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Livros de Alice Bailey

Do Intelecto à Intuição


Capítulo IX – A Prática da Meditação

"É de notar que a Doutrina ensinada neste livro não instrui todas as espécies de Pessoas, mas somente aquelas que mortificam bem os Sentidos e as Paixões, que já avançaram e progrediram na Oração e são chamadas por Deus para o Caminho Interno, onde Ele as encoraja e guia, libertando-as dos obstáculos que retardam a sua marcha para a perfeita Contemplação."
MICHAEL DE MOLINOS, The Spiritual Guide

A Prática da Meditação

Até aqui a nossa discussão foi acadêmica, comparativa, discursiva e indicativa. Mostramos o Caminho seguido por muitos e consideramos o Caminho para a Iluminação. Convém agora aplicar-nos em compreender o trabalho prático que devemos cumprir pessoalmente. De contrário todo o objetivo do nosso estudo de meditação se perderia e não faríamos senão aumentar a nossa responsabilidade, sem termos realmente progredido no Caminho.

Põem-se, de imediato, duas questões pertinentes que merecer atenção.

I. Poderá qualquer um, desde que tenha o desejo, tirar proveito e dominar a técnica da Meditação?

II. Os Conhecedores do Oriente alcançaram a Iluminação retirando-s do mundo e permanecendo na reclusão e no silêncio. Dadas as condições de vida na civilização ocidental, isso não é possível. Podei haver esperança de sucesso sem desaparecerem as solicitações d mundo, como nas florestas ou selvas, ou na reclusão monástica?

Vamos considerar cada uma das questões e trabalha-lhas. Elas têm de ficar resolvidas e respondidas antes de podermos prosseguir no delineamento do trabalho de meditação e indicar o método aconselhável a seguir.

Respondendo à primeira questão, quanto à sua adaptabilidade geral a todos os aspirantes para este trabalho árduo, é preciso recordar, de início, que o próprio desejo em si de empreendê-lo pode ser tomado como um apelo da alma, para o Caminho do Conhecimento. Ninguém deverá desencorajar-se se concluir estar deficiente em certas qualificações essenciais. Na maior parte dos casos, estamos mais adiantados, somos mais sábios e estamos mais bem equipados do que imaginamos. Todos podemos começar imediatamente a concentrar-nos, se de imediato nos decidirmos a isso. Possuímos um grande saber, capacidades e uma força mental que nunca passaram do reino do subconsciente à utilidade objetiva; quem já tiver apreciado o efeito da Meditação num iniciante confirmará estas afirmações - muitas vezes para confusão mental do principiante, que não sabe o que fazer das suas descobertas. Os resultados do primeiro passo na disciplina de Meditação, isto é, da Concentração, são amiúde surpreendentes. As pessoas "reencontram-se", descobrem dons ocultos e uma compreensão nunca aplicados antes; ganham uma consciência, mesmo do mundo fenomenal, num grau para elas miraculoso; verificam repentinamente a existência da mente, a possibilidade de utilizá-la e a distinção entre o conhecedor e o instrumento do conhecimento torna-se-lhes estável e reveladoramente cada vez mais autêntica. Ao mesmo tempo registra-se uma sensação de perda. Os antigos estados sonhadores de bem-aventurança e de paz, que alcançavam na oração mística e na meditação, desaparecem; e, temporariamente, experimentam uma aridez, uma ausência e um vazio muito deprimentes com frequência. Isto provém do fato da atenção estar desviada das coisas dos sentidos, por muito belas que sejam. As coisas que o intelecto conhece e de que pode guardar recordação não estão ainda registradas, nem o aparelho sensorial causando seus impactos familiares sobre a consciência. E um período de transição, que é preciso suportar até o momento em que o mundo novo comece a impressionar o aspirante. Esta é uma razão por que a persistência e a perseverança são essenciais, particularmente nos estágios iniciais do processo de meditação.

Um dos primeiros efeitos do trabalho da meditação é o aumento da eficiência na vida diária, seja em casa, no escritório ou em qualquer outro domínio da atividade humana. A aplicação mental nas coisas da vida é, em si, um exercício de concentração que conduz a notáveis resultados. Quer um homem alcance, ou não, a Iluminação final pela prática da concentração e da meditação, ele terá pelo menos aprendido muito e enriquecido grandemente a sua vida; e a sua utilidade e poder serão enormemente acrescidos e a sua esfera de influência expandida.

Do ponto de vista puramente mundano é útil, portanto, aprender a meditar. Quem poderá afirmar que um acréscimo das capacidades, na vida corrente e no serviço, não são tanto um degrau do caminho do progresso espiritual como as visões do místico? Os resultados espirituais do esforço mental de que faz prova o mundo dos negócios do ocidente podem ser, em última análise, uma contribuição vital no esforço espiritual total como qualquer outro efeito notado no mundo da realização religiosa organizada. Confúcio ensinou-nos, há séculos, que os instrumentos da civilização eram de natureza altamente espiritual, por serem os resultados de ideias e Hu Shih, naquele interessante simpósio, Whither Mankind, diz-nos:

"... que a civilização que faz o mais profundo uso da engenhosidade e da inteligência humana na busca da verdade, a fim de controlar a natureza e transformar a matéria para o serviço da humanidade; para libertar o espírito humano da ignorância, da superstição e da escravidão às forças da natureza; para reformar as instituições sociais e políticas em benefício do maior número - tal civilização é altamente idealista e espiritual." (1)

A nossa ideia quanto ao que constitui a espiritualidade engrandeceu-se com solidez. Pelo uso do desejo, dos sentidos e das reações da natureza emocional vimos muitos milhares de seres alcançarem o ponto em que foram incitados a transmutar o desejo em aspiração, o sentido em sensibilidade para as coisas do espírito e o amor do eu em amor de Deus. Assim emerge o místico.

Pelo emprego da mente no mundo dos negócios no trabalho profissional, na ciência e na arte, vimos produzirem-se duas coisas surpreendentes: a despeito dos interesses egoístas e ideias materialistas, o grande negócio organizado chegou a uma condição em que se tornou consciente do grupo; pela primeira vez, o intercâmbio grupal e os interesses do maior número estão sendo seriamente considerados. Estes são resultados puramente espirituais; eles indicam uma percepção crescente da alma e são o tênue sinal da vinda da Fraternidade de almas. Em todos os domínios a ciência aplicada foi agora desenvolvida a tal ponto que entrou no domínio da energia e da metafísica pura. O estudo da matéria fez-nos desembarcar no reino do misticismo e do transcendentalismo. A Ciência e a Religião dão-se as mãos no mundo do invisível e do intangível.

Estes são os passos na boa direção. Quando as faculdades mentais forem-se desenvolvendo na raça, graças à nossa técnica ocidental no mundo dos negócios (uma vasta escola de concentração), uma transmutação análoga á que tem lugar no domínio da natureza do desejo deve-se produzir inevitavelmente. Houve frequentes exemplos disso. A mente pode ser então reorientada para valores mais reais e superiores e ser focada numa outra direção que não a da existência material. Assim emergirá o conhecedor.

