o serviço e a exploração, divisões e unificações encontram-se por toda a parte. Palavras de ordem encontram-se por todos os lados - unidade religiosa, estandardização da raça humana, liberdade humana, o problema dos partidos da direita e da esquerda, comunismo, fascismo, nazismo, "New Deal", liberalismo, conservadorismo, vida criativa, problemas de população, esterilização, utopias, direitos do povo, ditaduras, táticas de rearmamento defensivo, educação pública, diplomacia secreta, isolacionismo - tais são alguns dos termos que estão hoje nos lábios de tanta gente, e que indicam estar a humanidade alerta para os problemas e as dificuldades que enfrenta e para o impasse a que parece ter chegado. Por toda a parte apresentam-se pessoas com alguma solução, reunindo um partido para a sua aplicação e lutando pelo seu ideal.

Todos os dias vê-se o dinheiro correr como água para se contrapor à propaganda de algum líder ou em apoio às ideias de outro. Conduzem-se campanhas pelo mundo inteiro para levantar os fundos necessários para derrubar algum ideal velho e entrincheirado, ou para substituir por alguma ideia nova. Homens e mulheres em ambos os hemisférios são impulsionados hoje pelo desejo de mudar a velha ordem e de trazer a nova era de bem estar econômico e de vida pacífica, e dedicam as sua vidas à defesa de algum princípio que lhes parece de importância capital, ou a derrubar outro princípio defendido pelos seus irmãos. O ataque a personalidades, a difamação do caráter, a imputação de motivos e a estimulação ao ódio, são uma parte reconhecida da técnica daqueles que - com intenção - procuram salvar o mundo, levar ordem ao caos, e defender o direito tal como o veem. O amor pela humanidade e do desejo de ajudar estão, sem dúvida nenhuma, presentes. Contudo, o caos aumenta; os ódios crescem; o estado de guerra propaga-se, e os esforços realizados no passado parecem incapazes de deter a onda que parece arrastar a humanidade para a beira do desastre.

Este fator de futilidade, e a fadiga resultante da longa luta, são hoje reconhecidos pelos líderes em toda a parte. Pede-se novo caminho, há desejo de conhecer o que está fundamentalmente errado e em descobrir porque é que o estrênuo autossacrifício e os esforços divinamente motivados de muitas centenas de homens e mulheres não puderam deter a guerra, solucionar o problema econômico e libertar a humanidade.

Pode-se dizer que este fracasso é devido essencialmente a duas coisas:

1- O esforço foi despendido para tratar os efeitos, porém as causas subjacentes, ainda que conhecidas por alguns, não foram tocadas. Foi feita a tentativa para corrigir erros, para desmascarar o mal e as personalidades malignas, e atacar organizações, grupos, partidos, religiões e experimentos governamentais. Isto levou ao que aparece como uma perda inútil de tempo, de força, energia e dinheiro.

2- Não se fez nenhum esforço para encontrar e fundir, num todo organizado, os homens de boa vontade espalhados pelo mundo, homens de intenção amorosa e pacífica, inteligentemente generosos e compassivos, a fim de que pudessem juntos cooperar. Estes constituem um (incrivelmente grande número de pessoas que odeiam a guerra, porque consideram irmãos todos os homens, mas que não vêem a forma de pôr fim à mesma porque todas as organizações que trabalham para esse objetivo parecem, em última análise, impotentes. Afligem-se pela desgraça econômica, mas não sabem que fazer porque todos os grupos que tratam do problema ocupam-se em culpar os outros e em procurar bodes expiatórios; estão conscientes do fracasso dos muitos esforços feitos para o bem.

O espírito de boa vontade está presente em milhões de seres e isso evoca um sentido de responsabilidade. Esta é a primeira indicação na raça de que o homem é divino. É com esta boa vontade constantemente crescente que o Novo Grupo de Servidores do Mundo conta e que é sua intenção utilizar. Encontra-se nos membros de cada grupo que se dedica à melhoria do mundo e constitui um poder não utilizado que jamais foi organizado num todo porque, até agora, as pessoas de boa vontade deram o seu esforço e lealdade às organizações. E intenção do Novo Grupo de Servidores do Mundo não interferir nessa lealdade, nem fazer parar qualquer atividade, mas reunir num todo organizado todas essas pessoas, sem criar uma nova organização ou sem desviar qualquer um deles do trabalho já empreendido.

