O Caminho Real

Caminho de Peregrinação de Ouro Preto a Diamantina
"A vida ou é uma audaciosa aventura, ou é nada." (Helen Keller)

Uma rota de magia, mistérios e de exuberante beleza natural no desenrolar do processo histórico de desbravamento e construção da cultura de parte da nossa história.


Conceição do Mato Dentro

A Incursão desbravadora das Bandeiras pelo vasto sertão do Mato Dentro conduziu-as à descoberta das reservas auríferas do Iviturí, dando origem a Vila do Príncipe, hoje, Serro. Nessa jurisdição político-administrativa, Conceição do Mato Dentro, então Conceição do Serro, ficou como distrito por mais de um século. Os historiadores Geraldo Dutra de Moraes e Joaquim Ribeiro Costa, ... registram que no ano de 1702 partiu do movimentado centro de mineração surgido no Serro Frio a caravana exploradora integrada por Gabriel Ponce de Leon, Manoel Correia de Paiva e Gaspar Soares, em busca de novas descobertas. Na sua marcha rumo ao sul - anota ainda o culto conterrâneo - estabeleceram sucessivamente os arraiais de Tapera, Córregos, Conceição do Mato Dentro e Morro do Pilar, primitivamente Morro Gaspar Soares, em homenagem ao descobridor, ali aportado em navegação pelas águas do rio Santo Antônio.

Os Ricos garimpos e minas encontrados no rio Santo Antônio e em seus afluentes deram origem, às margens do córrego Cuiabá, aos primeiros núcleos de povoamento. Nasceu assim nossa cidade, junto com os primeiros momentos do século XVIII e o início da colonização do interior brasileiro. A abundância do ouro incentivou o rápido crescimento do arraial, que se desenvolveu em torno da capela votiva erguida pelos descobridores, em ação de graças a Nossa Senhora da Conceição, cujo nome foi adotado pelo novo povoamento.

Aqui se estabeleceu, desde então, o pólo irradiador das descobertas que se disseminaram na trilha do ouro, primeiramente, e na exploração de terras agriculturáveis, num segundo momento, quando surgem os distritos que ao longo do tempo se vincularam a Conceição do Mato Dentro. O grande município se formou quando do ato de nossa emancipação político-administrativa do Serro, no ano de 1840, foi constituído, originalmente, pela paróquias de Conceição, Morro do Pilar, São Miguel e Almas, hoje Guanhães. A enorme abrangência geoeconômica e cultural da área primitivamente jurisdicionada a Conceição ainda se conserva, sem embargo das emancipações ocorridas no curso do tempo, dando origem à formação de outros municípios. Estes mantêm com a antiga sede político-administrativa uma relação de cooperação e irmandade, que se estende ao Serro, célula-mater do povoamento. Essa ligação, como é óbvio, reveste-se de extraordinária importância e deve ser estimulada por projetos integradores que beneficiem todos, permitindo a exploração plena do nosso potencial regional comum.

Permitam-me destacar, ainda, outros aspectos de nossa evolução histórica, que aprofundam essas identidades regionais. O modo como nossas vilas e cidades se organizaram; o sistema administrativo desenvolvida à distância e, por esta razão, com relativa independência da Coroa Portuguesa e, posteriormente, do Poder Central; a pluralidade racial e o senso de aventura e de liberdade dos desbravadores que se estabeleceram nos vales e cumeadas do Espinhaço; tudo isso contribuiu para a formação de uma consciência política diferenciada, marcada destacadamente pela independência espiritual.

Os anos de abandono a que a região foi relegada, após o esgotamento das minas, na mesma medida em que agravaram o empobrecimento geral, acrescentaram a essa consciência política um traço de ressentimento, fonte do ceticismo que se revela em nossas relações com os poderes do estado.

Despidas da opulenta e vistosa roupagem que o Barroco materializou em outras cidades surgidas do Ciclo do Ouro, os novos povoamentos, exauridos também pela voracidade do fisco, são marcados pela simplicidade arquitetônica e urbanística e apenas registram, em algumas igrejas e sobradões sobreviventes, a pálida imagem da riqueza extraída das grupiaras e minas. Substituída a atividade mineradora pela agricultura de subsistência e por uma pecuária de cunho incipiente e tradicional, ambas carentes de evolução técnica, temos consciência da imensa tarefa que nos reserva o imperativo da modernização como condição básica do desenvolvimento socioeconômico.

Isolados em nossas montanhas, cujo azul perene e inconfundível recobre paisagens e diversidade biológica de valor incalculável, desenvolvemos uma singular civilização, que se conservou praticamente intocada nos longos anos de abandono.

As danças, os festejos populares e religiosos, as crenças e os cultos da intensa religiosidade popular, as músicas, o gosto da literatura em prosa e verso, a culinária mineira especialíssima, a educação e o lazer saudável das montanhas, a vida simples das centenárias fazendas e pequenas comunidades rurais constituem o nosso mais valioso patrimônio e a herança maior dos nossos antepassados e servirão de base aos nossos projetos de desenvolvimento econômico e bem-estar social...

(Fonte: José Fernando Aparecido de Oliveira)

Início