Portanto, todo aquele que não for puramente emocional, que recebeu uma sólida educação e que quer trabalhar com perseverança, pode abordar com bastante coragem o estudo da meditação. Pode começar a organizar a sua vida de modo a dar os primeiros passos no caminho da iluminação e esta organização é um dos degraus mais difíceis. E bom recordar que todos os degraus iniciais são penosos porque temos de modificar os hábitos e os ritmos de muitos anos. Cumprido e dominado isto, o trabalho torna-se mais fácil. É muito mais duro aprender a ler que dominar um livro árduo.

A antiga ciência de Meditação, chamada a "estrada real para a União", poderia igualmente intitular-se a ciência de coordenação. Por meio do processo evolutivo, já aprendemos a coordenar a natureza emocional sensitiva de desejos e o corpo físico, ao ponto destes estados serem automáticos e muitas vezes irresistíveis; o corpo físico é agora um simples autômato, a criatura do desejo, elevado ou vil, bom ou mau, segundo o caso. São muitos os que agora coordenam a mente com aqueles dois; graças aos atuais e tão difundidos sistemas educacionais, estamos fundindo numa unidade coerente aquela totalidade que constitui um ser humano; as naturezas mental, emocional e física. Esta coordenação é rapidamente acelerada pela concentração e pelos aspectos iniciais do trabalho da meditação e, ulteriormente, é seguida pela unificação com a trindade do homem de um novo fator: o da alma. Esta tem estado sempre presente, tal como a mente está sempre presente nos humanos (que não sejam idiotas), mas mantém-se inativa até que chegue a hora e o trabalho necessário seja realizado, É inteiramente uma questão de consciência. No livro Theosophy or Psychological Reiigion o professor Max Müller diz-nos:

"Devemos recordar que o princípio fundamental da filosofia Vedanta não era 'Tu és Ele', mas 'Tu és Aquilo' e não era Tu serás, mas Tu és. Este 'Tu és' exprime qualquer coisa que é, que foi e sempre será, não qualquer coisa ainda a ser realizada ou, por exemplo, a ser seguida de pois da morte... Pelo verdadeiro conhecimento, a alma individual não se torna Brahma, mas é Brahma, logo, o que ela é verdadeiramente e o que sempre foi." (2)

São Paulo realça a mesma verdade quando fala do "Cristo em mim, esperança de glória". Pela mente exercitada e concentrada se conhece esta Realidade inerente e os Três em Um e o Um em Três são fatos comprovados na evolução natural da vida de Deus no homem.

Por conseguinte, torna-se evidente que a resposta à nossa primeira questão é a seguinte:

Primeiramente: aceitamos a hipótese da existência da alma e que esta alma pode ser conhecida do homem que sabe educar e controlar a sua mente.

Segundo: baseando-nos nesta hipótese, começamos a coordenar os três aspectos da natureza inferior e a unificar a mente, a emoção e o corpo físico num Todo inclusivo e organizado. Alcançamos isso pela prática da concentração.

Terceiro: à medida que a concentração se funde na meditação (que é o ato da concentração prolongada), a imposição da vontade da alma sobre a mente, começa a fazer-se sentir. Pouco a pouco, a alma, a mente e o cérebro são postos em estreita relação. Primeiro, a mente controla o cérebro e a natureza emocional. Depois a alma controla a mente. Como primeiro destes resultados, alcança-se a concentração; como segundo, a meditação.

Fora desta sequência de atividades, o investigador interessado se dará conta de que há um verdadeiro trabalho a ser realizado e que a primeira das qualidades necessárias é a perseverança. Poder-se-á assinalar aqui que duas coisas facilitam o trabalho de coordenação; primeiro, o esforço para ganhar o controle da mente, através do esforço de viver uma vida concentrada. A vida de consagração e dedicação, bem característica do místico, dá lugar a uma vida de concentração e de meditação - característica do conhecedor. A organização da vida mental, sempre e em qualquer lugar, e, em segundo lugar, a prática regular da concentração cada dia, se possível à mesma hora, contribui para a atitude unidirecionada, a estes dois elementos reunidos significam o sucesso. A primeira leva certo tempo, mas podemos logo atingi-la. A segunda exigência, de períodos de concentração fixa, também pode ser alcançada, mas o seu sucesso depende de duas coisas: da regularidade e da persistência. O sucesso da primeira depende largamente da persistência, mas também do uso da imaginação. Pela imaginação tomamos a atitude do Observador, do Perceptor. Imaginamo-nos como sendo Aquele que pensa (não que sente) e guiamos com firmeza os nossos pensamentos a todo o instante, segundo certas linhas escolhidas, sujeitando-nos a pensar o que escolhemos para pensar, e refutando a entrada dos pensamentos que determinamos excluir, não por um método de inibição, mas por meio de um interesse dinâmico em algo mais. Recusamos permitir às nossas mentes divagar pelo mundo à vontade, ou serem ativadas pelos nossos sentimentos ou emoções, ou pelas correntes de pensamento provenientes do mundo exterior. Obrigamo-nos a estar atentos a tudo o que fazemos, quer seja ler um livro, tratar dos nossos assuntos em casa ou no escritório, na vida social ou profissional, no falar com um amigo, ou qualquer que seja a atividade do momento. Se a ocupação for tal que possa ser conduzida instintivamente e não necessite do uso ativo do pensamento, poderemos escolher uma linha de atividade mental ou uma série de raciocínios e segui-los compreensivelmente, enquanto as nossas mãos ou olhos se ocupem com o trabalho em questão.

A verdadeira concentração decorre de uma vida governada pelo pensamento e, para o aspirante, o primeiro passo consiste em começar a organizar a sua vida quotidiana, em regular as suas atividades e em tornar-se localizado e unidirecionado na sua maneira de viver. Isto é possível para todos os que se ocuparem o suficiente para fazer o esforço necessário e mantê-lo com perseverança. Este é o primeiro princípio básico e essencial. Quando podemos organizar e reorganizar a nossa vida, provamos o nosso ardor e a fortaleza do nosso desejo. Ver-se-á, portanto, que é impossível qualquer negligência no dever para o homem unidirecionado. Os seus deveres para com a família, os amigos e os negócios ou o trabalho serão mais perfeita e eficientemente cumpridos e ele encontrará tempo para os deveres acrescidos que a sua aspiração espiritual lhe confere, porque começa a eliminar as coisas não essenciais da sua vida. Não se eximirá de qualquer obrigação porque a sua mente, estando focalizada, lhe permitirá efetuar muito mais em menos tempo do que até aqui e obter melhores resultados dos seus esforços. As pessoas dominadas pelas suas emoções perdem muito tempo e energia e fazem menos trabalho que uma pessoa polarizada mentalmente; é muito mais fácil a um indivíduo treinado pela técnica dos negócios, que tenha alcançado um lugar executivo, praticar a meditação, do que um trabalhador mecânico que não pense, ou uma mulher que leve uma existência puramente familiar ou mundana. Estes últimos têm que organizar a sua existência e eliminar tudo o que não é essencial. São eles que estão sempre muito ocupados para não fazer coisa alguma e para quem, encontrar vinte minutos, diariamente, para meditar, ou uma hora para estudar, apresenta dificuldades insuperáveis. Estão tão absorvidos pelas cortesias sociais ou pelos cuidados mecânicos da lida da casa, com uma multidão de atividades medíocres ou conversações sem finalidade, que não conseguem compreender que a prática da concentração os tornaria capazes de fazer tudo aquilo que têm feito até agora, e mais, e fazê-lo melhor. O executivo treinado, com uma vida ocupada e plena, parece encontrar mais facilmente o tempo suplementar requerido pela alma. Tem sempre tempo para mais uma coisa. Aprendeu a concentrar-se e muitas vezes a meditar; tudo que necessita fazer é mudar o foco de sua atenção.