O Novo Grupo de Servidores do Mundo é já um grupo ativo, em funcionamento. Cada homem e mulher em todos os países dos dois hemisférios que trabalha para eliminar as brechas existentes entre as pessoas, para evocar o sentido de fraternidade, para estimular o sentido de mútua inter-relação e que não reconhece barreiras raciais, nacionais ou religiosas, é um membro do Novo Grupo de Servidores do Mundo, mesmo que nunca tenha ouvido falar dele.

Os membros do Novo Grupo de Servidores do Mundo não pertencem a qualquer partido ou religião e, contudo, pertencem a todos os partidos e religiões; não assumem atitudes ou posições a favor ou contra qualquer governo, religião ou ordem social. Não se engajam em nenhuma espécie de atividade política, nem atacam a ordem existente. Não estão a favor ou contra qualquer governo ou Igreja; não gastam dinheiro, não organizam campanhas, não enviam material de propaganda que possa ser interpretado como ofensivo ou defensivo de qualquer organização de natureza política, religiosa, social ou econômica. Não falam nem escrevem coisa alguma que possa alimentar as chamas do ódio ou que tenda a separar um homem de outro, uma nação de outra. Contudo, estes membros encontram-se em cada partido político e em cada religião do mundo. Representam uma atitude mental.

Os membros do Novo Grupo de Servidores do Mundo não são, no entanto, um grupo de místicos sem sentido prático. Sabem perfeitamente o que procuram fazer, e os seus planos estão traçados de modo tal que - sem prejudicar situação alguma existente - estão descobrindo e reunindo os homens de boa vontade em todo o mundo. Sua única exigência é que os homens de boa vontade se mantenham juntos em completa compreensão e constituam, assim, um corpo lentamente crescente, cujo interesse é demonstrado em favor da humanidade e não no do seu próprio ambiente imediato. O seu interesse pelo bem geral não impedirá no entanto que sejam bons cidadãos do país onde o destino os colocou. Conformar-se-ão e aceitarão a situação em que se encontram, mas (nessa situação e sob esse governo ou ordem religiosa) trabalharão para a boa vontade, para a destruição das barreiras e para a paz mundial. Evitarão qualquer ataque a regimes e personalidades existentes; obedecerão às leis do país em que têm que viver, não cultivarão o espírito de ódio, mas sim, aproveitarão toda a oportunidade para realçar a fraternidade das nações, a unidade da fé e a nossa interdependência econômica. Esforçar-se-ão por não dizer ou fazer coisa alguma que possa separar ou provocar antagonismos.

Estas são vastas generalizações que regem a conduta dos homens de boa vontade que procuram cooperar com o trabalho que está sendo feito pelo Novo Grupo de Servidores do Mundo. À medida que aprendem a cooperar eficazmente e alcançam constância em corretas atitudes para com os seus semelhantes, são gradualmente absorvidos pelas fileiras do Novo Grupo, não mediante um processo formal de filiação dado que este não existe, (pois não há uma organização formal) mas através do desenvolvimento das qualidades e características necessárias. É bom repetir que o Novo Grupo de Servidores do Mundo não é uma organização. Não tem sede, mas apenas unidades de serviço espalhados pelo mundo; não tem presidente nem listas de funcionários; tem somente servidores em todos os países, que estão simplesmente ocupados na tarefa de descobrir os homens de boa vontade. Esta é a tarefa imediata.

Estes homens de boa vontade devem ser descobertos e treinados na doutrina da não-separatividade, e educados nos princípios da cooperação e características da nova ordem social, o que é essencialmente um realinhamento subjetivo, do qual resultam pronunciadas mudanças originadas pelo peso da opinião pública, baseadas na boa vontade que não conhece barreiras nacionais, raciais ou diferenças religiosas. Ano após ano deverá desenvolver-se ampla atividade e disseminação dos ensinamentos sobre a boa vontade universal, de modo que esta deixe de ser um belo sentimento e se torne a aplicação prática da boa vontade pela atuação nos assuntos da vida diária, em todos os países do mundo.