A resposta à segunda questão, referente à necessidade de se retirar na solidão, a fim de evocar a alma, sugere uma ou duas observações interessantes. Do exame das condições, pode parecer que o aspirante moderno ocidental deva, ou renunciar à cultura da natureza da alma até o momento em que se possa conformar à antiga regra do retiro, ou então, lhe seja preciso formular um novo método e tomar uma nova posição. Poucos de nós estamos em condições de poder renunciar à família e às responsabilidades e desaparecer do mundo humano para meditar e buscar a iluminação sob a nossa particular árvore "Bo". Vivemos no meio duma multidão em tropel e numa situação caótica que deixa totalmente fora de hipótese a visão de um local calmo e pacífico. O problema será insolúvel? Não haverá um meio de superar a dificuldade? Devemos renunciar a toda esperança de alcançar a iluminação por não podermos (devido às circunstâncias, ao clima e a causas econômicas) retirar-nos do mundo dos homens para procurar o reino da alma?

A solução não está certamente na renúncia das possibilidades as quais os homens das raças antigas e de há séculos nos testemunharam. A solução reside na compreensão exata do nosso problema e no privilégio que nos é conferido de manifestar um mais novo aspecto da velha verdade. Pertencemos, no Ocidente, a uma raça mais jovem. No velho Oriente, alguns pioneiros aventureiros procuraram a reclusão e determinaram para nós as oportunidades bem como nos salvaguardaram as regras. Retiveram para nos em segurança a técnica até que as grandes massas dos homens estivessem prontas para avançar em grupos, não mais um ou dois de cada vez. Este tempo chegou agora. No estresse e agitação da vida moderna, na selva das nossas grandes cidades, no clamor e na azáfama da existência quotidiana e dos contatos humanos, por toda parte os homens e mulheres podem e por certo descobrem o centro de paz em seu próprio íntimo e conseguem realmente penetrar naquele estado de concentração positiva e silenciosa que lhes permite alcançar o mesmo objetivo, obter o mesmo conhecimento e entrar na mesma Luz como outrora testemunharam grandes Seres da humanidade. O lugar retirado, para o qual um homem se retira, ele descobre estar dentro dele próprio; o lugar silencioso onde tomamos contato com a vida da alma é aquele ponto no interior da cabeça onde a alma e o corpo se encontram; trata-se daquela mesma região a que anteriormente nos referimos, onde a luz da alma e a vida do corpo se misturam e se fundem. O homem que pode treinar-se para ficar suficientemente unidirecionado, pode a qualquer momento e em qualquer lugar, retirar o seu pensamento para um centro onde é no interior da cabeça conduzido o grande trabalho de unificação. Isto implica uma atenção mais dinâmica e uma meditação mais poderosa, mas a raça progrediu e cresceu em poder mental e em força no decurso dos últimos três mil anos e pode realizar o que era impossível aos videntes de outrora.

Aqui se põe uma terceira questão: que acontece realmente ao aspirante, sob o ponto de vista psicológico e fisiológico, durante a meditação? A resposta é: muita coisa. Falando psicologicamente, a mente torna-se controlada e fica sob o domínio da alma; ao mesmo tempo, as faculdades mentais ordinárias não estão anuladas. Podem ser empregadas mais facilmente e a mente fica mais aguçada do que nunca. Há uma capacidade de pensar com clareza. O aspirante descobre que além de ser capaz de gravar as impressões do mundo fenomenal, ele é também capaz de registrar as do mundo espiritual. Ele é mental em duas direções e a sua mente torna-se um agente de coesão e de unificação. Por sua vez, a natureza emocional está controlada pela mente e pacificada e não perturbada e, portanto, não apresenta qualquer obstáculo ao afluxo de conhecimento espiritual ao cérebro. Quando estes dois efeitos se tenham produzido, mudanças ocorrem no mecanismo do pensamento e na consciência cerebral humana - assim nos dizem os conhecedores orientais e assim a evidência parece indicar. Os pensadores orientais adiantados, como já vimos neste livro, situam as faculdades mentais superiores e a sede da intuição no cérebro superior e as faculdades mentais inferiores assim como as reações emocionais mais elevadas, no cérebro inferior. Isto acompanha os ensinamentos orientais de que a alma (com o conhecimento superior) e a faculdade de percepção intuitiva) tem sua sede num centro de força situado na região da glândula pineal, enquanto que a personalidade tem a sua sede num centro de força situado na região do corpo pituitário.

A hipótese em que se apoia a mais nova escola, no domínio da educação (se as teorias apresentadas neste livro têm de fato uma base) podem ser expressas pelas seguintes proposições:

I - O centro de energia pelo qual a alma age se acha no cérebro superior. No decorrer da meditação, se é efetiva, a energia da alma inunda o cérebro e atua de forma definida sobre o sistema nervoso. Mas, se a. mente não está controlada e predomina a natureza emocional (como no caso de um místico puro), os efeitos fazem-se sentir em primeiro lugar no aparelho sensorial, os estados emocionais do ser. Quando a mente é o fator dominante, então o aparelho do pensamento, no cérebro superior, entra em atividade organizada. O trabalho adquire uma nova faculdade de pensar clara, sintética e poderosamente, à medida que descobre novos reinos de conhecimento.

II - Temos, na região do corpo pituitário, a sede das faculdades inferiores quando coordenadas no tipo humano superior, E ai' que estão coordenadas e sintetizadas e - como nos indicaram certas escolas reputadas de psicologia e endocrinologia - se encontram as emoções e os aspectos mentais mais concretos (nascidos dos hábitos da raça e dos instintos herdados e, por conseguinte, não necessitando do exercício da mente criativa ou superior). Este foi o tema do meu recente livro, A Alma e o seu Mecanismo, e não pode ser ampliado aqui.

III - Quando a personalidade - a soma total dos estados mental, emocional e físico - é de ordem elevada, então o corpo pituitário funciona com uma eficácia aumentada e a vibração do centro de energia situado na sua vizinhança torna-se extremamente potente. Devemos registrar que, segundo esta teoria, quando a personalidade é de um tipo inferior, quando as suas emoções são sobretudo instintivas e a mente praticamente não funciona, então o centro de energia encontra-se na região do plexo solar e a natureza do homem é sobretudo animal.

IV - O centro na região da glândula pineal e o cérebro superior entram em atividade através do aprendizado da focalização da consciência atenta na cabeça. Nos livros orientais isto é designado pelos interessantes termos de "retirada correta", "abstração correta". Isto significa o desenvolvimento da faculdade de subjugar as tendências que têm os cinco sentidos em se voltarem para o exterior. Assim, ensina-se ao aspirante a retirada correta ou abstração da consciência, que está voltada para o mundo fenomenal e deve aprender a centrar esta consciência no grande ponto central da cabeça; ponto este de onde a energia pode ser conscientemente distribuída enquanto ele participa no grande trabalho, ponto de onde pode entrar em contato com o reino da alma e no qual pode receber as mensagens e impressões dimanadas daquele reino. Este é um estágio de definida conquista espiritual e não uma maneira simbólica de exprimir um interesse unidirecionado.

As diversas avenidas da percepção sensorial são conduzidas a uma condição de quietação. A consciência do homem real não mais se apresenta voltada para as suas cinco avenidas de contato. Os cinco sentidos estão dominados pelo sexto, a mente, e toda a consciência e a faculdade perceptiva do aspirante estão sintetizadas na cabeça e voltadas para o interior e para o alto. A natureza psíquica está desse modo subjugada e o plano mental torna-se o campo da atividade humana. Este processo de retirada ou de abstração comporta-se por etapas;

1 - A retirada da consciência física ou da percepção pela audição, o tato, a visão, o paladar e o olfato. Estes modos de percepção tornam-se temporariamente adormecidos, a percepção torna-se simplesmente mental e a consciência cerebral é a única coisa ativa no plano físico.

2 - A retirada da consciência para a região da glândula pineal, de tal modo que o ponto de conscientização do homem fique centralizado na região entre o meio da fronte e a glândula pineal. (3)

V - Estando isto realizado e tendo o aspirante adquirido a capacidade de se concentrar na cabeça, o resultado deste processo de abstração é o seguinte:

Os cinco sentidos encontram-se firmemente sintetizados pelo sexto sentido, a mente. Este é o fator de coordenação. Mais tarde compreende-se que a alma tem uma função análoga. A personalidade tripla é assim levada a uma linha de comunicação direta com a alma e, por conseguinte, com o tempo, o homem perde a consciência das limitações da natureza corporal e o cérebro pode ser, por intermédio da mente, diretamente impressionado pela alma. A consciência cerebral é mantida numa condição de expectativa positiva, com todas as suas reações ao mundo fenomenal totalmente suspensas, se bem que de modo temporário.

VI - A personalidade altamente desenvolvida intelectualmente, em que o foco da atenção está na região do corpo pituitário, começa a vibrar em uníssono com o centro superior na vizinhança da glândula pineal. Então estabelece-se um campo magnético entre o aspecto positivo da alma e a personalidade expectante tornada receptiva pelo processo de focalização da atenção. Então, é-nos dito, irrompe a luz, e encontramo-nos em presença do homem iluminado, e do aparecimento da luz na cabeça. Tudo isto resulta de uma vida disciplinada e da concentração da consciência na cabeça. Isto, por seu turno, é realizado à custa do esforço de concentração na vida cotidiana e também através de exercícios de concentração definidos. Estes são seguidos pelo esforço de meditação e, mais tarde - muito mais tarde - faz-se sentir o poder da contemplação.

Esta é uma breve exposição, necessariamente sucinta e incompleta, do mecanismo do processo. Estas ideias, não obstante, deverão ser aceitas experimentalmente antes de poder haver um inteligente enfoque do trabalho da meditação. E também tão legítimo aceitar como base do trabalho de investigação e de conduta uma hipótese tal como a supracitada, como quaisquer outras. Isto é talvez mesmo mais legítimo, pois tantos milhares de seres têm procedido apoiados nestas suposições e preencheram as condições requeridas e como resultado as suas pressuposições mudaram-se em certezas e, como recompensa, colheram os frutos de uma abertura de mente da persistência e do poder de investigação.

Com a nossa hipótese formulada e temporariamente aceita, vamos prosseguir o trabalho até prova de erro ou até o momento em que a nossa atenção se disperse. Uma hipótese não é necessariamente falsa porque não se demonstre no tempo que julgamos conveniente. Frequentemente, pessoas renunciam ao propósito de prosseguir nas suas buscas neste campo do conhecimento por falta da necessária perseverança ou porque o seu interesse se deslocou para algures. Contudo, estamos resolvidos a seguir em frente em nossa investigação, dando às antigas técnicas e fórmulas, tempo para se demonstrarem. Vamos, portanto, cumprir as primeiras exigências e esforçarmo-nos por levar uma vida de atitude mental mais concentrada, praticando diariamente a meditação e a concentração. Se somos principiantes, ou se possuídos de uma mente desorganizada, fluida, versátil e instável, começaremos por praticar a concentração. Se temos intelectos treinados ou se possuímos a atenção concentrada que a prática dos afazeres desenvolve, será suficiente reorientar a mente para um novo campo de consciência e começar verdadeiramente a meditar, E fácil ensinara meditação ao executivo de negócios interessado.

Em seguida, será empreendido o trabalho regular de meditação e será reservado um período, em cada dia, para esta particular atividade. No princípio, quinze minutos chegam e não se deve tentar mais durante um ano pelo menos. Se, no decurso de mil quatrocentos e quarenta minutos que compõem um dia, alguém clamar que é incapaz de encontrar quinze minutos, não se pode dizer com certeza que não está interessado? Podem encontrar-se sempre quinze minutos se se quiser fazer tal esforço; é sempre possível cada manhã levantarmo-nos quinze minutos mais cedo, ou adiar aquela tagarelice matinal com a família, ou retirar o tempo necessário de uma leitura, ou do cinema ou de qualquer mexerico mais tarde no mesmo dia. Sejamos sinceros conosco mesmos e reconheçamos as coisas como elas são. O pretexto "não tenho tempo", é absolutamente fútil; indica simplesmente falta de interesse. Consideremos, agora, as regras que vamos aplicar.

Primeiramente, tratemos de obter o tempo para o trabalho da meditação cada manhã cedo. Há uma razão para isso: quando participamos dos acontecimentos do dia no toma lá dá cá da vida, a mente fica num estado de vibração violenta; não é este o caso, quando começamos o nosso dia pela meditação. Então há ainda uma relativa tranquilidade e podemos adaptar-nos mais rapidamente aos estados de consciência superiores. Além disso, começando o dia com a concentração da atenção sobre coisas espirituais e sobre as questões da alma, viveremos o dia de uma maneira diferente. Quando isto se torna um hábito, descobriremos em breve que mudam as nossas reações aos problemas da vida e que começamos a pensar segundo os pensamentos da nossa alma. Isto se torna o processo da atuação de uma lei, segundo a qual "conforme um homem pensa, assim ele é".