Em termos do ensino Cristão, os cidadãos do reino que Cristo veio fundar, devem ser descobertos e serão reconhecidos pelo seu espírito de síntese, o seu ponto de vista inclusivo e a ênfase posta na unidade mundial que é baseada na síntese internacional (o verdadeiro reconhecimento das nossas relações humanas), a nossa unidade religiosa como filhos do mesmo Pai, e a bem conhecida interdependência econômica, embora largamente ignorada. A educação dos homens e mulheres de boa vontade estará relacionada com a expressão de uma compreensão prática e amorosa. O Novo Grupo de Servidores do Mundo saberá quem são esses cidadãos do reino e onde encontrá-los.

A próxima tarefa à qual o Novo Grupo de Servidores do Mundo consagrará os seus esforços será eliminar o medo no mundo. Isto pode fazer-se e o será quando os homens e mulheres de boa vontade despertarem para o fato da abundância de boa vontade que existe em cada país. Há milhões desses homens de boa vontade no mundo; o seu número tem aumentado continuamente como resultado da agonia da guerra mundial; mas, julgando-se isolados e sós, sentem-se impotentes e inúteis. Sentiram-se separados, sem utilidade, e sem importância. Como indivíduos, são. Mas como parte de um grande movimento mundial, com uma base espiritual e expressiva da divindade essencial no homem, não o são. O poder agregado da boa vontade, que até agora não foi organizado, será irresistível. O trabalho do Novo Grupo de Servidores do Mundo até Maio de 1942 consistiu em organizar este poder latente e fazê-lo expressar-se, por meio de métodos educacionais e pela constante indicação das linhas por onde este espírito poderoso possa manifestar-se.

O Novo Grupo de Servidores do Mundo deverá, por consequência, organizar para si próprio um programa que cubra este período, sob a direção Daqueles que velam do lado interno e espiritual da vida. Este programa deve ter três objetivos:

1- Descobrir, educar e unir os homens de boa vontade, demonstrando-lhes o fato de que em qualquer país do mundo, sem exceção, muito está sendo realizado no que respeita:

a. A compreensão internacional e à fraternidade das nações.

b. A melhoria das condições humanas por grupos, igrejas e organizações, que trabalham de acordo com as novas linhas, sem ódio, sem atacar grupos ou pessoas, sem expressarem espírito partidário.

c. À unidade religiosa e ao desenvolvimento espiritual dentro e fora das igrejas.

d. À atividade educacional orientada ao longo das linhas da não- separatividade e larga inclusividade.

Isso pode realizar-se por meio de uma nova revista que será o órgão dos homens de boa vontade.

2- Preparar os homens de boa vontade para a repetição, numa mais ampla escala, do "ato de apelação" que teve lugar em 6 de Maio de 1936. Então, milhões de seres humanos usaram a Grande Invocação, e não pode haver dúvidas quanto à sua eficácia. Reforçou-se enormemente as mãos da Hierarquia e estabeleceu-se um "canal de contato" que não poderá jamais ser quebrado. Esforços semelhantes e maiores deverão realizar-se durante os anos futuros e personificarão o próximo grande esforço espiritual e expressão dos homens de boa vontade, para o qual o período intermediário é uma preparação. E desejável, caso seja possível, utilizar a radiodifusão da forma mais ampla, para que sucessivamente e seguindo a trajetória do sol, pudesse chegar a ser posto no ar este apelo a Deus na altura da Lua cheia. O dia do apelo será a expressão da atitude espiritual da humanidade e conduzirá a uma síntese espiritual subjetiva entre os homens de boa vontade e o Novo Grupo de Servidores do Mundo e a Hierarquia interna espiritual que está trabalhando para produzir a manifestação da nova ordem na terra, para inaugurar a Nova Era, e para materializar o reino de Deus no plano físico.

Devemos pensar muito na preparação deste futuro dia de apelo ou oração mundial, para que os resultados alcançados possam ser ainda mais definidos e poderosos do que na primeira e bem sucedida tentativa. A prece ou apelo pode, ou não, ser um poderoso meio de movimentar certas forças. O testemunho de todas as eras aponta para sua eficácia dentro destas linhas.