Em seguida, faremos por encontrar um lugar realmente tranquilo, ao abrigo de qualquer intrusão. Por tranquilo não quero dizer livre do ruído, porque o mundo está cheio de sons e, à medida que desenvolvermos a nossa sensibilidade, estaremos aptos a encontrá-lo mais cheio do que pensávamos, mas livre da aproximação de pessoas ou do chamado de outrem. Gostaria de sublinhar aqui uma atitude que o principiante deveria assumir. É a atitude de guardar silêncio. Os aspirantes falam demasiado da oposição que encontram na sua família e entre os seus amigos; o marido faz objeções por a esposa meditar ou vice-versa; os filhos são estouvados e descuidados ao interromperem as devoções dos pais; os amigos não mostram simpatia por estas tentativas. As pessoas falam demasiado. Na maioria dos casos, a falta é do próprio aspirante e as mulheres, neste sentido, são as mais pecadoras. O que fazemos cada manhã nos nossos quinze minutos não diz respeito a pessoa alguma, não há necessidade de falar nisso às nossas donas de casa, ou de lhes impor o silêncio porque queiramos meditar. Isto suscitará inevitavelmente reações hostis. Guardemos segredo quanto à maneira como procuramos desenvolver a nossa consciência espiritual; isso só diz respeito a nós mesmos. Fiquemos calados quanto ao que fazemos; coloquemos os nossos livros e papéis fora do alcance das outras pessoas e não entulhemos a sala de estar da família com toda uma literatura que não lhes desperta o menor interesse. Se nos é impossível encontrar tempo para a meditação antes da família se dispersar para os afazeres do dia, ou antes de nos entregarmos às nossas próprias ocupações, procuremos esse tempo mais tarde durante o dia. Há sempre uma maneira de contornar uma dificuldade, se quisermos uma coisa muito firmemente, e um meio que não implique a omissão de qualquer dever ou de alguma obrigação. Isto envolve apenas organização e silêncio.

Tendo encontrado o tempo e o lugar, sentemo-nos confortavelmente e comecemos a meditar. Surgem então as perguntas: como nos devemos sentar? Será melhor com as pernas cruzadas, ou devemos ajoelhar-nos, ou sentarmo-nos ou ficarmos de pé? A posição mais fácil e normal é sempre a melhor. A posição mantendo as pernas cruzadas foi, e ainda é muito empregada no Oriente; muitos livros foram escritos sobre as posturas, que são em número aproximado de oitenta. Mas porque isso foi muito praticado no passado, e no Oriente, não é uma razão para que seja o melhor para nós, agora, no Ocidente. Estas posturas são os restos duma época em que a raça estava sendo treinada psicológica e emocionalmente e muitas assemelhavam-se à disciplina imposta às crianças quando as colocamos num canto e lhes ordenamos que fiquem quietas. Algumas destas posturas também têm relação com o sistema nervoso e com a estrutura interna dos nervos mais delicados, que os hindus chamam de nadis e que estão subjacentes ao sistema nervoso tal como é reconhecido no Ocidente.

O problema com estas posturas é que conduzem a duas reações bastante indesejáveis: conduzem o homem a concentrar a mente na mecânica do processo e não sobre o seu objetivo e, em segundo lugar, conduzem frequentemente a um sentido delicioso de superioridade que repousa no fato de tentarmos empreender fazer algo que a maioria não faz e que nos coloca à parte, na qualidade de conhecedores poderosos. Ficamos absorvidos pelo lado forma da meditação e não como o Criador da forma; ocupamo-nos do Não-Eu em vez do Eu. Escolhamos aquela posição que nos permita esquecer mais facilmente que temos um corpo físico. Para o Ocidental é provavelmente a posição sentada; as exigências principais são o estar ereto, com a coluna dorsal formando uma linha reta; o sentar-se relaxado (sem nos afundarmos) para evitar tensão em qualquer parte do corpo; manter o queixo ligeiramente caído, para diminuir qualquer tensão da parte posterior do pescoço. Muitas pessoas sentam-se, para meditar, olhando para o teto com os olhos bem fechados, como se a alma estivesse nalgum lugar acima delas; olham como quem engoliu um fantasma e cerram bem os dentes (talvez para evitar que se escape alguma palavra inspirada, sem dúvida caída da alma). Todo o corpo está suspenso, em tensão e firmemente paralisado. Depois ficam surpreendidas quando nada ocorre, exceto a fadiga e as dores de cabeça. A retirada da consciência dos canais dos sentidos não implica o afluxo do sangue para a cabeça, nem a aceleração descontrolada das reações nervosas. A meditação é um ato interior que só pode ser realizado com sucesso se o corpo estiver relaxado, em correto equilíbrio e, portanto, esquecido.

As mãos devem estar enlaçadas sobre o colo e os pés cruzados. Se o cientista ocidental tem razão quando diz que o corpo humano é realmente uma bateria elétrica, sem dúvida o seu irmão oriental tem igualmente razão ao declarar-nos que durante a meditação a energia positiva e a energia negativa se aproximam e que, por este meio, produzimos a luz na cabeça, E, portanto, correto fechar o circuito.

Tendo realizado as condições de conforto físico e de relaxamento e estando abstraídos da consciência do corpo, em seguida prestaremos atenção à nossa respiração e vigiaremos para que esteja calma, regular e rítmica. Gostaria de fazer aqui uma advertência no que respeita à prática de exercícios respiratórios, exceto por aqueles que durante anos se entregaram a uma meditação correta e purificaram a sua natureza corporal. Estes exercícios são muito perigosos quando faltam a experiência e a pureza. É impossível realçar isto suficientemente. Nos dias de hoje muitas escolas dão instruções relacionadas com a respiração e apresentam-na como um meio de desenvolvimento espiritual. Isto nada tem a ver com o desenvolvimento espiritual. Tem, isso sim, muito a ver com o desenvolvimento psíquico, e sua prática pode conduzir a grandes dificuldades e perigos. Por exemplo, é possível tornar-se clariaudiente ou clarividente pela prática de certos exercícios respiratórios, mas quando não houver compreensão verdadeira do processo ou correto controle pela mente da versátil "natureza psíquica", o praticante consegue apenas forçar a entrada em novos campos de fenômenos. Desenvolveu faculdades que é totalmente incapaz de controlar e, muitas vezes, é-lhe impossível pôr fim aos sons e às visões que aprendeu a registrar; é assim incapaz de escapar aos contatos, quer do mundo físico, quer do psíquico, é arrastado para as duas direções e não encontra a paz. Os sons e visões físicos constituem a sua herança normal, impressionando naturalmente os seus sentidos, mas, quando o mundo psíquico - com os seus sons e visões próprios - também o impacta, fica sem defesa; não pode fechar os olhos e subtrair-se ao envolvimento psíquico indesejável.

Um Doutor em Teologia e pastor de uma grande igreja escreveu-me, não há muito tempo, dizendo que tinha empreendido exercícios respiratórios, ensinados por um professor que chegara à sua cidade, com vistas a melhorar a saúde. O resultado da sua ignorância bem intencionada foi a abertura da audição interior num sentido psíquico. Dizia-me na sua carta: "Enquanto vos escrevo à máquina posso ouvir toda espécie de vozes, palavras e sons que não são físicos. Não posso detê-los e temo pela minha razão. Não podereis dizer-me o que fazer, para os afastar? "Durante estes dez últimos anos, centenas de pessoas vieram pedir-me para as ajudar, devido aos efeitos da sua obediência cega aos conselhos de certos professores de exercícios respiratórios. Estas pessoas estão completamente desesperadas e muitas vezes num sério estado psíquico. Algumas podem ser auxiliadas, mas somos impotentes para um pequeno número delas, as quais acabam em asilos para dementes ou em sanatórios para desequilibrados. A grande experiência nestes casos me incita a fazer estas advertências porque, na maioria dos casos, as perturbações psíquicas incontroláveis são devidas a exercícios respiratórios.

Nos ensinamentos antigos do Oriente, o controle respiratório só era permitido depois que os primeiros três "meios de união", como eram chamados, houvessem sido realizados até certo ponto na vida corrente. Estes "meios" são: primeiro, os cinco mandamentos: inofensividade, veracidade para com todos os seres, abstenção do roubo, da incontinência e da avareza. Em segundo lugar, as cinco regras: purificação interna e externa, contentamento, aspiração ardente, leitura espiritual e devoção. Em terceiro lugar, verdadeiro equilíbrio. Quando um indivíduo é inofensivo em pensamento, palavra e ação, quando é altruísta e conhece o significado do equilíbrio - tanto da atitude emocional como da física - então pode, na verdade, praticar exercícios respiratórios, sob adequada instrução e com segurança. Mesmo neste caso, ele apenas conseguirá ser bem sucedido na unificação das energias vitais do corpo e em tornar-se um psíquico consciente, embora isto possa ter o seu lugar e o seu propósito se se qualificar como experimentador de pesquisa.

Por não se conformarem com as exigências preliminares, muitos investigadores de mérito se veem em dificuldades. E perigoso, para uma pessoa emotiva e fraca, empreender exercícios respiratórios a fim de acelerar o desenvolvimento e qualquer professor que procure ensinar tais exercícios a um grupo numeroso - e é frequentemente o caso - suscitará sérias dificuldades para si e seus seguidores. Era unicamente aqui ou ali que um mestre, outrora, escolhia um homem para esta forma de instrução; a ela se juntava um ensinamento que já tinha produzido, em certa medida, um contato com a alma, de modo a que esta pudesse guiar as energias evocadas pela respiração, para o progresso destes objetivos e para o serviço mundial.

Por conseguinte, cuidaremos simplesmente para que a nossa respiração seja calma e regular e desviaremos, então, o nosso pensamento, de todo o conjunto do corpo e começaremos o trabalho de concentração.

O passo seguinte na prática da meditação é o uso da imaginação; visualizamos para nós próprios o homem triplo inferior alinhado ou em comunicação direta com a alma. Isto pode ser feito de várias maneiras. Chamamos a isso o trabalho na visualização. Parece que a visualização, a imaginação e a vontade são três poderosos fatores em todos os processos criativos. São eles as causas subjetivas para grande número dos nossos efeitos objetivos. No começo, a visualização é principalmente uma questão de fé experimental. Sabemos que pelo processo de raciocínio podemos chegar a tal compreensão que, dentro e para além de todos os objetos manifestados, se encontra um Objeto ou Modelo Ideal, que procura manifestar-se no plano físico. A prática da visualização, o uso da imaginação e o exercício da vontade, são atividades com as quais se conta para acelerar a manifestação deste Ideal.

Quando visualizamos, empregamos a concepção mais alta que esse Ideal possa ter, revestido duma substância determinada, em geral mental, na falta de podermos conceber formas ou tipos de substância superiores com os quais revestir as nossas imagens. Quando construímos uma imagem mental, a substância mental da nossa mente gera certa gama de vibrações que atraem para elas uma qualidade de substância mental, onde a mente se encontra imersa. É pela vontade que esta imagem persiste com firmeza e lhe dá vida. Este processo continua, quer sejamos ou não capazes de o ver com o nosso olho mental. Pouco importa se conseguimos vê-lo ou não, pois o trabalho criativo realiza-se do mesmo modo. Tempo virá, talvez, em que possamos seguir o processo inteiro e executá-lo conscientemente.

Nesta empresa, no estágio de principiante, algumas pessoas podem apresentar os três corpos (os três aspectos da natureza forma) como que ligados a um corpo de luz radiante, ou visualizar três centros de energia vibratória, estimulados por outro centro mais elevado e poderoso; podem também conceber a alma como um triângulo de força ao qual se prende o triângulo da natureza inferior - ligados pelo "cordão prateado" mencionado na Bíblia Cristã, o "sutratma" ou fio da alma das Escrituras Orientais, ou a "linha de vida” de outras escolas de pensamento. Outros ainda preferem conservar o pensamento de uma personalidade unificada, ligada à Divindade residente dentro dela, e ocultando-se nela, o Cristo em nós, a esperança de glória. Seja qual for a imagem escolhida isso é relativamente secundário, desde que partamos da ideia básica do Eu à procura do contato e uso do Não-Eu, o seu instrumento nos mundos de expressão humana, e vice-versa, com o pensamento desse Não-eu sendo incitado a voltar-se para a sua fonte de existência. É assim que, pelo emprego da imaginação e da visualização, o corpo de desejos, a natureza emocional, é alinhado com a alma. Quando isto se realiza, podemos continuar com o nosso trabalho de meditação. O corpo físico e a natureza do desejo, por seu turno, descem abaixo do nível de consciência, ficamos centrados na mente e procuramos submetê-la à nossa vontade.

E precisamente aqui que nos confrontamos com o nosso problema. A mente recusa moldar-se aos pensamentos que escolhemos para pensar e vagabundeia pelo mundo, na sua habitual busca de substância. Pensamos no que hoje vamos fazer e não no nosso "pensamento-semente”, recordamo-nos de alguém que temos de conseguir ver, ou de qualquer linha de ação que nos chama a atenção; começamos a pensar num ser a quem amamos e voltamos a mergulhar de imediato no mundo das emoções, sendo necessário recomeçar todo o trabalho. Assim, tornamos a reunir os nossos pensamentos e recomeçamos de novo com muito êxito durante meio minuto, mas, depois, lembramo-nos de um encontro combinado ou de outro negócio que alguém está fazendo para nós e eis- nos de volta ao mundo das reações mentais esquecendo a nossa linha de pensamento escolhida. Mais uma vez reagrupamos nossas ideias dispersas e recomeçamos a faina de subjugar a nossa caprichosa mente.