3- Manter ante a humanidade, como parte da instrução vital que os homens de boa vontade ensinarão e exemplificarão nas suas vidas diárias, a necessidade de uma grande participação grupal num Dia de Perdão e Esquecimento. Isto será viável em poucos anos, mas poderia tentar-se realizá-lo com sucesso em 1942. Este perdão baseia-se no reconhecimento da universalidade dos erros humanos cometidos no passado, e no fato de que não se pode culpar este ou aquele grupo, nação ou igreja, mas que todos cometemos erros, todos falhamos em compreender, e todos fomos culpados de falta de amor e de tolerância. Por consequência, não me refiro ao perdão que se baseia num espírito da magnanimidade ou num sentimento de superioridade, ou de oportunismo, mas num desejo de esquecer o passado e de avançar para a Nova Era, e participar na nova ordem social, livres dos velhos ódios, renunciando à recordação dos antigos erros em política, julgamento e métodos, e ignorando as habituais barreiras e os normais instintos separatistas.

Este é o tríplice programa a que se compromete o Novo Grupo de Servidores do Mundo e no qual somos chamados a participar. Para este empreendimento eles chamarão, por seu turno, os homens de boa vontade. Não têm outro programa ou intenção.

Unidos livremente por uma compreensão mútua e similaridade de objetivos, os membros do Novo Grupo de Servidores do Mundo encontram- se, quer estejam conscientes, ou não, uns dos outros ou do grupo, como se descreveu aqui encontram-se em todos os países trabalhando ativamente. É através deles que são descobertos os homens de boa vontade. Os seus nomes e endereços foram anotados e coligidos em listas de correspondência. As suas capacidades, quaisquer que sejam, para servir os seus semelhantes, serão também registradas quando possível e utilizadas, se for necessário. Assim, através dos homens de boa vontade de todos os lugares, o princípio de boa vontade pode ser alimentado e desenvolvido em cada país e eventualmente posto em prática. Estas pessoas constituirão um novo corpo de pensadores práticos em cada nação, que não será uma ameaça para qualquer governo, nem trabalhará contra a ordem estabelecida. Participarão em movimentos e empreenderão atividades que de modo algum alimentem o ódio, aumentem o antagonismo ou provoquem divisões entre os seus semelhantes. Contra este grupo nenhum governo ou igreja pode levantar objeções.

Há certo perigo em estabelecer regras e em fazer previsões. Isso só levará a atividades prematuras e a procedimentos precipitados. Se o trabalho aqui traçado proceder ao longo das linhas desejadas, se utilizarmos diariamente a Grande Invocação:

Que as forças da Luz iluminem a humanidade,
Que o Espírito da Paz se difunda pelo mundo,
Que os homens de boa vontade possam unir-se em toda a parte, num espírito de cooperação.
Que o perdão por parte de todos os homens possa ser a tônica desta época,
Que o poder sirva aos esforços dos Grandes Seres,
Que assim seja, e ajudai-nos a fazer a nossa parte

o canal é alargado e firmemente estabelecido, e é organizado devidamente um dia de oração; se o reconhecimento diário do perdão, no sentido em que S. Paulo se referia quando escreveu "esquecendo as coisas do passado, segui adiante", tornar-se regra entre os homens de boa vontade, conduzindo finalmente a um dia mundial de perdão, então a tarefa do Novo Grupo de Servidores do Mundo prosseguirá na direção construtiva e proveitosa e conduzirão ao sucesso. Aqueles Que procuram conduzir e guiar, do lado dos mundos internos, terão também uma razão para continuar com maior confiança, e o Cristo verá os frutos "do trabalho da Sua alma e ficará satisfeito".

Tendo assinalado assim o programa para este próximo futuro, que vamos fazer para realizá-lo? Este programa não poderá ter êxito, nem pode este partido do meio no mundo - intermediário entre os partidaristas e os. grupos pró e contra nos assuntos mundiais - empreender uma atividade produtiva e construtiva, se cada um não compreender a necessidade, e não redobrar de esforços - individual, financeiro e espiritual - para a ajuda do Plano.

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