Will Livington Comfort, na sua centésima terceira Carta resume-nos isto da seguinte maneira:

"A nossa fragmentada atenção - nós não fazemos ideia o quão fragmentada até começarmos a concentrar-nos, até desta prática começar a surgir uma nova integridade e estabilidade, no meio da efervescente ineficácia da vida pessoal. Nas nossas precedentes tentativas de meditação, transpusemos os ensinamentos vulgarizados referentes à escolha do tema ou à necessidade de nos concentrarmos fiel e estreitamente sobre ele; passamos por tudo isso, apaixonamo-nos pelo êxtase, pela iniciação, pelos meios que nos permitiriam brilhar e dominar os nossos semelhantes. Deixamo-nos pastar nas campinas pantanosas da emoção, que confundimos com os claros campos do espírito; permitimo-nos crer que pensávamos... até que, na adversidade por carência ou por abatimento da nossa importância, nos foram reveladas as empolgantes incertezas e instabilidades do nosso campo de trabalho. Enfim, convencidos, tornamo-nos muito zelosos no recomeçar do fundo tudo de novo, uma vez mais, e a palavra Estabilidade aparece." (4)

Diz-nos mais, nesta mesma carta, que:

"As nossas concentrações são ansiosas ao princípio devido ao próprio esforço que aplicamos nelas. Esta rigidez afasta de nós, por um tempo, os resultados procurados, mas, com um pouco de prática, tornamo-nos finalmente hábeis em manter uma unidirecionalidade mental,com uma certa espécie de contentamento fácil que pode com segurança ser fortalecida." (5)

Como é possível esta condição de fortalecimento? Seguindo uma forma ou plano de meditação, que fixa automaticamente a nossa mente dentro do círculo-não-se-passa e lhe diz: "Até aí podes ir e mais não”. Traçamos deliberadamente e com intenção inteligente os limites da nossa atividade mental, de tal maneira que somos forçados a reconhecer o momento em que vagueamos para além desses limites. Sabemos então que devemos retirar-nos outra vez para dentro do muro de abrigo que elevamos para a nossa proteção. Em geral, o emprego deste plano de meditação é necessário durante vários anos, a menos que tenhamos tido um treino anterior; e até mesmo aqueles que já atingiram a etapa de contemplação, põem-se frequentemente à prova, servindo-se de uma forma de modo a assegurar que não estão caindo de volta num estado passivo, emocional e negativo.

Eu usei formas tais como a seguinte, ao trabalhar com aproximadamente três mil estudantes da técnica da meditação durante os últimos sete anos, e ela se mostrou tão útil em tantos casos que eu a incluo aqui.

FORMA DE MEDITAÇÃO
Para o desenvolvimento da concentração

Estágios:

1 - Obtenção de conforto e controle físicos.

2 - Estabelecimento de uma respiração regular e rítmica.

3 -Visualização do eu inferior triplo (físico, astral e mental) como estando

a) em contato com a alma;

b) como um canal para a energia da alma, que vai direto ao cérebro por intermédio da mente. A partir daqui pode ser controlado o mecanismo físico.

4 - Estabelecimento de um ato definido de concentração, apelando para a vontade. Isto envolve um esforço para conservar a mente imóvel sobre certos tipos de palavras, de maneira que seu significado fique claro em nossa consciência, e não as palavras em si, ou o fato de que estamos tentando meditar.

5 - Dizer, em seguida, com a atenção firme:

"Mais radioso que o sol, mais puro que a neve, mais sutil que o éter, é o Eu, o Espírito que dentro de mim está. Eu sou o Eu. Esse Eu, Eu sou."

6 - Concentrar-se depois nas palavras: "Oh Deus, Tu me vês." A mente não deve vacilar ao concentrar-se no seu significado, intenção e implicação.

7 - Então, com determinação, concluir o trabalho de concentração e dizer - outra vez com a mente focada nas ideias subjacentes - a seguinte afirmação conclusiva:

"Existe uma paz que ultrapassa toda a compreensão; ela habita nos corações daqueles que vivem no Eterno. Existe um poder que renova todas as coisas; ele vive e move-se naqueles que conhecem o Eu como uno."

Esta é, em definitivo, uma meditação de principiantes. Comporta vários pontos focais, onde são empregados um processo de rememoração e um método de refocalização. Existem muitos outros esquemas de meditação que podem conduzir aos mesmos resultados e outros mais para praticantes mais avançados. Há planos de meditação que são traçados para produzir certos resultados específicos em certos indivíduos, mas é evidente que não podem ser incluídos num livro como este. Só uma forma de meditação geral e sem perigo pode ser comunicada. Em todos os casos, entretanto, a primeira coisa a reter é que a mente deve estar ativamente ocupada com ideias e não com o esforço para ficar concentrada. Por detrás de cada palavra pronunciada e de cada fase seguida deve haver a vontade de compreender, acompanhada de uma atividade mental unidirecionada.

No sexto estágio, onde é realizado um esforço para meditar definidamente sobre um conjunto de palavras que velam uma verdade, nada de automático deve haver no processo. E muito fácil induzirmo-nos a um estado hipnótico pela repetição rítmica de certas palavras. Conta-se que Tennyson se induzia a um estado de consciência elevada pela repetição do seu próprio nome. Não é este o nosso objetivo. O transe, ou condição automática, é perigoso. A maneira segura é a de uma atividade mental intensa, confinada nos limites das ideias, aberta por qualquer particular "pensamento- semente" ou objeto de meditação. Esta atividade exclui todos os pensamentos estranhos, à exceção dos nascidos das palavras consideradas. As palavras usadas nesta forma particular podem ilustrar, isso e o processo descrevem a sucessão de pensamentos como segue:

Oh Deus, tu me vês.
Este Deus é o divino em mim, o Cristo imanente, a Alma.
Durante longas eras, esta alma percebeu-me e observou-me
Agora, pela vez primeira, estou em situação de ver Deus.
Até agora, tenho sido negativo em relação a esta Realidade Divina.

A relação positiva está-se tornando possível.
Mas isso parece envolver a ideia de dualidade.
Contudo, Eu e Deus somos um.
Eu sou Deus e tenho-o sido sempre.
Portanto, tenho sido visto pelo meu Eu.
Eu sou aquele Eu, Aquele Eu, Eu sou.

Isto é facilmente escrito, mas, se se tiver de concentrar ativamente a mente no seu sentido e significado, muito esforço terá de ser feito e muito pensamento concentrado desenvolvido e muita dificuldade enfrentada para eliminar todos os pensamentos que não se reportem ao assunto da meditação. Pude, algumas vezes, ajudar o principiante desencorajado pela sua inaptidão em pensar quando e como queria, dando-lhe o conselho seguinte: "Imaginai que tende de proferir uma conferência sobre as palavras da vossa meditação. Visualizai-vos a formular as notas segundo as quais ireis falar mais tarde, Conduzi a vossa mente de etapa em etapa e descobrireis que se passaram cinco minutos sem que a vossa atenção tenha vagueado, tal foi o vosso interesse."

Devem ser escolhidos versos de efeito positivo. Devem ser evitados os que suscitem um estado mental expectante e negativo. Uma certa dose de experiência e realização é necessária antes que palavras tais como (tantas vezes escolhidas por principiantes bem intencionados) "ficai em silêncio e sabei que Eu sou Deus". Se uma personalidade não treinada apelar para uma tão grande tranquilidade e evocar demasiada energia, isso leva ao estímulo da natureza psíquica. O Sr. Comfort sublinha isto magnificamente na carta já citada:

"Creio que se uma meditação tal como "ficai em silêncio e sabei que Eu sou Deus", for praticada com muito ardor isso pode ter efeitos desastrosos. Mais de uma personalidade imatura abriu em seu íntimo a receptividade a uma força que agiu sobre os fatores negativos ao seu desenvolvimento, despertando paixões secretas e ambições que não estava em condições de enfrentar. A meditação: "Eu sou Deus" pode por isso ser considerada como muito direta e eficaz até que o trabalhador saiba exatamente o que quer fazer. Não se pode brincar com o Ego e continuar muito tempo a representação diante dos homens. O fim disso é a doença, a fadiga desesperada e a perda do caminho, enquanto gritamos aos outros. Não se trata de adquirir qualquer coisa para revelar aos homens. É uma questão de compreender do que somos feitos, enquanto personalidades; de discernir a Chave de uma força nova e de se lançar, com uma ardente integridade, toda a natureza humana no jogo de alcançar e girar esta Chave. Compreendo que este parágrafo referente à meditação "Eu sou Deus" contém tanto um logro como uma advertência. É bem verdade que virá para todos o tempo em que cada um operará da posição do Ego, em vez da personalidade; mas uma fina integridade da personalidade deve ser estabelecida, antes de podermos conduzir o poder." (6)

O método sequencial sugerido acima é um caminho seguro para o neófito. Existem outros que se oferecerão à mente do aluno inteligente. Mundos inteiros de pensamento abrem-se, os quais a mente pode percorrer à vontade (notai estas palavras) contanto que tenham uma relação com o pensamento-semente e estejam em relação direta com a ideia escolhida, sobre a qual procuramos concentrar-nos. É evidente que cada pessoa seguirá a tendência da sua própria mente - artística, científica ou filosófica - que constituirá para ela a linha de menor resistência. Cada um formulará os seus próprios conceitos à sua própria maneira. Mas, a atitude "ficai em silêncio" não é uma atitude para nós. Inibimos outras atividades mentais por um interesse profundo, não por um atordoamento mental de nós próprios no silêncio, ou pela adoção de um método que induz ao transe ou à total supressão do pensamento. Nós estamos decididamente pensando. Todo aquele que tenha ensinado a meditação sabe quanto é difícil induzir o místico a deixar a sua atitude passiva (que resulta de um esforço para tornar a natureza emocional unidirecionada) e forçá-lo a começar a empregar a mente. Quantas vezes ouvimos esta queixa: "Não gosto desta técnica; é muito intelectual e mental e nem um pouco espiritual." Na realidade, eles querem dizer mais ou menos isso: 'Sou demasiado preguiçoso para me servir da minha mente; sofro de inércia mental; prefiro mais as rapsódias emocionais e a imposição de um estado de paz à minha natureza emocional. Sinto-me melhor então. Esse outro método implica trabalho muito difícil'. Por que é a espiritualidade confundida com as emoções? E por que o conhecimento não será tão divino como o sentimento? Naturalmente, este caminho envolve um trabalho árduo, sobretudo no começo. Mas ele pode ser feito, se a preguiça inicial puder ser vencida e aqueles que tiveram êxito conhecem o seu supremo valor.

Concluindo esta tentativa para indicar o trabalho inicial que o aspirante a este caminho deve empreender, é bom notar que a chave do sucesso reside na prática constante e ininterrupta.

Muitas vezes, em nosso trabalho com estudantes do mundo inteiro, verificamos as mentes brilhantes vindo em segundo lugar, porque a perseverança nos seus esforços falta, e assim a mente mais comum de repente penetra no reino do conhecimento apura do e deixa para traz seu irmão mais brilhante, por ela ser capaz de persistir e prosseguir. Os esforços esporádicos não conduzem o aspirante a parte alguma; com efeito, são definitivamente prejudiciais, visto que engendram um sentimento de fracasso constante. Algum trabalho consistente e fiel, feito cada dia, durante um longo período, conduzirá a resultados infinitamente maiores que os esforços entusiastas, mas espasmódicos. Alguns minutos de concentração e de meditação feitos com regularidade levarão o aspirante muito mais longe do que várias horas de trabalho realizados três ou quatro vezes por mês. Foi dito, com toda a verdade, que “a meditação, para ser efetiva na produção de resultados, não deve ser simplesmente um esforço esporádico, empreendido quando nos sentimos dispostos, mas sim uma pressão ininterrupta e firme da nossa vontade.”

Recordemos também que a última pessoa a julgar os resultados do seu trabalho é o próprio aluno. O objetivo que fixou para si próprio é tão maravilhoso que ele tem muito mais tendência a perder coragem do que a mostrar-se satisfeito. A única coisa prudente que tem a fazer é, de uma vez para sempre, tirar da mente todo pensamento de resultados finais e seus efeitos fenomenais, e simplesmente seguir as regras antigas. Isto deve ser feito sem darmos constantes puxões nas próprias raízes para ver como estão a crescer. Os que nos rodeiam saberão segura e verdadeiramente dos nossos progressos, pelo aumento de nossa competência, do nosso autodomínio, da nossa estabilidade e da nossa capacidade de servir. Julgamos ser prudente avaliar o desenvolvimento de um aluno de meditação pela extensão do seu campo de serviço e por aquilo que os seus amigos dizem dele, do que pelos seus próprios relatórios. A nossa tarefa é caminhar firmemente para diante, realizando a tarefa solicitada "sem apego”, como a denomina o aspirante hindu.

Para obter sucesso, é preciso um desejo sincero e persistente, uma visão precisa do valor dos resultados, uma compreensão de que o objetivo pode ser alcançado e um conhecimento exato da técnica do método. Isto, juntamente com uma pressão incessante da vontade, é tudo de que se necessita, e isto é possível para cada leitor deste livro.

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1 Beard, Charles A., Whither Mankind, p.41.
2 Müller, Max, Theosophy or Phychological Religion, p.284.
3 Bailey, Alice A., A Luz da Alma, pp.229, 230.
4 Comfort, Will Levington, Letters.
5 Ibid, Letters.
6 Comfort, Will Levíngton, Letters.

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